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Trabalhadores rechaçam proposta de Alckmin de privatizar linhas do Metrô e da CPTM

Governo criou grupo de trabalho para definir proposta para concessão das linhas 5-Lilás e 17-Ouro, do Metrô, e 9-Esmeralda e 8-Diamante, da CPTM; 'não vamos aceitar”, diz Sindicato dos Metroviários

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

Trabalhadores do Metrô e da CPTM avaliam que proposta de privatização não vai sanar problemas dos sistemas

São Paulo – Metroviários e ferroviários paulistas estão em campanha contra a privatização das linhas 5-Lilás (Capão Redondo-Chácara Klabin) e 17-Ouro (Jabaquara-Morumbi), do Metrô, 9-Esmeralda (Grajaú-Osasco) e 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), cuja elaboração de propostas já foi encaminhada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em 8 de junho. “O próprio governo sucateou o sistema e agora quer entregar as linhas novinhas ou reestruturadas para a iniciativa privada. Não vamos aceitar”, disse o secretário-geral do Sindicato dos Metroviários, Alex Fernandes.

Os trabalhadores do Metrô realizaram uma manifestação na estação Capão Redondo, da Linha 5-Lilás, na tarde de ontem (1º), para chamar a atenção da população ao plano do governo Alckmin. Foram distribuídos folhetos explicativos e expostas faixas sobre os problemas que os metroviários denunciam.

As duas linhas do Metrô ainda estão em construção. No caso da Linha 5, cujo trecho em operação foi inaugurado em 2002, mas que ainda tem menos da metade da rede concluída, o governo seguiria tocando as obras e privatizaria a operação. O sistema está em construção há 20 anos e tem 26 trens novos, comprados por R$ 730 milhões, parados por não ter linha para circular.

Já a linha 17 não tem nenhuma estação concluída e a proposta ainda será definida entre fazer uma Parceria Público-Privada (PPP) – como o que existe na Linha 4-Amarela (Luz-Butantã) – para a obra e conceder a operação ou seguir o modelo da Linha 5.

Concessão

O governo Alckmin ainda estuda propor a concessão das linhas 18-Bronze (Tamanduateí-Paço Municipal de São Bernardo), 6-Laranja (São Joaquim-Brasilândia), todas em construção, e a linha 15-Prata, monotrilho que vai ligar a Vila Prudente a São Mateus, na zona leste, que tem o trajeto entre duas estações em funcionamento.

Com isso, a gestão tucana entregaria à iniciativa privada 60% da rede estimada de Metrô da capital paulista. Ficariam de fora somente as três primeiras linhas do sistema: 1-Azul (Jabaquara-Tucuruvi), 2-Verde (Vila Prudente-Vila Madalena) e 3-Vermelha (Itaquera-Barra Funda).

Já manifestaram interesse nas privatizações do Metrô e da CPTM as empresas do Grupo CCR (que envolve as construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e outras), CR Almeida (investigada no esquema de cartel), Odebrecht, Scomi e Triunfo Participações. Ainda não há previsão de quando a licitação será lançada, mas o governo espera resolver isso até o fim do ano.

No caso da CPTM, as linhas propostas para serem privatizadas são as que passaram pelo mais completo processo de revitalização. A linha 8-Diamante utiliza trens da série 8000, que entraram em operação em 2012, embora ainda tenha alguns da série 5400, que operam desde 1978. E a linha 9-Esmeralda utiliza trens das séries 7000 e 7500, começaram a operar em 2010 e 2011 respectivamente. “O governador quer entregar à iniciativa privada o ‘filé’ da CPTM. Investiu, melhorou, agora que está bonito, privatiza”, disse o presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo, Izac de Almeida.

Consequências

Segundo Almeida, os trabalhadores da rede estão preocupados com as consequências da privatização. “Vimos o que houve na privatização do sistema de cargas: muitas demissões, redução de direitos, precarização. Quem pega uma rede dessa quer ganhar e gastar pouco. Até faz investimentos, mas visando a reduzir custos depois. Com isso, o trabalhador perde muito”, avaliou. Para ele, poderia se considerar justo se fosse todo o sistema, porque tem linhas boas e outras que dão problemas. “Mas o governo não vai privatizar a Linha 7-Rubi (Luz-Jundiaí), porque a iniciativa privada quer operar o que é fácil, que vai dar lucro”, completou.

Os metroviários avaliam que a proposta de privatização nada mais é que uma forma do governo Alckmin agradar possíveis financiadores de campanha, alguns destes envolvidos no esquema de cartel que funcionou no sistema metroferroviário nos governos tucanos em São Paulo. “O próprio governo sucateia os sistemas para oferecer a privatização como salvação. Mas ela só interessa aos empresários. É só ver como funciona a Linha 4-Amarela”, disse Fernandes.

O sindicalista se refere ao privilégio da linha privada sobre o sistema público. Entre 2011 e 2015, Alckmin deixou de repassar R$ 1,1 bilhão ao Metrô estatal para garantir o lucro do sistema privatizado. Nos balanços do Metrô, estão registradas como perdas os valores que o governo não repassou à empresa, para manter a linha 4. Em 2011 foram R$ 238 milhões, mais R$ 214 milhões em 2012, outros R$ 332 milhões em 2014 e R$ 135 milhões em 2015.

Existe uma falsa sensação de que a linha privatizada é melhor. Simplesmente por que tem tecnologia diferente, está tudo novinho. Mas ela é décadas mais nova que as demais linhas, tem menos funcionários, carrega uma demanda menor de passageiros e é mais curta. Não creio que daqui a 40 anos ela seja tão bem avaliada como o Metrô era antes de ser sucateado”, afirmou Fernandes.

Entre os problemas, ele lembra que Alckmin cortou o repasse da verba referente aos passageiros com gratuidade que utilizaram o Metrô. Foram R$ 189 milhões em 2014 e R$ 66,1 milhões em 2015. Com isso, a estatal fechou 2015 com seu primeiro prejuízo: déficit de R$ 73,9 milhões. “Esse prejuízo foi fabricado. O Metrô sempre se sustentou, mas agora o governo resolveu tirar dinheiro do estatal para garantir o privado. Isso precisa ficar claro para a população”, destacou o metroviário.

Outro problema ocorre na área de manutenção do Metrô. Vários trens reformados estão servindo como estoque e reposição de peças dos trens que apresentam problemas, em um processo que ficou conhecido como “canibalização”. Além disso, a companhia propôs no mês passado um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para cortar, pelo menos, 300 trabalhadores da empresa. “Tudo isso caminha no sentido de piorar o funcionamento do Metrô, para reforçar o argumento da privatização”, disse Fernandes.

Hoje, o site Fiquem Sabendo divulgou dados obtidos por Lei de Acesso à Informação revelando que o governo tucano diminuiu em R$ 511,9 milhões o investimento na expansão da rede do Metrô, entre o primeiro semestre de 2015 e igual período deste ano. No ano passado, foi investido R$ 1,75 bilhão, e neste ano, R$ 1,24 bilhão (29% menos).