NOVO ENSINO MÉDIO

‘Críticas fazem sentido, mas não vamos fantasiar com modelo anterior’

Cláudia Costin, professora e diretora do Ceipe-FGV, concorda com reclamações, especialmente em relação à infraestrutura, porém entende que pior seria retomar ao modelo anterior e vê perigo no Congresso Nacional em eventual nova proposta

(Wokandapix/Pixabay)
(Wokandapix/Pixabay)
Diante das críticas, Lula suspendeu a implantação do novo ensino médio

São Paulo – A professora Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, da Rede TVT, que as críticas de estudantes e especialistas ao chamado Novo Ensino Médio têm fundamento, especialmente a respeito da infraestrutura. Porém alertou para possíveis consequências de uma revogação. Costin foi taxativa quanto a possibilidade de se voltar ao modelo anterior – “horroroso e já provado como ruim” – e se mostrou preocupada com uma eventual de nova proposta diante do Congresso Nacional de hoje: “pode piorar”. Assista abaixo á íntegra da entrevista.

“As críticas (ao novo modelo) fazem sentido, mas não vamos fantasiar com o modelo anterior. Pelo contrário, trazia problemas adicionais. Vamos ter de respirar fundo, olhar para o Congresso que nós temos e pensar que tipo de educação o Brasil, a 13ª economia em termos de PIB, pode se desafiar para ter.” A entrevista foi ao ar na noite de sábado (8). A professora prefere o aperfeiçoamento do novo modelo elencando como pontos a melhorar a infraestrutura – “que já é péssima para o modelo atual” – e o financiamento: “Precisamos aumentar, porque um dos fatores mais importantes é a valorização dos professores. Não dá mais para os professores ensinarem em três ou quatro escolas”.

‘Horroroso’

Cláudia Costin deixou claro que, para ela, o pior caminho é o retorno ao modelo anterior, de “quatro horas de aula e 13 matérias espremidas nessas quatro horas. Muito diferente do que todos os outros países”, argumentou. “Entre os primeiros quarenta países melhores colocados no mundo, nenhum tem mais do que oito matérias e menos do que sete horas de aula por dia.” Acrescentou que o modelo não saída de 3,5 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), numa escala de 0 a 10.

Criança junto com água do banho

Se o caminho de volta é inviável, uma eventual revogação da reforma exigiria uma nova proposta. “O medo é que se jogue a criança junto com a água do banho”, diz. “O Congresso é, infelizmente, um dos piores que temos. Se revoga agora para construir uma proposta melhor, no contexto como esse, tem chance ou de voltar para o antigo, ou até piorar.” A saída, então, seria verificar o que funcionou e o que não funcionou para avançar em relação ao novo ensino médio.

Golpe e Bolsonaro

Cláudia Costin iniciou a entrevista ao Revista TVT resgatando o processo de mudança. Começou lembrando a gestão de Fernando Haddad, ministro da Educação nos governos Lula e Dilma, “percebeu que havia uma coisa profundamente errada” num ensino com 13 matérias para serem lecionadas em quatro horas. Daí, nasceu uma proposta de mudança que começou a tramitar.

“Quando o Temer assume, depois do impeachment da Dilma, ele pega essa proposta e transforma em uma medida provisória. O que é lamentável, porque educação não pode ser imposta dessa maneira”, disse. “Em seguida a aprovação, quando deveria começar a implantação, veio o governo Bolsonaro e ele não articulou com os estados, ou coordenou o esforço nacional para que a implementação acontecesse. Foi um ‘barata boa’, uma confusão. Todos os 27 estados criaram uma proposta de novo ensino médio. Era muito importante colocar um freio de arrumação”.