Solução é pública

Em ‘Saúde tem cura’, Silvio Tendler mostra que medicina é democracia, arte e coletivo

Documentarista aborda a transição de um sistema elitista para o modelo universal, e seus desafios

Agência Brasil
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São Paulo – Saúde tem cura é o titulo do novo longa do cineasta Silvio Tendler. Foi lançado ontem (8) à noite, em exibição no Rio de Janeiro. Começa com o testemunho do próprio autor, filho de médica, a pediatra e psicanalista Sarah, atuante durante toda a vida no serviço público. Passa pelo drama de Jéssica Ramos, de Petrolina (PE), internada durante 22 dias com covid e H1N1, intubada durante 14 dias e que, enfim curada, dança com o médico ao som de Asa Branca, cercados por profissionais da saúde, a quem o filme é dedicado.

“Todos percebem a importância de um sistema seguro e eficaz. O Brasil tem o SUS. Público, gratuito, universal”, diz a narradora, logo no início, enquanto se sucedem imagens da pandemia, a partir de 2020. O documentário – com “muitos começos”, como explica o autor – trata da ideia de construção do um sistema público de saúde. Uma discussão surgida ainda no processo de redemocratização. Ao mesmo tempo, é “um filme voltado para o futuro”, como disse Tendler, ontem, ao portal Outra Saúde. “O saldo do filme é favorável ao SUS, mas não fugimos das questões fundamentais de que muita coisa precisa melhorar. Coloco temas polêmicos pois não quero unanimidade, quero reflexão.”

O cineasta, que já lançou filmes propondo reflexão sobre agrotóxicos (O veneno está na mesa) e sobre o sistema financeiro (Dedo na ferida), além de diversas obras com personagens da história brasileira (Jango, Encontro com Milton Santos, Os Anos JK, entre outros), agora narra também as origens do sistema de saúde no país. Um sistema criado para poucos e que ainda hoje, universal, se vê cercado pelo setor privado. Detalha a busca pela implementação do SUS, seus limites e desafios. Acima de tudo, a busca de um novo modelo, voltado para a maioria da população. Um processo que se discutia ainda antes do golpe de 1964 e que acompanha os anos de redemocratização.

Arma do desenvolvimento

“Na realidade, a luta pela implementação do sistema antecede tudo isso. Começa com Oswaldo Cruz e Adolpho Lutz, que no começo do século 20 queriam que o Brasil fabricasse suas próprias vacinas e não fosse um mero importador”, comenta. Médicos, agentes comunitários, especialistas dão depoimentos para o documentário, com aproximadamente uma hora e meia de duração. Entre eles, Carlos Silva, Drauzio Varella, o ex-ministro José Gomes Temporão, Jurema Werneck (Anistia Internacional), Lígia Bahia, Lúcia Souto, Margareth Dalcolmo e Nísia Trindade Lima (Fundação Oswaldo Cruz), o padre Júlio Lancellotti, Paulo Niemeyer, Roberto Kalil Filho. O filme aborda também o sistema dos Estados Unidos, basicamente privado, entrevistando John McDonough, professor da Escola de Saúde Pública de Harvard.

“Eu tentei mostrar o SUS como uma necessidade coletiva, fora do debate político, mas como mecanismo fundamental”, diz Tendler ao portal. “Temos um sistema que é muito mais do que o atendimento em hospitais, mas que gera empregos, pesquisa e inovação tecnológica e que forma pessoas. A saúde é uma arma do desenvolvimento, não é despesa, mas economia.”

Assista aqui ao documentário de Silvio Tendler.