Solução é o diálogo

Dilma repudia intervenção militar na Síria e defende mais poder a emergentes

Para presidenta, o Conselho de Segurança da ONU e o FMI precisam de reformas em favor do multilateralismo das decisões

Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma referiu-se ao conflito na Síria como ‘maior desastre humanitário do século’

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff defendeu a negociação como único caminho para resolução o conflito na Síria. No discurso de abertura da 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas, hoje (24), em Nova York, Dilma cobrou o fortalecimento do multilateralismo entre os países, com a reforma do Conselho de Segurança da ONU e do Fundo Monetário Internacional para incluir países emergentes e em desenvolvimento.

Dilma referiu-se ao conflito de dois anos e meio na Síria como “o maior desastre humanitário deste século”.

“É preciso impedir a morte de inocentes, crianças, mulheres e idosos. É preciso calar a voz das armas – convencionais ou químicas, do governo ou dos rebeldes. Não há saída militar. A única solução é a negociação, o diálogo, o entendimento”, disse.

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A presidenta apoiou o acordo obtido entre os Estados Unidos e a Rússia para a eliminação das armas químicas na Síria e disse que cabe ao governo de Bashar Assad cumpri-lo integralmente. No entanto, reforçou o repúdio do governo brasileiro em qualquer hipótese a intervenções unilaterais, “ao arrepio” do Conselho de Segurança da ONU, que só agravariam o conflito e aumentariam o sofrimento humano.

“A história do século XX mostra que o abandono do multilateralismo é o prelúdio de guerras, com seu rastro de miséria humana e devastação. Mostra também que a promoção do multilateralismo rende frutos nos planos ético, político e institucional”, disse.

Nesse sentido, Dilma defendeu a reforma urgente do Conselho de Segurança da ONU, afirmando que chegar a 2015 sem essa mudança seria uma “derrota coletiva”. Para Dilma, a dificuldade do órgão em oferecer soluções para o caso sírio e a paralisia no caso Israel-Paletina são exemplos de falta de legitimidade.

“Urge dotar o Conselho de vozes independentes e construtivas, com a ampliação dos membros permanentes e não permanentes. A inclusão dos países em desenvolvimento sanará o atual déficit de legitimidade do Conselho”, defendeu.

Ela também cobrou a reforma do FMI, que deve “refletir o peso dos emergentes e dos países em desenvolvimento na economia mundial”. Segundo Dilma, a demora na reforma reduz a eficácia e a legitimidade da instituição.

No mesmo barco

A presidenta chamou a atenção para a importância do tema da reunião, que destaca a agenda Pós-2015 para superação da miséria e da fome. Segundo ela, o caminho deve ser as resoluções da Rio +20, que colocou a pobreza no centro da agenda do desenvolvimento sustentável.

“A pobreza não é um problema exclusivo dos países em desenvolvimento e a proteção ambiental não é um tema para depois de superar a pobreza. A agenda pós-2015 é construir um mundo em que seja possível crescer, incluir e proteger”, afirmou.

Dilma listou resultados positivos do Brasil no combate à desigualdade na última década, com os programas como Bolsa Família e Brasil Sem Miséria, investimentos em educação e outros. “Criamos imenso contingente de cidadãos com melhores condições de vida, acesso a informação e consciência de seus direitos. Com isso, criamos novos desejos e novas demandas.”

Segundo Dilma, as manifestações de junho no Brasil são “parte indissociável da construção da democracia” no Brasil.

“Os manifestantes não pediram a volta do passado, mas o avanço para um futuro de mais direitos, mais participação e conquistas sociais. Nessa década houve maior redução de desigualdade, criamos um sistema de proteção social que praticamente superou a extrema pobreza. Mas sabemos que democracia gera mais desejo de democracia. Todos os avanços são sempre só o começo”, disse, lembrando os cinco pactos que propôs após as manifestações.

Dilma cobrou uma ação coordenada para superar os efeitos da crise econômica mundial, que levou a um número de mais de 200 milhões de desempregados no mundo segundo a OIT.

“É o momento adequado para reforçar tendências de crescimento da economia mundial, que estão dando sinais de recuperação. Os países emergentes não podem sozinhos garantir crescimento mundial. É preciso coordenação para recuperar o comércio mundial. Estamos todos no mesmo barco”, disse a presidenta.