Inimigo, pode?

Merkel diz a Obama que ‘espionar os amigos é totalmente inaceitável’

Chanceler diz que Estados Unidos e Alemanha têm interesses comuns e, por isso, a relação deve se basear na confiança

Julien Warnand Am/EFE

Merkel cobrou que a relação entre Estados Unidos e Alemanha recupere a confiança perdida

São Paulo – A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, criticou hoje (24) os Estados Unidos pela denúncia de espionagem de comunicação pessoal dela. “Desde que (em junho) falamos sobre a Agência Nacional de Segurança americana (NSA), deixei claro ao presidente Obama: espionar os amigos é totalmente inaceitável”, declarou Merkel em sua chegada à Cúpula da União Europeia (UE) em Bruxelas.

“Eu disse a ele em junho, quando esteve em Berlim, em julho e também ontem em uma ligação telefônica”, ressaltou Merkel. O governo dela tem informações que indicam que os serviços secretos norte-americanos espionaram o telefone celular da chanceler. “EUA e Europa enfrentam desafios comuns; somos aliados, mas tal aliança só pode basear-se na confiança”, acrescentou.

Merkel destacou que se trata de defender todos os direitos de todos os cidadãos alemães e não apenas os dela, uma vez que tem a responsabilidade, como chanceler, de evitar que agências de inteligência interceptem dados ou ligações de “amigos”.

Neste sentido, ela disse que cabe “refletir que acordo de proteção de dados e de transparência necessitamos”. “Precisamos de confiança entre aliados e parceiros, e essa confiança agora tem que ser recuperada de novo”, comentou.

Em Bruxelas, vários líderes de países da União Europeia expressaram a preocupação pela suposta espionagem aos governos e cidadãos europeus. “Não podemos tolerar a dúvida”, disse o primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, para quem é necessário que o Conselho Europeu aborde a questão da proteção de dados, pois não pode parecer um assunto “secundário”.

Letta disse que a Europa deve fazer “todas as verificações” e obter “toda a verdade sobre este tema”. “Não é concebível e nem aceitável que haja uma espionagem deste tipo, portanto, a verificação da atenção e da proteção de dados tem que ser feita ao máximo nível”, disse o dirigente italiano em declarações aos jornalistas.
Enquanto isso, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, considerou que se for confirmada a espionagem à Merkel, se trataria de “algo inaceitável” e que suporia “sérios problemas”. “Devemos esperar os resultados da investigação da UE e tomar medidas mais para frente”, disse.

Seu colega belga, Elio di Rupo, assegurou que os líderes da UE têm de tomar “medidas europeias”. “Não podemos aceitar esta espionagem sistemática e será necessário tomar medidas”, assinalou De Rupo, que disse que “será preciso canalizar um mecanismo para tomar medidas e depois encontrar uma colaboração entre um certo número de países para combater o terrorismo e os atos de violência”. O primeiro-ministro disse, além disso, que a Bélgica continua com as investigações sobre a espionagem sofrida pela Belgacom, sua principal companhia de telecomunicações.

Também o vice-chanceler austríaco, Michael Spindelegger, disse que a relação de confiança entre Estados Unidos e a UE ficou abalada e ao mesmo tempo considerou “imperativo” abrir uma investigação sobre o ocorrido.