Posicionamento

De Martinho da Vila a Pabllo Vittar, Lula movimenta velha guarda e novas gerações

Ampla rede de apoio à candidatura do ex-presidente inclui ainda Felipe Neto, Marcelo Serrado, Marcelo Adnet e Letícia Sabatella, entre outros

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Cafezinho – Martinho com o então presidente Lula no Hotel Glória, Rio de Janeiro, 2008

São Paulo – Com 84 anos completados no último dia 12, Martinho da Vila garante ser ainda um cidadão com esperança. Vestido para uma entrevista (ao jornal O Globo) com a frase “Canta, canta minha gente (…) A vida vai melhorar”, o sambista afirma que quem perde a esperança, perde tudo. “Muita gente fala ‘otimista’ como se fosse uma palavra depreciativa. Os otimistas é que mudaram o mundo. Aquele que vai para o jogo pensando ‘nosso time não vai ganhar’, aí que não ganha mesmo”, diz. Afirmou ainda que vai votar em Lula “com certeza” e que, se o ex-presidente pedir, fará campanha, “porque ele é meu amigo”.

Martinho já esteve com Lula em ocasiões distintas, como num café com então presidente no Hotel Glória em 2008 ou – com Chico Buarque – na cela em que o petista passou 580 dias preso em Curitiba. Martinho (da Vila Isabel) será o homenageado da famosa escola de samba no carnaval carioca, em abril, se não houver novo adiamento.

Ao mencionar episódios violentos como o assassinato do congolês Moïse Kabagambe, ele diz que pessoas não nascem racistas, mas “aprendem” a ser. “E, se aprende a ser, pode aprender a amar o próximo.” Mas para isso precisam de bons exemplos, o que não é o caso diante do atual governo do Brasil. “O presidente dá maus exemplos. E a função do chefe é dar exemplos. Eles não vêm debaixo, vêm de cima. Quem toca as coisas é o chefe da família, o chefe da nação.”

Pelo aniversário e esperança resiliente, marca de sua carreira, Martinho da Vila foi “brindado” com cafezinho pelo jornalista Rodrigo Vianna, em seu programa Tempero da Notícia, exibido no último fim de semana, na TVT. Assista abaixo ao momento da homenagem e aqui à integra do programa, produzido pelo Brasil de Fato.

Ano de se posicionar

As eleições 2022 se aproximam. Inflação, má gestão durante a covid-19, ataques à democracia, denúncias de corrupção, entre outros fatos levam o presidente Jair Bolsonaro a ostentar alto índice de rejeição. Enquanto isso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lidera as pesquisas de intenção de voto.

Martinho da Vila
Martinho e Chico em Curitiba, em 2018 (Ricardo Stuckert)

Para uma parte da comunidade artística, habituada a se manifestar politicamente, a volta da “esperança” exige posicionamento. Assim, a rede de apoio nesse segmento é proporcional ao crescimento de Lula. De Martinho da Vila a Pabllo Vittar, pessoas influentes da cultura e das mídias sociais vêm expressando indignação e necessidade de reação. A lista inclui nomes como Felipe Neto, a atriz Letícia Sabatella e até mesmo um ex-apoiador de Sergio Moro, o arrependido ator Marcelo Serrado.

“Minha 1, 2 e 3 via é Lula”, disse Serrado em uma rede social. O ator foi ativo durante manifestações que pediam pelo golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016.

“Lulapalooza”

Outros artistas, empolgados, comentam sobre um possível dia da posse de Lula em 2023. Grandes nomes do pop brasileiro brincam que aguardam convite. Questionada se cantaria na posse de Lula, a cantora Pabllo Vittar disse, pelas redes sociais, que “espera que sim”. Outros nomes que comentaram sobre o que está sendo chamado de “Lulapalooza” foram Pepita, Valesca Popozuda e Tati Quebra Barraco. “Já estou com o look preparada. É só avisar que o repertório está pronto”, disse Valesca. “Também estou disponível”, comentou Tati.

Pabllo já se manifestou em outras ocasiões em defesa do petista. Em entrevista concedida em dezembro, ela disse: “Artistas se posicionarem é um dever. É a influência do bem contra o mal. Se Deus quiser, estarei na posse do Lula. Quero receber o convite formal! Cantarei com um belo vestido vermelho. Ele não sabe, mas fez parte da minha infância e da minha vida. É uma referência para mim”.

Lula está falando

Lula também aglutinou forças durante a sua participação no podcast PodPah, em 2 de dezembro. Mais de 290 mil pessoas assistiram a transmissão ao vivo pelo YouTube. No mesmo horário, Bolsonaro fez uma live que teve audiência de 8,3 mil pessoas. Durante a transmissão, apenas o ator Francisco Vitti conseguiu 8,1 mil curtidas em um post no Twitter, em que disse “O Homem está falando”. Já o apresentador e humorista Paulo Vieira compartilhou uma montagem com Bolsonaro assistindo a Lula em uma TV. “Lula no PodPah”, comentou, adicionando ainda uma figurinha de coração. Enquanto isso, o humorista Marcelo Adnet pediu que Lula fizesse um discurso à nação. “O Brasil precisa!”, comentou.

Justiça para Lula

Enquanto uma nova safra de não petistas vê no ex-presidente o caminho da superação da era Bolsonaro, muitos já manifestavam solidariedade a Lula desde sua prisão política. “Sem pensar em política e em votos. Como o Estado devolve 500 dias que tira da vida de um cidadão por um erro da justiça? Não gosto nem de imaginar uma situação assim. Muito triste”, declarou o ator Bruno Gagliasso.

Para a atriz Letícia Sabatella, fazer campanha contra Bolsonaro “não é questão de escolha”. “É impossível não se posicionar contra. Porque não tem nada de bom, nada que justifique a gente precisar de um governo genocida com o país que a gente tem. É só ganância. Só poderia ter alguma paz de espírito para dar um passo e respirar, com tudo que isso pode acarretar, me posicionando contra ele”, afirmou em entrevista ao Universa em agosto de 2021.

“O dia começa cedo para quem quer trabalhar pelo Brasil. Sem domingo, feriado ou dia santo. Temos uma longa caminhada até devolver o Brasil ao povo brasileiro. #lula2022“, disse em uma publicação ao lado do petista no Instagram.

O youtuber Felipe Neto afirma estar arrependido de ter criticado Lula no passado. “É difícil encontrar alguém que foi mais anti Lula do que eu (…) Fui criado em uma família onde o anti-petismo foi criado antes do petismo. Não sei exatamente o porquê, mas veio de berço. Cresci com aquela raiva entranhada. Como toda convicção não embasada, levamos tempo para desconstruir isso dentro da gente. Destruir preconceitos dentro da gente é difícil. Por sorte, ou por acaso, gosto de ler e resolvi me inteirar. Dói admitir o erro, mas estava errado sobre Lula”, disse em entrevista ao grupo Prerrogativas, na TVT.