América do Sul

Posição de Macri sobre direitos humanos na Venezuela provoca polêmica no Mercosul

Presidente argentino pediu libertação de ‘presos políticos’ no país caribenho; chanceler venezuelana disse que declarações são ingerencistas

Reprodução/CNN

Macri pediu prudência à oposição, para conseguir uma verdadeira cultura democrática

Opera Mundi – Durante a 49ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, o recém-eleito presidente da Argentina, Mauricio Macri, utilizou seu discurso para pedir que o governo venezuelano liberte o que ele classificou como “presos políticos” no país. O chamado, no entanto, não encontrou eco entre os outros mandatários do bloco e foi rechaçado pela chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não compareceu à reunião realizada ontem (21), no Paraguai, e esteve representado por Rodríguez, que acusou Macri de ingerência na política interna do país caribenho.

Isso porque Macri pediu “expressamente a rápida libertação dos presos políticos na Venezuela, porque nos Estados parte do Mercosul não pode ter espaço para presos por razões ideológicas, nem privação ilegítima de liberdade”.

O argentino também “pediu prudência à oposição, após as eleições, e ao governo venezuelano que trabalhemos incansavelmente para conseguir uma verdadeira cultura democrática na região que inclua a todos. Chegou a hora de pedir um pouco mais de democracia: no século 20 superamos as ditaduras e dissemos ‘nunca mais’ aos governos militares, o século 21 nos exige audácia e compromisso por uma democracia participativa e inclusiva”.

A demanda não encontrou eco entre os demais mandatários da reunião: Dilma Rousseff, Brasil; Horacio Cartes, Paraguai; Tabaré Vázquez, Uruguai; Bolívia, Evo Morales; Chile, Michelle Bachelet e o primeiro-ministro da Guiana, Moses Veerasammy Nagamootoo.

Dilma, inclusive, ressaltou o processo democrático na Argentina e Venezuela, países que recentemente celebraram eleições presidenciais e legislativas, respectivamente: “quero ressaltar a capacidade da América Latina de conduzir suas diferenças. Dois claros exemplos disso são as eleições em Argentina e Venezuela, que demonstraram a capacidade regional de encaminhar suas divergências pelas vias pacíficas e o respeito às vontades populares”, afirmou.

A diplomacia brasileira, por sua vez, conseguiu que o documento final não tivesse nenhuma referência ao governo venezuelano, como reporta o jornal Página/12 desta terça-feira (22/12). O documento fala apenas que os Estados que ainda não o fizeram, devem aderir ao Protocolo de Direitos Humanos do Mercosul o mais rápido possível, como é o caso da Venezuela.

Dupla moral

Logo após a exposição de Macri, a chanceler venezuelana o lembrou de que ela estava ali representando Maduro e que as palavras do mandatário constituem ingerência nos assuntos da Venezuela. Com fotografias dos protestos violentos realizados no ano passado e que provocaram a morte de 43 pessoas, entre civis e policiais, Rodríguez esclareceu que os políticos que estão detidos têm vinculações com esses atos: “o senhor está defendendo esta pessoa. Está defendendo este tipo de manifestação, esta violência política”, ressaltou.

Ainda sobre a questão, defendeu que “se vamos falar de direitos humanos de forma pacífica, como pediu Macri,  temos que fazê-lo sem dupla moral. Não podemos defender os violentos que provocam ações terroristas e criminalizar os protestos sociais”. Ela destacou também que a Venezuela é “exemplo de direitos humanos no mundo, não existe hoje em outro país a quantidade e programas sociais que tem a nação”.

Polêmicas

As declarações de Rodríguez não foram bem recebidas na Argentina. Isso porque ela disse entender “que o presidente Macri queira pedir a liberdade para esses violentos (detidos na Venezuela). Entendo porque um dos seus primeiros anúncios foi libertar os responsáveis pelas torturas, desaparecimentos e assassinatos durante a ditadura argentina”.

Mas, Macri não fez nenhum anúncio neste sentido, o que provocou críticas à chanceler em diversos meios de comunicação argentinos.

A resposta à chanceler foi dada por sua colega argentina, Susana Malcorra. Segundo ela, Macri “escutou (a fala de Rodríguez) com preocupação pela desinformação do conteúdo da resposta. (…) Negamos tudo o que foi dito com relação a decretos que atentem contra a liberdade e os direitos humanos; não é assim e o presidente decidiu que não é necessária uma resposta”, concluiu.