Memórias

‘Incômodas verdades’, diz Obama sobre EUA e ditaduras latinas

Em visita à Argentina, que está relembrando 40 anos de golpe civil-militar, presidente norte-americano diz que seu país está refletindo a respeito de ações no continente durante os anos 1970

télam/reprodução

Obama destacou a abertura, em 2002, de arquivos militares e de inteligência

São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, referiu-se a “incômodas verdades” ao comentar a política norte-americana na América Latina durante os anos 1970, evitando estabelecer uma relação direta entre as ações realizadas em diversos países. As declarações foram feitas durante entrevista coletiva ao lado do presidente da Argentina, Mauricio Macri, após visita a um memorial onde se recordam os 30 mil desaparecidos políticos durante a ditadura civil-militar naquele país, que está completando 40 anos. As informações são do jornal argentina Página/12.

“Sei que existem polêmicas sobre as políticas dos Estados Unidos nestes dias escuros. As democracias devem ter a coragem de reconhecer quando não se está à altura dos ideais que defendemos, quando demoramos a defender os direitos humanos. Este foi o caso da Argentina”, disse Obama. De acordo com o periódico, os dois mandatários falaram sobre a abertura (desclassificação) de arquivos que tratam da relação entre Washington e o golpe de 1976, mas evitaram fazer essa relação.

As polêmicas a respeito da ação norte-americana e as ditaduras latino-americanas são assuntos sobre os quais “os Estados Unidos estão trabalhando e analisando”, afirmou Obama, mas acrescentando que “foram os princípios norte-americanos que documentaram muitas das violações” ocorridas durante aqueles anos. “É fundamental que avancemos”, declarou, lembrando que representantes de seus país “lutaram ao lado dos argentinos” que denunciaram “abusos” aos direitos humanos. Ele citou diplomatas, jornalistas e o ex-presidente Jimmy Carter.

Obama destacou a abertura, em 2002, de “arquivos militares e de inteligência”, e uma nova leva recente autorizada depois de pedido de Macri. O Página/12 observa que, na verdade, “foram organismos de direitos humanos que seguidamente fizeram esse pedido a sucessivas administrações da Casa Branca”.

“Temos a responsabilidade de enfrentar o passado com honestidade. Não podemos esquecer o passado. No entanto, quando temos a coragem de enfrentá-lo é quando temos a coragem de mudá-lo”, emendou Obama, acrescentando que seu país “seguirá sendo parceiro no esforço” das famílias “que lutam pelo ‘nunca mais'”.

Macri afirmou que o 24 de março é “uma oportunidade maravilhosa para que nós argentinos gritemos ‘nunca mais’ à violência política e institucional”.

Venezuela

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou Obama de dirigir uma “estratégia imperial” com a intenção de voltar a dominar os países da América Latina e do Caribe. Segundo ele, essa estratégia passa pela tentativa de “derrubar” governos, citando o caso do Brasil, ou pedir mudanças em outros países, como a Venezuela.

“Que fazer? Nos ‘fazemos a loucos’ (expressão venezuelana que quer dizer que alguém faz de conta que não percebe o que acontece)? Desconhecemos que há uma estratégia imperial para reconquistar a América Latina e o Caribe”, questionou Nicolás Maduro, ao falar no final de um Conselho de Ministros, em Caracas, segundo relatou a Agência Lusa.

Com informações do Página/12 e da Agência Lusa