O adeus ao homem que adotou as curvas e a rebelião para expressar a vida

O museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, projetado pelo mestre arquiteto, um dos patrimônios deixados à humanidade (© Cesar Ferrari / Reuters) São Paulo – São pouquíssimos aqueles que conseguem viver […]

O museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, projetado pelo mestre arquiteto, um dos patrimônios deixados à humanidade (© Cesar Ferrari / Reuters)

São Paulo – São pouquíssimos aqueles que conseguem viver 104 anos, e de modo tão intenso e revolucionário, quanto o arquiteto carioca Oscar Niemeyer, que nasceu em 15 de dezembro de 1907, e morreu também no Rio na noite desta quarta-feira (5). Ele estava internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, na zona sul da cidade, em função de uma infecção respiratória. O homem se vai, mas a obra do profissional que se tornou um ícone mundial da arquitetura moderna está presente nas principais cidades do Brasil e também em várias outras de diferentes continentes

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O desenho entrou na vida de Oscar Niemeyer desde muito cedo, como contou ao Globo News, em 2008: “Eu tinha 5, 7 anos e ficava desenhando com o dedo no ar. Minha mãe perguntava: ‘menino, o que você está fazendo’? Estou desenhando. Eu gosto de desenhar figuras. Eu faço uma escultura, eu desenho no ar. Eu faço um desenho e construo ele no ar”. E foi assim que ele seguiu durante praticamente todo um século, adotando a curva como uma de suas principais marcas. “Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito”, declarou certa vez.

Outra grande paixão foi a política, tanto que ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1945, e cedeu algumas vezes a sua própria casa para reuniões realizadas pelo companheiro e amigo Luís Carlos Prestes. Também fez questão de manifestar apoio aos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. “Fui sempre um ‘revoltado’. Da família católica eu esquecera os velhos preconceitos, e o mundo parecia-me injusto, inaceitável. Entrei para o Partido Comunista, abraçado pelo pensamento de Marx que sigo até hoje”, garantiu, em 2006.

Foi graças à amizade e à total confiança do então governador de Minas Gerais, e futuro presidente do Brasil, Juscelino Kubitscheck, que Oscar Niemeyer realizou os seus dois projetos mais importantes: o Conjunto da Pampulha, em 1940, e as dezenas de obras do que viria a ser a nova capital federal, Brasília.

Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, o arquiteto teve como primeiro trabalho o Palácio Capanema, sede da Secretaria de Educação e Saúde, na capital fluminense. Desde então, foram mais de 600 projetos, incluindo a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) e o Memorial da América Latina, em São Paulo.

O Palácio da Alvorada e o Edifício do Congresso Nacional, ambos em Brasília; o Museu de Arte Moderna (MAM), de Niterói; o Parque do Ibirapuera e o Edifício Copan, em São Paulo; o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; a Bolsa de Trabalho de Bobigny, a sede do Partido Comunista Francês e o Centro Cultural Le Havre, na França; a Editora Mondadori, na Itália; a Universidade de Constatine, na Argélia; e o Pestana Casino Park, em Portugal. É difícil ir a algum lugar onde não há pelo menos uma obra arquitetônica de Oscar Niemeyer, que se despede da vida, deixando uma produção de qualidade e importância inigualáveis.

Ficam também seus cinco netos, 13 bisnetos e quatro trinetos.