Vida e luta

Perto dos 89 anos, Erundina fala de sua trajetória, luta e motivação

Deputada completa 89 anos no dia 30 de novembro. Uma vida dedicada à defesa da cidadania e ao combate às desigualdades

Michel Jesus/Ag. Câmara
Michel Jesus/Ag. Câmara
Erundina: "Nossos sonhos nos mantém ativos e jovens, apesar da idade. O que me mantém jovem, ativa e acreditando na luta é o amor ao povo"

São Paulo – Primeira mulher prefeita de São Paulo. Ministra e deputada por sete legislaturas. Uma vida dedicada ao espírito público, à luta pela dignidade dos excluídos. Esta é Luiza Erundina, deputada federal pelo Psol, prestes a completar 89 anos, em dia 30 de novembro. O jornalista Juca Kfouri, da TVT, entrevistou esta figura emblemática e inspiradora da política nacional em seu programa Entre Vistas, na noite de ontem (5).

Erundina falou sobre sua história e sobre o que a motiva para continuar. “Nossos sonhos nos mantêm ativos e jovens, apesar da idade. O que me mantém jovem, ativa e acreditando na luta é o amor ao povo. Um povo que nos dá ânimo, alento e uma enorme esperança de um futuro melhor para todos que se encontram excluídos por uma sociedade injusta e desigual”, disse.

Ao apresentá-la, Juca lembrou de uma frase do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. “Existem pessoas que lutam um dia. Estas são importantes. Existem pessoas que lutam quase todos os dias. Essas ainda são mais importantes. E existem aquelas que lutam todos os dias, a vida inteira. Estas são imprescindíveis”, citou. “Então, é uma mulher em vias de completar 89 anos no dia 30 de novembro. Luiza Erundina, que dispensa apresentações”, completou.

Erundina: fruto da luta

Erundina lembrou de sua infância em Uiraúna, na Paraíba. Uma infância roubada pela realidade da luta. “Não me lembro de ser criança”, sentenciou Erundina. “Falando da velhice como estágio da vida, digo que não me lembro de ser criança. Minha mãe, lutadora, mãe de muitos filhos. Meu pai era artesão, não ganhava o suficiente para manter tantas bocas. Não me lembro de ser criança, de ter oportunidade de ter a liberdade que os adolescentes devem ter. Não tive, mas não faz mal”, refletiu.

“Nasci no sertão seco do Nordeste, vítima da seca, do latifúndio, da insegurança de toda ordem. Quando não se morre até os três anos, se cria a vida, dizíamos. A saga nordestina, a luta dos meus pais eu já tinha consciência muito cedo. Desde cedo líamos os sinais da natureza de seca e chuva. Então, amadurecemos cedo. Vivi uma juventude, desde quando nasci, adulta, participando de tudo que acontece em torno de nós”, finalizou.

Então, finalmente, Erundina enxerga a luta em defesa dos que mais precisam como intrínseco à realidade de sua vida. E essa luta não é apenas sua. É de todos, inseridos no ambiente de desigualdade. “Então, a luta não é individual. É coletiva. Só tem eficácia, só persevera quando muitas pessoas sonham o mesmo sonho e acreditam que é possível tornar realidade através de um poder que acumulamos na vida das pessoas. Então, há os três poderes, contudo não falamos do principal, que é o poder popular. Que nos transfere poder de representação. Então, é preciso ter presente esse poder presente, com respeito.”