Espanhóis protestam contra corrupção e pedem renúncia do presidente

Escândalo de pagamento de propinas atinge cúpula do partido conservador que governa o país

Manifestantes se reúnem em praça de Barcelona (Foto: Rafael Duque/Opera Mundi)

Barcelona – Pelo segundo dia seguido, manifestações contra o caso de corrupção que envolve a alta cúpula do PP (Partido Popular) ocorreram em diferentes cidades da Espanha. Ontem (1), Barcelona foi o palco da maior delas. Os manifestantes se reuniram na Praça Catalunha, centro da cidade, e se dirigiram à sede do governo regional. Durante o trajeto, os espanhóis pediram a renúncia do presidente do governo, Mariano Rajoy, um dos implicados no escândalo de corrupção.

O público presente no protesto era composto em grande parte por jovens e idosos que se diziam indignados com o financiamento ilegal do partido governista. “Meu sentimento é de raiva. Eu penso que temos que lutar para conseguir que o governo renuncie e que se faça uma mudança na Constituição”, afirmou a Opera Mundi o aposentado Alfonso Romero. Na última quinta-feira (31), dia da publicação da denúncia pelo jornal El País, cerca de 1,5 mil pessoas se reuniram em frente à sede do PP em Madri para protestar contra o partido.

Além das manifestações na rua, mais de 500 mil pessoas assinaram uma petição on-line pedindo a renúncia de Rajoy. A marca foi alcançada em menos de 24 horas e tem como meta atingir um milhão de assinaturas. Pablo Gallego, promotor do abaixo-assinado, pretende levar a petição à sede do PP em Madri hoje (2), durante reunião de emergência convocada pelo presidente do governo para discutir o caso.

Além das denúncias reveladas na quinta-feira, outro nome de grande peso do atual governo foi implicado ontem em um caso de corrupção. A ministra da Saúde, Ana Mato, e o seu marido, Jesús Sepúlveda, ex-prefeito de uma cidade na província de Madri, foram acusados pelo juiz Pablo Ruz de envolvimento no caso Gürtel, rede de corrupção vinculada a altos funcionários do PP que afetou políticos das comunidades de Valência, Madri e Castilha e León.

Segundo o informe divulgado pelo juiz, o casal recebeu dinheiro, passagens de avião e artigos de luxo de empresas e indivíduos que participavam da trama.

As diversas denúncias de corrupção levaram dois políticos a deixarem o partido nesta sexta-feira. Eduardo Junquera, do PP da região de Astúrias, e David Pasarin-Gegunde, do PP basco, anunciaram em coletivas de imprensa que iriam abandonar a legenda.

Contas na Suíça

Os documentos divulgados pelo El País seriam de Luis Bárcenas, ex-tesoureiro e ex-senador pelo PP. Ele manteve até 2009 uma conta na Suíça que, entre os anos de 2005 e 2009, teve um saldo médio de 15 milhões de euros. Segundo o juiz espanhol Pablo Ruz, a conta alcançou 22 milhões de euros em 2007.

O ex-tesoureiro regularizou no ano passado 10 milhões de euros provenientes de suas contas na Suíça. O advogado de Bárcenas afirmou no dia 18 de janeiro que o político aproveitou o período de anistia fiscal aprovada pelo governo Rajoy. O indulto fiscal vigorou entre 31 de março e 30 de novembro de 2012 e permitia que os espanhóis legalizassem os seus bens ocultos ao fisco pagando 10% ao Estado, quantidade que representa menos da metade dos impostos que deveriam pagar pelo processo regular.