Condomínio Solar Jureia, o edifício de Itariri

Prédio de 30 metros de altura existe há mais de dez anos e ainda não está acabado

Quem chega a Itariri logo vê a estrutura de concreto armado, nas cores azul e branco, que destoa do verde dominante da Mata Atlântica e das pequenas casas térreas da cidade. Um tanto deteriorado pelas intempéries, o Condomínio Solar Jureia, único edifício da cidade, é um prédio de 11 andares, na Rua João Alves, 128, no bairro Cooperativa. Começou a ser construído em 1997 e ainda não está acabado. Hoje são aproximadamente 230 moradores entre proprietários e locatários. Com perfil de classe média, lá vivem funcionários públicos, comerciantes, comerciários, profissionais liberais, aposentados. Há, ainda, figuras ilustres da política municipal como o ex-prefeito Dinamérico Gonçalves Peroni.

Primeiro morador é síndico

Adélson Pereira (Foto: Enio Lourenço)Em 1997, Adélson Pereira de Carvalho, de 62 anos, se aposentou e voltou de Santos, onde viveu toda a carreira profissional como estivador no porto. A construção do primeiro edifício de Itariri chamou a atenção do aposentado e o fez visitar as obras. Ao conhecer o apartamento decorado em exposição, ele não titubeou: “Eu não tive dúvidas e adquiri o apartamento exposto por R$ 65 mil. Hoje ele vale R$ 120 mil. No dia 7 de setembro de 2000, minha esposa, meu filho e eu nos mudamos para cá”. O apartamento 37, no 3º andar, de 97 m², é o refúgio da família Carvalho. Adélson destaca a convivência harmoniosa entre os condôminos como uma qualidade do lugar. “Aqui todo mundo se respeita, temos regulamentos, fazemos reuniões (antes mais do que hoje).” A esposa, Maria Lúcia de Souza Carvalho, a dona Lucinha, de 63 anos, complementa: “Eu fecho a porta e pronto, acabou. É cada um na sua, não tem som alto ligado à noite como em outros prédios. Aqui é muita paz”.

Seis anos depois de sua chegada, o pioneiro Adélson foi eleito síndico do Solar Jureia. Ele fala com orgulho da posição que ocupa. “A turma sabe que eu sou aposentado e quer que eu continue na função. Eu sou o síndico do prédio desde o dia 20 de março de 2006.” Já dona Lucinha parece não se contentar muito com o trabalho voluntário do marido: “Todos os problemas sempre sobram para ele. É o elevador quebrado, as contas dos inquilinos ou do condomínio. Ele não ganha nada para fazer esse trabalho”.

O começo de tudo

Maximiliano foi o responsável pela construção (Foto: Enio Lourenço)

O responsável pelo empreendimento imobiliário foi o construtor espanhol Maximiliano Ortega, morto em setembro de 2012, aos 86 anos. O engenheiro viveu a terceira idade em Itariri. Nos últimos nove anos, a enfermeira Conceição Aparecida Sampaio, de 40 anos, foi a pessoa com quem ele conviveu. Os dois se conheceram na época em que ela trabalhava numa clínica de Peruíbe e fez um curativo na perna de Ortega. “Pegamos afinidade e ele me pediu para eu ser a sua enfermeira particular. Ele me ajudaria a criar as minhas duas filhas enquanto eu cuidasse dele.” Conceição lamenta a morte do engenheiro, mas ressalta com orgulho a determinação do companheiro – como ela o trata – estrangeiro. Ele começou a trabalhar na construção civil como pedreiro, aos 17 anos, na Espanha, após perder o pai e a mãe. Estudou engenharia em Madrid, veio ao Brasil e construiu muito em São Paulo, onde vivia. Em Peruíbe ele ergueu cinco prédios. Por curtir a natureza, veio a Itariri. E ficou. “Ele dizia que daqui de cima” – da cobertura dúplex onde ambos viviam, cada um no seu apartamento, no 10º andar –, “o ar era mais puro, que se sentia bem em ver as áreas verdes, comentava sobre a camada de ozônio, os benefícios em não viver no meio da poluição.”

O espanhol também avistou o potencial de desenvolvimento econômico do município, aliado às riquezas naturais, motivado pela criação do Mercosul, na década de 1990. “Ele comentava que a região iria crescer muito devido à Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, que serviria como alça de acesso para outros países sul-americanos, pois faz a ligação com a Rodovia Régis Bittencourt, que leva ao Estado do Paraná. Por isso, ele dizia para eu nunca vender o meu apartamento, porque iria valorizar muito” – conta Conceição.

Piscina sem água

Piscinas não funcionam (Foto: Enio Lourenço)

Os moradores do Condomínio Solar Jureia pagam uma taxa de manutenção do imóvel de R$ 180, para os apartamentos de dois dormitórios, e R$ 150, para os apartamentos de um dormitório. Os condôminos mantêm uma faxineira com registro em carteira de trabalho. O prédio dispõe de 70 apartamentos, 90 vagas de garagem, duas piscinas, uma quadra de futsal, dois salões de festas – um se tornou bicicletário –, um salão de jogos, uma sauna, uma sala de ginástica e três churrasqueiras. Alguns dos espaços de entretenimento e lazer nunca foram utilizados ou finalizados. É o caso da sauna, da sala de ginástica e do salão de jogos, que não possuem equipamentos.

Outras áreas apresentam danos e revelam ausência de manutenção nesses 13 anos. Na quadra de futsal, por exemplo, há muitas rachaduras no piso e faltam as traves. As duas piscinas, também, nunca foram utilizadas. “A maior reclamação dos moradores é para que a construtora termine as obras, principalmente nas áreas de lazer. Nunca enchemos as piscinas porque falta terminar a cobertura do prédio. Sem ela, a parte térrea enche de sujeira” – diz o síndico Adélson.

Tudo pela segurança

O crônico medo da classe média também está presente na vida dos habitantes do Condomínio Solar Jureia. Todos eles, perguntados sobre por que morar em prédio numa cidade tão pequena, respondem: “pela segurança”.

O fiscal do supermercado Extra, Alex Pereira Lima de Carvalho, de 24 anos, morava numa quitinete no bairro Raposo Tavares e há sete meses veio com a esposa viver no edifício. O casal aluga um apartamento no 4º andar, por R$ 430, e não esconde o motivo da mudança. “A gente passa muito tempo fora de casa, trabalhando. Por isso, é mais seguro e tranquilo morar em apartamento” – diz Alex. O fiscal conta que eles gostam de sair à noite e se sentem mais protegidos.

O jornalista Ari Gonçalves, 40 anos, veio há pouco mais de um ano do bairro Tobias com os três filhos (duas meninas de 14 e 13 anos e um menino de sete anos). Ele explica: “Viemos pela segurança. No prédio, meus filhos brincam com tranquilidade. A convivência é boa. Aqui é uma família”. O monitoramento do residencial é feito por câmeras e permite o acesso às imagens a todos os apartamentos em tempo real. Dona Lucinha comemora: “Graças a Deus nunca ocorreu violência por aqui. E se você for ver, tem muitas casas sendo assaltadas”. A enfermeira Conceição revela: “Às vezes, tenho vontade de morar em uma casa térrea, mas aí vou ter que arrumar cachorro para cuidar da casa”.