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Educador lamenta condução da reorganização do ensino de SP pelo governo Alckmin

Para Luiz Roberto Alves, que integra o Conselho Nacional de Educação, não se pode 'puxar orelha' de governo paulista, mas ouvir alunos e comunidade é 'vital'

Arquivo/Universidade Estadual de Londrina

Luiz Roberto: “Governo deve entender que aluno é agente, e não apenas objeto, de direitos”

São Paulo – O presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), professor Luiz Roberto Alves, lamenta a maneira como o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) conduz, desde o início, a política de reorganização da rede no estado de São Paulo. Anunciada em setembro, a reorganização prevê o fechamento de escolas e a extinção do ensino médio, principalmente noturno, em centenas de unidades.

“Não é nosso papel sair dando puxão de orelha, mas não vejo nada de educativo nesse episódio”, diz, em manifestação pessoal, e não na condição de conselheiro do CNE, órgão que tem como missão assegurar a participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade.

Professor livre-docente na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP) aposentado e professor do programa de Pós-Graduação na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), em São Bernardo, no ABC Paulista, Luiz Roberto é autor de livros sobre educação e cultura, assessor de movimentos sociais e foi secretário de Educação em São Bernardo (1989-1992) e Mauá (2001-2003).

De acordo com ele, faltou ao governo paulista ouvir estudantes, pais e professores e também transparência. “Por que até metade desse ano o governo não dialogou, não fez audiências públicas? E quais são as pesquisas que respaldam os ganhos pedagógicos com a medida que o governo fala?”, questiona. “Há pesquisa fascista em todo lugar. É preciso conhecer as pesquisas, os objetivos, como foi feita, por quem e com qual objetivo”.

De acordo com o conselheiro, muito se questiona sobre o posicionamento do órgão a respeito da crise paulista, com as crescentes manifestações de estudantes. “O conselho se manifesta caso acionado por outras instâncias, como conselhos municipais e estaduais. No caso, seria o estadual de São Paulo, mas é claro que este não se levanta contra política do governo”, diz.

Luiz Roberto demonstra preocupação sobretudo com os riscos a que estão expostos os estudantes. “E se um menino for morto? E se morrerem mais? Que tragédia. Que marca teremos? Não haveria nenhum risco se tivesse havido diálogo, se os estudantes tivessem sido ouvidos.”

Conforme ele, as consequências da maneira como o governo conduz sua política de reorganização já começam a aparecer. “A menina está correndo risco. E o jovem perde senso do tempo quando está chateada e triste, como agora, que vai ficar sem seus professores, sem sua escola. A perda é irreparável. A desconfiança em relação ao governo está colocada.”

Para o conselheiro, o governo foi às últimas consequências com o decreto, publicado terça-feira (1º). “O decreto fecha tudo. Termina com as desocupações e seus riscos, inclusive à saúde dos alunos. Não estou vendo nenhum processo educativo nesse episódio”, lamenta Luiz Roberto Alves. “O governo deveria entender que, depois do Estatuto da Criança e do Adolescente, os meninos são agentes de direitos, e não apenas objetos. Teria sido vital o governo ouvi-los”.

O Conselho Estadual de Educação foi procurado, mas não atendeu à reportagem.