PPI é passado

Revisão da política de preços da Petrobras era ‘urgente e necessária’, diz instituto de pesquisa em petróleo

Para o economista Rubens Sawaya (PUC-SP), nova política de preços deve amortecer a volatilidade no mercado interno e ampliar a pressão sobre o BC pela redução das taxas de juros

Agência Petrobras
Agência Petrobras
Durante vigência do PPI, preço do gás de cozinha variou mais de 200%; gasolina e diesel, mais de 100%

São Paulo – A Petrobras anunciou hoje o fim da política de Preço de Paridade de Importação (PPI). A estatal instituiu o PPI em outubro de 2016, na esteira do golpe do impeachment contra a então presidenta Dilma Rousseff. De lá para cá, foram seis anos e sete meses em que a maior empresa brasileira deixou de servir aos interesses da sociedade, priorizando o lucro dos acionistas. Nesse período, a Petrobras se transformou numa das maiores pagadoras de dividendos do mundo, enquanto a população teve que arcar com altas exorbitantes nos preços dos combustíveis.

De acordo com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a nova política de preços “encerra a subordinação obrigatória ao preço de paridade de importação, mantendo o alinhamento aos preços competitivos por polo de venda, tendo em vista a melhor alternativa acessível ao povo brasileiro”.

Assim, o novo modelo vai considerar a participação da companhia e o preço competitivo em cada mercado e região, a otimização dos ativos de refino e a rentabilidade de maneira sustentável, garantindo muito mais eficiência e competitividade.

Conforme o presidente da estatal, agora, a formação de preços vai buscar “evitar o repasse da volatilidade conjuntural do mercado internacional e da taxa de câmbio, ao passo que preservamos um ambiente competitivo nos termos da legislação vigente”.

Ganhos extraordinários

Para o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep), a revisão da política de preços da Petrobras era “urgente e necessária”. “Pilar da estratégia de negócios vigentes na Petrobras desde 2016, o preço de paridade de importação (PPI) não só permitiu ganhos extraordinários para os acionistas da companhia nos últimos anos como resultou na explosão dos preços dos combustíveis no mercado nacional, penalizando, sobretudo, os consumidores brasileiros”, afirmou o instituto, em nota.

Do mesmo modo, o Ineep classifica o fim do PPI e a nova política de preços como a “primeira grande marca” da atual gestão da Petrobras. “Os custos de produção e as condições de mercado passarão a ser parâmetros para além do PPI. A companhia passa a não ter obrigação de acompanhar o preço de paridade de importação (PPI) tão de perto. Portanto, o PPI deixa de ser mandatório para seguir apenas como uma das referências a serem consideradas. Não sai de cena, mas muda de papel.

Montanha-russa dos preços

No ano passado, a Petrobras distribuiu R$ 217 bilhões em dividendos. No ano anterior, foram R$ 101,3 bilhões distribuídos aos acionistas. Os lucros exorbitantes decorreram da elevação do preço do petróleo no mercado internacional. Primeiramente, a alta se deu em função da reabertura gradual das economias, após as restrições impostas pela pandemia de covid-19. Já no início do ano passado, os preços explodiram, em função da guerra na Ucrânia e dos embargos dos Estados Unidos e aliados europeus à indústria de petróleo russa.

Assim, conforme cálculos do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP), com base em dados da Petrobras, desde a vigência do PPI até agora, o preço do botijão de gás de cozinha de 13 quilos (GLP), na refinaria (produto mais demandado pela  população de baixa renda), variou 223,8%, registrando 34 altas e 14 baixas. Enquanto isso, o barril do petróleo (em R$) subiu 61,9% no período e a inflação medida pelo IPCA/IBGE acumulou 36,6%. No mesmo período, a gasolina variou 112,7%, e o diesel, 121,5%, segundo cálculos do Dieese/subseção FUP.

Pressão no BC

Para o economista Rubens Sawaya, professor do Departamento de Economia e da Pós-graduação em Economia Política da PUC-SP, a nova política de preços da Petrobras é “muito bem-vinda”. Isso porque, segundo ele, a alta da inflação nos últimos anos esteve quase que exclusivamente relacionada ao PPI, que repassava as variações do preço do petróleo no mercado internacional. Não houve, nem há agora, aumento dos preços por conta da ampliação de demanda do mercado interno.

“Tirar essa pressão dos preços dos combustíveis é muito bem-vinda, inclusive para pressionar o BC a baixar as taxas de juros. Porque não há nenhum motivo para manter essas taxas de juros enormes. Já não havia antes, porque essa inflação não tem nada a ver com demanda. Agora, mais ainda, porque os preços dos combustíveis vão cair”, afirmou Sawaya, em entrevista à jornalista Talita Galli, no programa Bom para Todos, da TVT.

Nesse sentido, o economista também afirmou que a farra dos dividendos em consequência do PPI foi como se a Petrobras “tivesse sido roubada”. “Nenhuma empresa privada distribui o volume de dividendos que a Petrobras distribuiu, se descapitalizando e tirando dinheiro dos seus investimentos necessários”.

Por outro lado, chamou a atenção a reação do mercado à nova política anunciada pela Petrobras. Ao contrário do imaginado, as ações preferenciais da Petrobras fecharam em alta de 2,73%. De acordo com o economista, essa reação mostra que não há ligação direta entre a política de preços da companhia e o valor das ações. Outras variáveis, como a sua capacidade de investimentos – que garantem a viabilidade da empresa no longo prazo – também são levadas em conta pelos agentes do mercado.

Preços em queda

Juntamente com a nova política, a Petrobras também anunciou hoje expressiva redução nos preços dos combustíveis. Apesar de a empresa não atuar mais no mercado de distribuição, após a privatização da BR Distribuidora, em 2019, o economista Rubens Sawaya acredita que “quase com certeza” as quedas dos combustíveis nas refinarias vão chegar aos consumidores finais.

Nesse sentido, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) vai fiscalizar se as distribuidoras e os postos vão repassar as reduções que a Petrobras anunciou.

Já o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, afirmou que a redução dos preços dos combustíveis têm “efeito extraordinário” na vida dos mais pobres. Ele citou aqueles que têm motocicletas ou tratores, que serão beneficiados com as queda nos preços da gasolina e do diesel. Do mesmo modo, a redução do preço do gás beneficia as donas de casa. Nesse sentido, ele também aposta na redução dos preços dos alimentos, em função da nova política de preços da Petrobras. “O governo do presidente Lula tem o compromisso de contribuir para que o Brasil possa ter preços adequados à nossa realidade”, afirmou.