Esquerda alemã abre corrida eleitoral propondo taxar grandes fortunas

São Paulo – A exemplo da medida adotada pelo Partido Socialista francês, e de uma tentativa frustrada dos liberais democratas britânicos, o partido alemão A Esquerda (Die Linke) prepara sua […]

São Paulo – A exemplo da medida adotada pelo Partido Socialista francês, e de uma tentativa frustrada dos liberais democratas britânicos, o partido alemão A Esquerda (Die Linke) prepara sua plataforma para a eleição federal alemã, que acontece em setembro, com a proposta de taxar grandes fortunas. A alíquota seria de 75% para rendimentos anuais acima de um milhão de euros.

O atual regime de taxação alemão para pessoa física é progressivo, baseado no nível dos rendimentos. As alíquotas variam de 14% a 45%. O teto é aplicado para indivíduos que recebem acima de 250 mil euros anuais (cerca de R$ 675 mil), ou casais com renda conjunta acima de 500 mil euros por ano (ou R$ 1,35 milhão).

O partido ainda não detalhou todo seu plano de reforma fiscal, mas os contornos são semelhantes aos que levaram o ator francês Gerard Depardieu a deixar a França e buscar cidadania russa, assim como fez o bilionário francês Bernard Arnault, presidente da Louis Vuitton, que encontrou refúgio fiscal na Bélgica. Ambos tornaram-se símbolo da taxa de 75% sobre grandes fortunas aplicada pelo atual presidente francês, François Hollande.

“Queremos iniciar uma discussão sobre quanta desigualdade uma sociedade é capaz de tolerar. Queremos uma campanha que fale sobre como a sociedade está à deriva”, disse em nota a presidente do A Esquerda, Katja Kipping (foto à esquerda).

“Queremos que empresas limitem os salários de seus executivos. É inaceitável que encarregadas pela limpeza ganhem menos de mil euros enquanto um gerente ganha mais de um milhão por ano”, continuou.

Na última eleição federal alemã, em 2009, A Esquerda conseguiu 11,9% dos votos (ou 5,1 milhões de eleitores) e obteve 76 das 622 cadeiras no Bundestag, o Parlamento alemão. Foi seu melhor resultado desde o início das eleições unificadas no país. A proposta de taxação de 75%, que causou polêmica em outros países, tem força para definir o sucesso ou fracasso eleitoral do partido nas eleições deste ano.

A União Democrata-Cristã (CDU), de centro-direita, e o Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, siglas historicamente mais votadas nas eleições alemãs, ainda estão longe de apresentar suas propostas fiscais. Mas o cenário econômico na Alemanha pode motivar iniciativas semelhantes.

Panorama

Apesar de pouco atingida pela crise e demonstrando resultados sólidos, a economia alemã ultrapassou pela primeira vez em dois anos a marca de 3 milhões de desempregados, para uma taxa de 7,4%. Mesmo que os números tenham sido considerados “sazonais” pelas agências oficiais de estatística alemãs, A Esquerda acredita que a crise europeia atingiu o mercado de trabalho local.

No Reino Unido em recessão, sob a “era da austeridade” adotada pelo premiê conservador David Cameron”, uma proposta de taxar grandes fortunas, ventilada pelos parceiros de coalizão liberais democratas, foi barrada de bate-pronto no ano passado. O líder do partido e vice-premiê, Nick Clegg, queria um imposto por “tempo limitado”, com duração de cerca de um ano. Os conservadores rechaçaram a proposta.