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‘Não adianta trocar seis por meia dúzia’, diz Mães de Maio sobre mudança na PM

Indicação de novo comandante da Tropa de Choque da PM não agrada movimento que luta contra violência policial. Fim da militarização é apontada como solução

Eduardo Knapp/Folhapress

Morelli (na foto com o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella) teve atuação contestada nos protestos de junho

São Paulo – A entrada do coronel Carlos Celso Savioli no Comando da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo hoje (9) não trouxe alívio para o Movimento Mães de Maio, que luta contra a violência do estado. Para a coordenadora do movimento, Débora Maria Silva, a saída do coronel César Augusto Luciano Franco Morelli, que foi transferido para a Assessoria Policial Militar da Prefeitura Municipal de São Paulo, não muda o modus operandi, que ela atribui ao ranço ditatorial da corporação. “Não adianta trocar seis por meia dúzia. Quando eles não vão de farda mesmo fazer as atrocidades, montam os grupos e saem para matar. O comando não consegue mais controlar a violência policial”, afirma.

Para Débora, é preciso mudar a mentalidade da polícia, promovendo a desmilitarização e criando um senso de cidadania e direitos humanos. “Temos que acabar com a ditadura para os pobres, pretos e periféricos. Porque a ditadura só acabou para a burguesia”, analisa.

Savioli assumiu o comando da PM da Baixada Santista, no litoral sul de São Paulo, no início deste ano. A região, formada por 24 municípios, convive com diversos problemas de segurança. Nos últimos três anos, 681 pessoas foram vítimas de homicídios dolosos. Alguns deles, segundo o movimento Mães de Maio, teriam sido provocados pela atuação de grupos de extermínio formados por policiais militares responsáveis por pelo menos três grandes ondas de violência e assassinatos isolados, desde 2006. Apesar de o número de homicídios ter caído 11% no primeiro semestre na região, Débora afirma que a violência policial ainda é grave.

Medo

Um dos exemplos disso seria o caso do funcionário terceirizado da Universidade Federal de São Paulo da Baixada Santista, Ricardo Ferreira Gama. No último dia 31, ele foi agredido por policiais durante uma abordagem policiais em seu horário de almoço no centro de Santos. A agressão foi presenciada por dezenas de pessoas que chegaram a filmá-lo sendo levado sangrando de camburão para o hospital. Alunos da Unifesp e outras testemunhas afirmam em textos publicados na internet que policiais coagiram Ricardo e pessoas que viram as agressões a não registrarem boletim de ocorrência, o que de fato não foi feito, em função do medo.

Mesmo assim, na noite do último dia 2, Ricardo foi alvejado por oito tiros disparados por quatro homens encapuzados e morreu. A Unifesp, entidades estudantis, sindicatos e movimentos sociais expressaram repúdio à violência policial e exigiram investigações aprofundadas. Uma manifestação intitulada “Quem Matou Ricardo?” com concentração na Campus Central da Unifesp deve ocorrer na noite de hoje (9), em Santos.

“Não estamos satisfeitos. Para a gente acabar com essa violência precisa desmilitarizar”, afirma. “A troca é corriqueira do cotidiano deles. Ocorre mais porque a violência foi muito escancarada nas manifestações”, afirma Débora.