Apesar das mudanças no Odécio Degan, o medo persiste

Desafio das autoridades é combater a violência no lugar; da comunidade viver em paz

Ruas vazias são reflexo do medo e insegurança da população que sofreu durante anos com a violência do bairro (Foto: Lauany Rosa)

Desde 22 de fevereiro, o bairro Odécio Degan passa por mudanças, por meio do projeto Este Bairro é Meu. O local, considerado um dos mais perigosos da cidade e que era comandado por traficantes, passou por uma ação de revitalização do poder público. Cerca de 240 pessoas, de 12 secretarias municipais, participaram da ação que contou com a ajuda da Guarda Municipal, da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Conselho Tutelar. Foram efetuados dois flagrantes de tráfico de drogas e apreendidas 32 pedras de crack, três trouxinhas de maconha e um quilo de cocaína. Um suposto líder do tráfico no bairro foi preso. Além disso, houve limpeza e pintura dos ambientes públicos de cultura, de esporte e da ação social. As calçadas, antes ocupadas por lixo e entulho, estão limpas e as guias pintadas, assim como os muros das escolas, que ganharam reproduções de desenhos dos alunos. O centro comunitário e as praças do bairro estão reformados. Uma antiga moradora, que não se identificou, garante que as coisas melhoraram, mas o medo continua. “A gente não sabe até quando a paz vai durar; os bandidos não estão gostando nada disso.”

Pelas ruas do bairro não se veem crianças brincando nem gente sentada na porta de casa. Todos vivem trancados por trás de portões e muros altos. A praça e a quadra vazias refletem o medo dos moradores. Nem a presença de viaturas de polícia alivia o sentimento de insegurança. Mas os sons que vêm do Centro Comunitário demonstram que há esperança. Os jovens repetem com gritos o comando do professor de tae kwon do. A sala cheia mostra o interesse pelo esporte. Uma voluntária, que trabalha lá há cinco anos, explica que o local não atende à demanda e que há uma lista de nomes aguardando a abertura de uma nova turma. “O lugar está calmo, mas aqui é um barril de pólvora, que pode explodir a qualquer momento. Vivemos uma paz vigiada.”

Revitalização no Odécio Degan (Fotos: Lauany Rosa e divulgação)

Os idosos que conversam no corredor do Centro Comunitário fazem parte do Grupo Fé e Alegria, que ocupava esse espaço e, por causa da violência, mudou seus encontros para a igreja São Marcos, no Jardim Aeroporto. Dona Albertina, sua filha Neusa e a dona Rosa fazem parte desse grupo desde a fundação e têm esperança de voltar a utilizar o Centro Comunitário e retomar suas atividades – dançar, fazer ginástica, jogar bingo e conversar. Ao terem de se mudar para a igreja, algumas atividades – como jogar ou ter aulas – pararam. Agora, elas revisitam o Centro Comunitário para avaliar se é seguro voltar ao local. E, ao constatarem as mudanças, fazem planos. Dona Rosa da Luz, de 69 anos, gostaria de ter aulas de música: “Fiquei tão animada que comprei uma sanfona para tocar, agora só falta aprender”. A pensionista Albertina Elvira, 67 anos, não vê a hora de o grupo voltar para o espaço: “Chega de ficar como formiguinha com a folha na cabeça, temos de nos fixar num lugar”. Animadas com a chance de retomarem as aulas de dança, elas se juntam e dançam ao som de Gangnam Style, do cantor chinês Psy.

Embora o clima seja de otimismo, ainda há tensão. Durante o tempo em que o jornal Brasil Atual esteve no local, guardas municipais e policiais militares reforçavam a segurança. Em voz baixa, uma voluntária avisa que é melhor esperar um pouco antes de a gente ir embora. “Há ameaça de ataque” – diz. Meia hora depois, viu-se que o alarme era falso. Porém, no dia seguinte, os jornais da cidade noticiaram que, naquela tarde, parte da Avenida Antônio de Luna fora fechada, “depois que agentes da guarda municipal localizaram quatro coquetéis molotov no canteiro central da Rua Antônio Conselheiro, no Jardim Ernesto Kühl. Durante a madrugada, outros quatro artefatos parecidos foram atirados nas proximidades da base, responsável por parte da segurança do Odécio Degan.