Periferia aprova parques, mas reclama outras prioridades

Parque da região do Rio Bonito: “Preferia um posto de saúde do que este parque”, diz morador (Fotos: Maurício Morais/ Rede Brasil Atual) São Paulo – Tida com uma das […]

Parque da região do Rio Bonito: “Preferia um posto de saúde do que este parque”, diz morador (Fotos: Maurício Morais/ Rede Brasil Atual)

São Paulo – Tida com uma das “meninas dos olhos” para a prefeitura de São Paulo, a construção dos chamados parques lineares ficará abaixo do prometido por Gilberto Kassab (PSB). Dos 50 parques prometidos em sua campanha para a reeleição, em 2008, apenas 30 serão concluídos até o fim de seu mandato.

A implantação de parques lineares é uma estratégia de recuperação ambiental para as áreas degradadas em centros urbanos, com a convergência de áreas de lazer, saneamento e limpeza dos rios, segundo informa a secretaria do Verde e do Meio Ambiente do município.

São Paulo tinha 34 parques municipais em 2005 (um total de 15 milhões de metros quadrados de área protegida municipal), passou para 60 parques em 2009 (24 milhões de m²) e a meta, segundo a prefeitura,  é chegar a 100 parques em 2012 (50 milhões de m²).

A necessidade e a importância de áreas verdes em regiões urbanas são mais do que comprovadas e estão na pauta de reivindicações dos habitantes nos bairros de classe média e média-alta em São Paulo No entanto, quando o assunto são as periferias da capital, não é tão simples tratar da construção de um parque.

Prioridades invertidas

O processo de instalação de praças e parques levanta dúvidas sobre prioridades em demandas sociais e escancara a situação de desigualdade da cidade. Nas periferias, ao se questionar sobre a demanda local, a resposta da população dificilmente é a ampliação de áreas verdes. Em comunidades visitadas pela Rede Brasil Atual, na zona sul da capital, as principais reivindicações estão relacionadas a saúde e a moradia.

No caso da comunidade 19, na região do Largo Rio Bonito, a população tem forte rejeição à praça, construída numa área onde moravam cerca de 300 famílias. Segundo o mecânico e morador Ronaldo Vital, as informações dadas eram sobre a urbanização da comunidade são sobre a construção de uma praça. “Disseram que iam fazer 50 casas para a gente morar. Mas a Secretaria de Habitação depois disse que o projeto havia mudado, porque a Secretaria do Meio Ambiente não liberou a construção”, afirma

Segundo Vital, se fosse ouvida a demanda da população não teria sido construída uma praça, mas sim uma Unidade Básica de Saúde, pois as existentes – Jd. Clipper e Independência – são distantes e se recusam a atender à população do Rio Bonito. “A gente tem de conseguir um CEP de alguém que mora perto do posto para conseguir ser atendido, porque eles dizem que nossa região não é área deles. Então a gente precisa muito de uma UBS”, diz Vital.

Parque Linear Cantinho do Céu, no Lago Azul

O parque Linear Cantinho do Céu, na região do bairro Lago Azul, pode ser considerado um exemplo de área verde. Com quadras de futebol, parques, brinquedos infantis e áreas gramadas, tudo isso envolto pela represa Bilings, foi bem recebido pela maior parte dos moradores. No entanto, a história daquela área de lazer guarda algum sofrimento. A presidenta da associação de moradores do bairro Lago Azul, Vera Lúcia Basália, de 72 anos, contou que no local onde foi construído o parque havia cerca de 200 famílias.

Não houve relato de moradores que tivessem sido contrários à construção do parque, porém, sobre problemas ocasionados pela falta de conclusão das obras são constantes, como a falta de segurança e distúrbios que ocorrem nos finais de semana.

“As festas que acontecem aqui são enormes. Sempre vem polícia pra reprimir os meninos. E elas continuam acontecendo porque o parque ainda não foi entregue para a secretaria do Verde e aí o local não é cercado, não tem segurança”, considera a líder comunitária. Dona Vera resume a situação: “Se a gente pudesse escolher, pediria uma UBS. Mas agora que o parque está feito devemos preservar e cuidar do local, por que isso tudo aqui é nosso”, diz.

Dos exemplos, o lado bom

O parque linear da Vila São José é parte do conjunto de áreas verdes da chamada Praia do Sol, que contorna a represa de Guarapiranga, ao longo da Avenida Atlântica. Não fazia parte do projeto original, mas hoje é um dos locais mais bem aceitos pela população, em uma região onde não há espaços culturais ou outros equipamentos públicos de lazer para a população.

Seu Sebastião Xavier, presidente da associação dos moradores

De gesto sereno e fala tranquila, seu Sebastião Xavier, que vive há mais de 40 anos na região da Vila São José e é presidente da associação de moradores do bairro Jardim Real, conta que, quando chegou, ali era depósito de lixo e “desova” de corpos de vítimas da criminalidade e nada tinha além de mato.

“Eu arrumei muita inimizade quando me meti nisso aqui porque o lixo era grande. Aí eu fui arrumando, colocando uns brinquedos na associação e aí a prefeitura viu e vieram algumas pessoas conversar comigo, foi quando eles resolveram fazer este parque, porque já estavam fazendo outros na avenida Robert Kenedy e quiseram fazer aí também. Para mim e para todo esse povo aqui foi ótimo, eu adorei”, contou XavierLuiz Carlos, mora no bairro ao lado, mas vai caminhar no parque da Vila São José.

Até o fechamento desta matéria a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente ainda não havia respondido aos questionamentos da reportagem sobre as reclamações e dúvidas relatadas pelos moradores.

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