Pegada radical

Skate e cidadania: TVT estreia podcast com os jovens que rasgam ladeiras e pistas da periferia

“Roda de Pogo” é o nome do novo programa que vai ao ar uma vez por semana, a partir do dia 24. Em pauta, o skate como experiência transformadora e de inclusão social

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Bob, Henrique, Bruno e Vitória: bate-papo sobre a possibilidade do skate como ferramenta de inclusão

São Paulo – O universo do skate ganha um canal de divulgação, a partir do fim deste mês, que vai mostrar sua prática não como atividade meramente esportiva, mas uma expressão da cultura e da resistência nas ruas, sintonizada com linguagens artísticas como o grafite. No dia 24, último sábado de fevereiro, a TVT estreia o podcast Roda de Pogo, programa semanal que vai trazer para a TV aberta (44.1 UHF) e o YouTube entrevistas e experiências de quem faz do skate um protagonista de histórias nas ruas da metrópole paulista.

A expressão cultural das ruas contamina o próprio nome do podcast. Roda de Pogo é uma referência às rodas de pessoas que se formam na frente do palco nas festas e shows punk, em um aparente tumulto, para transcender o estresse do dia a dia e celebrar a alegria de estarem juntos. “Vamos abordar também o lado político na questão da cultura de rua, com o objetivo de promover uma consciência cidadã”, afirma o editor-chefe e apresentador do podcast, Henrique Celso.

“O skate é uma ferramenta de inclusão, ele pode ser praticado em qualquer espaço e está muito presente nas periferias. O problema é que os equipamentos são caros, mas tem a solidariedade das pessoas que praticam, e essa troca é muito presente na periferia”, afirma. Henrique faz referência aos praticantes que atualizam seus equipamentos, como rodas, rolamentos, eixos (trucks) e pranchas (shapes) e destinam esses materiais para os colegas que têm menor poder aquisitivo.

O podcast será apresentado também por Bruno Rinaldi Hupfer, skatista há 18 anos e professor do curso de graduação em Educação Física da Universidade Anhanguera. Os dois apresentadores compõem a cúpula da Federação Paulista de Skate (FPS): Bruno é presidente da entidade, enquanto Henrique é vice.

Comunicação e skate

No primeiro programa, o entrevistado será o jornalista e escritor Cesar Calejon, que fala de sua rotina como profissional da comunicação e um skatista que costuma frequentar a pista de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.

Um dos três livros de Calejon é Esfarrapados, como o elitismo histórico-cultural moldou as desigualdades no Brasil. O título foi elogiado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “Leitura fundamental para que nós tenhamos uma espécie de autoconsciência do momento histórico no qual estamos mergulhados”.

Projeto de inclusão

Já no segundo programa o foco será no skate como inclusão social. Os skatistas Luiz Carlos, o Bob, e Vitória Pinheiro contam sua atuação no projeto do Instituto Sonhe, que mantém a primeira pista de skate na região da Cracolândia, no centro de São Paulo, voltada à inclusão de crianças em situação de vulnerabilidade naquela região. Bob é instrutor de skate do projeto e Vitória usa o local para praticar, tendo já participado de campeonatos e colhido bons resultados.

“O skate me impulsionou para essa área social (…), a questão de eu buscar nessa ferramenta uma oportunidade de mudar, acrescentar na vida de crianças que não teriam essa possibilidade”, afirma Bob, depois de explicar que nasceu em São Paulo, mas tem raízes nordestinas e foi filho de empregada doméstica.

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Tendo mudado de Santos para São Paulo em 2019 com a família, Vitória, hoje com 18 anos, diz que anda de skate desde os 9, e na capital conheceu o Instituto Sonhe. Aos 15, começou a fazer aulas com Bob. “Foi lá que eu aprimorei o skate. E o Bob me levou para o meu primeiro campeonato e eu fiquei em oitavo lugar. Mano, foi muito top.”