"Avivamento"

Igreja de ‘apóstolo’ bolsonarista promove cantorias ‘espontâneas’ em shoppings

Grupos de pessoas se reúnem “de repente” em um ambiente público e passam a entoar cânticos religiosos como se fosse espontâneo

Reprodução/Youtube
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"Você já viu alguém no supermercado puxar um samba, e do nada virar uma grande cantoria?"

São Paulo – O termo flash mob, nas últimas semanas, passou a ser associado a grupos de pessoas que se reúnem repentina e instantaneamente em um ambiente público. A Wikipédia define o termo genericamente, mas no Brasil de hoje a expressão define grupos que entoam cânticos evangélicos. A ideia se dissemina no país após essas gravações serem postadas em canais da internet. Os crentes chamam tais eventos de “avivamento”.

A estratégia: pessoas combinam, alguém filma no supermercado ou shopping, por exemplo, posta na internet e o evento ganha ares “espontâneo”. “É o que parece. Que algumas pessoas foram ao mercado, começaram a cantar porque já tinham combinado, mas outras começam também a cantar para dar volume”, diz a coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, a jornalista Nilza Valeria Zacarias, que critica a prática por algumas denominações.

“A gente é ou era o país do carnaval. Tirando o período de festa, você já viu alguém no supermercado puxar um samba, e do nada virar uma grande cantoria? Culturalmente não faz sentido, mesmo sendo um país de extrema musicalidade”, afirma.

Para a jornalista e pesquisadora, que recentemente recebeu o Diploma Bertha Lutz, no Senado Federal, essas manifestações podem ser uma “busca por fenômenos extraordinários” no contexto brasileiro. No âmbito da fé evangélica no Brasil, há ainda um momento de polarização e tensão pós-eleitoral. Nesse contexto, a igreja evangélica está fragmentada politicamente, já que rachou no processo eleitoral.

Ideia de igreja de “apóstolo” bolsonarista

“O que quer dizer é que, nesse contexto, há uma busca por fenômenos extraordinários. É uma tentativa de levar (a fé) para a dimensão do excepcional como uma forma de tentar amenizar essa polarização política”, avalia. Para Nilza Valéria, não chega a surpreender, considerando que “culturalmente os evangélicos brasileiros foram moldados para a evangelização e para prospectar novos adeptos. Acho que é uma onda, mas pode viralizar”.

O problema é que, como mostra a revista CartaCapital, esse “avivamento” via cantorias, que esses fiéis querem que pareça espontâneo, faz parte de uma estratégia da Igreja Fonte da Vida, liderada pelo “apóstolo” bolsonarista César Augusto, fotografado diversas vezes ao lado do “mito”.

Segundo esse pastor, a cantoria “espontânea” faz parte de um projeto chamado IDE, que pode ser facilmente acessado no site da denominação. Trata-se, de acordo com ele, de “um projeto evangelístico, com o objetivo de alcançar pessoas que ainda não conhecem e que precisam de Cristo em suas vidas e famílias”.


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