Torturador

Senadores pedem reunião com Cardozo para acompanhar as investigações do caso Malhães

Comissão de Direitos Humanos do Senado pede entrada da Polícia Federal nas investigações da morte do coronel encontrado morto após confessar à Comissão da Verdade crimes cometidos durante a ditadura

Daniel Marenco/Folhapress

O coronel confessou ter se envolvido no desaparecimento dos restos mortais de Rubens Paiva na ditadura

São Paulo – A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado pediu hoje (29) uma reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para acompanhar as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato do coronel reformado do Exército, Paulo Malhães, na última sexta-feira (25). Os parlamentares aprovaram a criação de uma comissão composta pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Ana Rita (PT-ES) e João Capiberibe (PSB-AP). O grupo ainda pedirá que a Polícia Federal também possa investigar o caso.

Malhães foi encontrado morto em sua casa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, um mês após depor nas comissões da verdade nacional e do Rio de Janeiro. O coronel confessou ter se envolvido, junto com outros agentes da repressão, em práticas de tortura e assassinatos e no desaparecimento dos restos mortais de Rubens Paiva, durante o período da ditadura no Brasil (1964-85). Além disso, ele também denunciou as técnicas utilizadas por militares para se livrar de corpos de militantes torturados, como a mutilação da arcada dentária e das pontas dos dedos para que não fossem identificados.

O corpo do coronel do Exército foi encontrado com sinais de asfixia. No laudo médico, a causa da morte é indicada por “edema pulmonar, isquemia do miocárdio, miocardiopatia hipertrófica e evolução de estado mórbido”. A Polícia Civil do Rio aposta na hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte) e prendeu hoje (29) o caseiro da chácara em que o torturador morava há 30 anos, Rogério Pires.

Entretanto, a comissão de senadores pede para que o caso seja rigorosamente analisado. Malhães foi o primeiro torturador a quebrar o pacto de silêncio firmado por membros do DOI-Codi e a confessar crimes da ditadura às comissões da verdade. Para os parlamentares o fato pode ter ligação direta com seu assassinato.

“Existem elementos que não podem ficar só por conta da Polícia Civil do Rio. O caso não é um caso simples de latrocínio, e eu não vou me contentar com a versão rápida dada agora pela Polícia Civil de que foi o caseiro o responsável pelo crime”, disse o senador João Capiberibe. O parlamentar disse não admitir que “a morte da principal testemunha dos crimes ocorridos durante a ditadura, fique só na conta de caseiros, mordomos e fique por isso mesmo”.

Capiberibe acredita que a morte de Malhães tenha ocorrido por omissão do Estado brasileiro, que falhou em não proteger o coronel após o depoimento. Para ele, o ocorrido pode prejudicar o trabalho das comissões que apuram violações de direitos humanos, porque outros possíveis depoentes podem se sentir inibidos.

Os integrantes da CDH ainda demonstraram preocupação com a publicação de hoje do jornal O Dia que relata que o ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, tenha noticiado o assassinato de Malhães, através de sua página no microblog Twitter, cerca de meia hora antes da imprensa. Inicialmente o militar informou que Malhães havia sido assassinado por quatro homens que dispararam quatro tiros. “Isso só reforça a necessidade de que essa investigação seja mais rigorosa”, alertou o senador.

*Com informações de Agência Brasil e Agência Senado