Catar 2022

Álbum antirracista mostra histórias de jogadores da Copa que foram vítimas de ofensas raciais

Iniciativa apresenta detalhes das carreiras de 62 atletas de diferentes seleções que participam do Mundial

Divulgação
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Alex Sandro foi alvo de gritos racistas de torcedores do Cagliari, em partida do italiano

Brasil de Fato – Um dos assuntos mais comentados em ano de Copa do Mundo, o álbum de figurinhas fez sucesso mais uma vez em 2022. Enquanto a versão oficial conquista crianças e adultos de todas as partes do planeta, uma iniciativa brasileira aproveitou o gancho para lançar uma alternativa. O álbum antirracista é um projeto que pretende dar visibilidade às histórias de dezenas de jogadores do Mundial que já sofreram discriminação racial.

A ideia, que não tem qualquer interesse comercial, foi lançada pela Faculdade Zumbi dos Palmares, instituição sem fins lucrativos que trabalha para inclusão de pessoas negras e de baixa renda no ensino superior. O álbum reproduz algumas páginas da versão oficial, mas com uma importante diferença: as páginas foram alteradas, e permaneceram apenas os quadros relativos às figurinhas dos jogadores que foram vítimas de racismo recentemente.

O levantamento foi feito pela equipe da agência de publicidade Grey, que trabalha com a faculdade em diversos projetos. Foram encontrados casos envolvendo 62 jogadores entre os que foram escolhidos pela editora do álbum original para compor as páginas ilustrativas das seleções. Sete são brasileiros (confira ao fim do texto a lista de atletas do Brasil incluídos no projeto e alguns dos episódios que os envolveram).

As páginas trazem ainda informações sobre os feitos esportivos dos atletas listados. O professor José Vicente, reitor e diretor acadêmico da Zumbi dos Palmares, afirmou que a intenção “é mais que falar dos casos de racismo que já estão na mídia, é uma maneira de enaltecer as conquistas dos jogadores que fizeram e seguem escrevendo sua história no futebol”.

Luta diária

Neymar, por exemplo, é destaque por ter sido artilheiro em todos os países onde atuou, além de ter sido duas vezes incluído na lista dos três melhores jogadores do mundo e de ter conquistado mais de 30 títulos, incluindo o de campeão europeu.

A versão impressa do álbum antirracista foi enviado para diversas personalidades, direta ou indiretamente ligadas ao mundo do futebol. O meia Everton Ribeiro, um dos integrantes da seleção brasileira que está no Catar para o Mundial, publicou imagem da iniciativa em suas redes sociais destacando: “A luta contra o racismo é diária”. Ele viu o álbum nas redes sociais do influenciador AD Júnior.

Como o projeto é sem fins lucrativos, foram impressas poucas unidades. Apesar de muitos pedidos nas redes sociais, o álbum não será vendido. Porém, o arquivo está disponível pela internet gratuitamente. Basta clicar aqui. O mesmo site tem ainda uma petição para que a Fifa tome ações efetivas contra países onde acontecem atos racistas.

“A gente acredita muito que esse álbum tem potencial de ser algo que poucas pessoas têm, até pela dificuldade em imprimir muitas cópias, mas que mesmo assim venha a repercutir muito. Foram impressas algumas centenas de unidades. Estamos distribuindo para a imprensa, influenciadores, ativistas, para que eles possam, usando o poder e a escala que têm, fazer com que a iniciativa repercuta”, destacou João Caetano, diretor-executivo de criação da agência Grey. 

Confira alguns episódios vividos por jogadores brasileiros que foram destaque no álbum antirracista:

Alex Sandro

Em 2019, já atuando pela Juventus (Itália) ouviu gritos racistas de torcedores do Cagliari, em partida do campeonato italiano. Seus então colegas de time Moise Kean e Blaise Matuidi também foram alvo de ofensas.

Eder Militão

A influencer Karoline Lima, ex-namorada do jogador, afirmou que ouviu e leu ofensas ao casal. Ela tem pele clara. “É muita pressão, principalmente se houver diferença na cor da pele. A sociedade é podre. É velado, disfarçado. Falam coisas que eu sei que não falariam se eu tivesse me relacionando com um cara branquinho, loirinho, de olho claro”, disse, na época, em posts nas redes sociais. Eles não estão mais juntos.

Fred

O jogador do Manchester United foi vítima de ofensas nas redes sociais após uma derrota da equipe na Copa da Inglaterra em 2021. Considerado um dos responsáveis pelo resultado ruim, ele foi atacado por torcedores do próprio clube

Gabriel Jesus

Em 2020, o atacante, então no Manchester City (Inglaterra), se posicionou a favor do movimento #BlackLivesMatter (#VidasNegrasImportam), que ganhou força após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos. Na ocasião, o jogador disse que ouviu ofensas raciais “algumas vezes”.

Neymar

Jogador do Paris Saint-Germain, da França, Neymar relatou ter sofrido ofensas racistas vindas do jogador espanhol Álvaro González, então no Olympique de Marselha, em 2020. Na ocasião, ele revidou e chegou a ser expulso da partida. Na sequência, postou nas redes sociais: “temos que dar um basta”.

Richarlison

Em setembro deste ano, Richarlison comemorava um gol pela seleção brasileira em confronto com a Tunísia quando uma pessoa que estava nas arquibancadas atirou uma banana em direção a ele. O jogo aconteceu na França. Richarlison disse que não viu a agressão no momento, e afirmou estar aliviado por isso: “de cabeça quente, não sei o que poderia acontecer”.

Vinícius Junior

Um comentarista de um programa televisivo espanhol disse que Vinícius deveria “deixar de fazer macaquice” em campo. O episódio aconteceu em setembro de 2022. Um dos destaques do Real Madrid, o brasileiro costuma dançar em campo quando balança as redes. Após as ofensas, Vini recebeu apoio vindo de todas as partes do mundo. Nas redes sociais, a campanha “Baila, Vini Junior” foi um dos temas de maior destaque nas redes sociais na época. O jogador publicou um vídeo com mensagem em que agradeceu o apoio e prometeu: “não vou parar de bailar”.