Com ‘flora on-line’ e Banco de DNA, vocação científica muito além do jardim

Muito conhecido como ponto turístico, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro conquistou nos últimos anos uma posição de destaque na produção científica sobre a flora brasileira e vem ajudando o Brasil a cumprir as metas assumidas junto à ONU

Rio de Janeiro – Com 204 anos de existência, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro é um dos mais conhecidos pontos turísticos da cidade e recebe cerca de 700 mil visitantes nacionais e estrangeiros por ano. Sua importância para o Brasil, no entanto, vai além do encanto provocado pelas belezas naturais, já que o Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), órgão subordinado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), é o principal centro de estudos e pesquisas sobre a biodiversidade brasileira. Para se ter uma ideia, 15 livros e mais de 500 trabalhos realizados por pesquisadores do JBRJ foram publicados nos últimos seis anos, sendo 334 em revistas científicas especializadas.

Uma das principais iniciativas do JBRJ para que o governo brasileiro possa cumprir os compromissos assumidos junto à ONU foi a criação em 2008 do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), realizada no âmbito do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para a Biodiversidade (Probio II). Graças ao CNCFlora, está disponível na internet desde 2010 o Catálogo Geral das Plantas e Fungos do Brasil, resultado de um trabalho que envolveu 413 pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Com uma versão em papel que tem mais de 1,7 mil páginas divididas em dois volumes, o catálogo traz comentários e estudos sobre todas as espécies conhecidas da flora brasileira, sua localização geográfica e os biomas aos quais pertencem. O trabalho foi fundamental para a revitalização do estudo da botânica no Brasil, já que o último catálogo da flora brasileira, elaborado pelo botânico alemão Von Martius, datava de 1906. 

Ao disponibilizar ao público a “flora on-line”, o JBRJ cumpriu a primeira de 16 metas estabelecidas na Estratégia Global para a Conservação de Plantas definida pela Convenção de Diversidade Biológica (CDB) da ONU, que tem o Brasil como um dos signatários.

Atualmente, o CNCFlora trabalha na elaboração do Livro Vermelho das Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção com o objetivo de atingir a segunda meta da Estratégia Global, que é fazer um diagnóstico do estado de conservação das espécies para posterior definição de ações em sua defesa.

Outra meta da CDB que começa a ser cumprida pelo JBRJ prevê a adoção pelo Brasil de uma estratégia para a conservação de espécies da flora in situ (na natureza) e ex situ (fora da natureza). A primeira ação tenta proteger as populações das espécies em seu lugar original, e a segunda é voltada para aquelas espécies que não têm mais garantia de sobrevivência na natureza.

Flora repatriada

O JBRJ também elaborou o Banco de DNA de Espécies da Flora Brasileira, com o objetivo de armazenar informações genéticas representativas de espécies relevantes dos ecossistemas do país (especialmente do bioma Mata Atlântica). Banco de DNA traz também amostras genéticas de grupos taxonômicos especiais, de espécies do Herbário do próprio Jardim Botânico do Rio e de espécies raras ou ameaçadas.

Todas as amostras de DNA que compõem o banco foram coletadas por pesquisadores do JBRJ durante expedições científicas. O material é coletado em nitrogênio líquido ou seco em sílica gel antes de ser levado ao laboratório. O DNA extraído é mantido a 80 graus Celsius negativos e sua ficha fica depositada no acervo do Herbário do instituto.

A mais recente novidade do JBRJ é o Projeto Reflora, articulado desde o ano passado em parceria com o CNPq para fazer a repatriação digital de amostras da flora brasileira que foram levadas do Brasil por naturalistas estrangeiros nos séculos XIX e XX. Atualmente, essas amostras encontram-se nos herbários de Londres (Kew Garden), Paris (Musée Nationale D’Histoire Naturelle) e Nova York (Botanic Garden).