Pinto Molina

Dilma garante a Evo Morales que desconhecia plano de fuga de senador

Chanceler Figueiredo afirma que relações entre Brasil e Bolívia não serão afetadas por episódio. Durante encontro, diplomata esclarece que decisão sobre extradição de Pinto Molina caberá ao STF

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Morales, que entregou presente a Dilma no Suriname, considera que há uma ‘linda’ história entre as nações

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff garantiu hoje (30) ao boliviano Evo Morales que seu governo desconhecia o plano de fuga do senador Roger Pinto Molina, que abandonou na última semana a embaixada do Brasil em La Paz e cruzou a fronteira por Corumbá, no Mato Grosso do Sul, para em seguida viajar a Brasília.

Os dois presidentes tiveram uma reunião, com duração de pouco mais de uma hora, em Suriname, durante a 7ª Cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul). “A presidenta Dilma mostrou ao presidente Evo seu repúdio pelo episódio de saída do senador Pinto da Bolívia”, afirmou o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, durante entrevista coletiva concedida após o encontro.

“O episódio do senador não alterará as relações do Brasil com a Bolívia”, acrescentou o novo ministro de Relações Exteriores, que substituiu esta semana Antonio Patriota, demitido justamente por conta do episódio de Pinto Molina. Figueiredo esclareceu ainda que caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se extradita ou não o parlamentar, desde que a chancelaria boliviana apresente formalmente uma solicitação neste sentido.

O senador estava abrigado no edifício diplomático brasileiro na capital boliviana desde maio de 2012, quando recebeu asilo político do Itamaraty devido à alegação de que era um perseguido político. No último fim de semana, em carro oficial, Pinto Molina deixou a embaixada em direção à fronteira brasileira acompanhado do diplomata Eduardo Saboia, em uma viagem de 22 horas que foi repudiada por Dilma.

Saboia, que alegou se tratar de questão humanitária, agora responde a sindicância interna do ministério e pode sofrer punições pelo caso. Ele chegou a comparar a embaixada ao DOI-Codi, órgão de tortura que operou durante a ditadura (1964-85), o que irritou a presidenta, que durante a semana rechaçou a comparação.

Antes de se encontrar com Dilma, Morales atenuou os efeitos que a fuga do senador podem ter nas relações diplomáticas com o Brasil. “No governo de Lula tantos problemas resolvemos, e vamos buscar este caminho”, disse durante entrevista coletiva na qual afirmou ainda que há uma “linda experiência de gestão” entre Brasil e Bolívia.

Ele quer que Pinto Molina volte à Bolívia para que responda a duas dezenas de processos por corrupção, associação ao narcotráfico e participação em um massacre de camponeses em 2008 no departamento de Pando, que já governou. “Não é perseguido político. É um delinquente que tem muita dívida na Bolívia, em seu departamento, os processos por casos de corrupção não foram começados pelo governo, mas por gente habilitada, tem quatro mandatos e uma sentença”, disse. Ele acrescentou ser importante que todos os países do mundo contribuam com a luta contra a corrupção, afirmando que ninguém pode “encobrir” desvios.

Também hoje o Senado boliviano emitiu nota de repúdio às manifestações do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que disse na quinta-feira que a Bolívia é uma “ditadura disfarçada”. Para os senadores, o parlamentar se referiu “de forma pejorativa à forma democrática que vive a Bolívia, com alusões ofensivas”.

“As declarações de Ricardo Ferraço contra a democracia boliviana são inutilmente agressivas, incoerentes em relação aos princípios democráticos universais, ofensivas da dignidade da Bolívia e sua forma de governo democrática, participativa, representativa e comunitária”, acrescenta a nota.

O documento da câmara alta boliviana será enviado ao Senado do Brasil para que essa instância “tenha constância da moléstia, do repúdio e da rejeição às declarações do senador brasileiro”.

Ferraço, que colaborou na saída do senador opositor boliviano Roger Pinto rumo ao Brasil, declarou na quinta-feira que o governo da Bolívia “tem a justiça em suas mãos” e que o país vive “uma ditadura disfarçada”.