São Paulo

Manifestantes pedem fim do racionamento seletivo de água e plano de contingência

Cansados da falta de transparência da Sabesp, manifestantes reivindicam comitê de crise com participação popular para planejar o enfrentamento da seca

Coletivo Luta pela Água

Manifestantes levaram baldes pelas ruas cobrando do governador que água é direito e não mercadoria

São Paulo – Aproximadamente 300 pessoas protestaram hoje (20), no centro da capital, em frente à Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, responsável pela Sabesp, reivindicando que a companhia acabe com o racionamento de água seletivo e elabore um plano de contingência para a falta de água. O ato organizado pelo Coletivo de Luta pela Água teve início na avenida Paulista e percorreu a região central. Os manifestantes carregaram baldes e cartazes com os nomes dos bairros onde a falta de água é cotidiana.

Os ativistas foram atendidos por um assessor jurídico da secretaria que recebeu as reivindicações do movimento e prometeu levá-las ao secretário da pasta, Benedito Braga.

Desde a deflagração da crise diversas instituições, organizações e movimentos sociais já reivindicaram da Sabesp um plano de contingência. Porém, após cogitar um racionamento de dois dias com água para cinco sem, no início do ano, a companhia descartou todas as ações emergenciais, mantendo somente as obras estruturais como solução para a crise.

A faxineira Rosa Pinheiro, moradora do Morro Grande, na zona Noroeste de São Paulo, relatou que todos os dias precisa agilizar o almoço, a lavagem de roupas e louças e outras atividades cotidianas que demandam água, antes do meio-dia. “Não tem um dia que a gente tenha água direto. Tenho de acordar cedo e fazer tudo rápido. À noite, o banho é cronometrado, senão alguém vai dormir sujo”, diz Rosa, que mora com o marido e três filhos.

O racionamento, no entanto, não é oficial. A falta de água nos bairros é admitida pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) apenas como uma consequência pontual da redução de pressão de água na rede, que objetiva reduzir a perda por vazamentos.

“Isso tem de acabar. Se vai fazer racionamento, que seja para todos, com planejamento claro, horários, e não esse sistema seletivo que afeta, principalmente, o povo mais pobre”, protestou o militante do Coletivo de Luta pela Água, Hamilton Rocha.

Os ativistas também reivindicam que não seja concedido o novo aumento de tarifas de água solicitado pela Sabesp no início deste mês e o cancelamento dos contratos de demanda firme, em que os grandes consumidores pagam tarifas menores para utilizar volumes de água superiores a 500 mil litros mensais.

A Sabesp omite as informações sobre quanto consomem e quanto pagam os grandes consumidores. Mesmo após pedido por Lei de Acesso à Informação, feito pela Agência Pública, a companhia se negou a apresentar os contratos. Após determinação do corregedor-geral da Administração, Gustavo Ungaro, a estatal publicou os contratos em sua página na internet. Porém, todas as informações relevantes foram censuradas.

Em sua decisão, Ungaro argumentou que os contratos não podem ser omitidos da sociedade, ainda mais em um momento de crise como o atual. Ele foi demitido na quarta-feira (18) e substituído pelo promotor de Justiça Ivan Francisco Pereira Agostinho.

Moradora de um prédio na região central da cidade, a costureira Lídia dos Santos ficaria satisfeita em ter, pelo menos, 500 litros de água por dia na casa dela. “A pressão da água é tão baixa que não chega na caixa do prédio. A gente tem de encher os baldes e carregar escada acima, para conseguir fazer as coisas do dia a dia. Como pode ter chegado a esse ponto?”, questionou.

A resposta é clara para Rocha. “A culpa disso é do governador. Ele sabia que precisava fazer investimentos, que o sistema de água paulista não suportaria uma estiagem mais séria. Mas preferiu dizer que não tinha problemas do que admitir os erros”, afirmou o militante do Coletivo, referindo-se ao documento de outorga do Sistema Cantareira, de 2004, que mandava reduzir a dependência do reservatório, responsável por abastecer quase 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo.

Com a crise, a dependência do Cantareira acabou reduzida por determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), para evitar o colapso do sistema. Hoje o reservatório atende a cerca de 6,6 milhões de pessoas.

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