Mobilização nacional

Após atos no sábado, ‘Mulheres com Lula’ preparam novos protestos pelo país

Em balanço da marcha das mulheres “juntas pelo Brasil e pela democracia”, a ativista Maria Fernanda Marcelino destaca a importância da disputa pelo voto das mulheres evangélicas

MMM/Twitter/Reprodução
MMM/Twitter/Reprodução
"É mais perigoso ser mulher hoje neste governo do que em outros. E as mulheres evangélicas têm essa capacidade de olhar para a realidade concreta do que elas viveram neste governo", aposta

São Paulo – A marcha nacional de “Mulheres juntas pelo Brasil” em defesa da democracia e em apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República já prepara novos atos de rua após o início da campanha eleitoral, nesta terça-feira (16). De acordo com a ativista Maria Fernanda Marcelino, integrante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e da Sempreviva Organização Feminista (SOF), os atos no sábado (13) surpreenderam positivamente a organização e novas atividades serão preparadas em data a ser confirmada. 

O objetivo, de acordo com os movimentos sociais, “é eleger um governo que defenda verdadeiramente as mulheres e os homens da classe trabalhadora, que devolvam os direitos. (…) Agora vamos poder fazer campanhas e faremos com a alegria e a força que são necessárias para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo”, afirmou Maria Fernanda. O anúncio foi feito em balanço sobre os protestos de rua em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual

Foram centenas de atos por todo o país. Em São Paulo, a manifestação ocorreu pela manhã na Escadaria do Teatro Municipal, região central da capital paulista. De acordo com a ativista, que participou da atividade, foi grande a adesão das pessoas que passavam pelo local e pararam para dialogar com os movimentos sociais e feministas e as alas femininas do PT, Psol, PCdoB, PSB, PV, Rede e Solidariedade, que encabeçavam a mobilização. 

Violência e Bolsonaro

“Em outros momentos, quando íamos fazer denúncias e dialogar com a população, a gente sentia um rechaço, uma negativa na recepção do que estávamos falando. E nesse sábado foi bastante interessante a receptividade dos transeuntes, e em especial das mulheres, para o que a gente estava falando e com a distribuição de panfletos. Foi bem bacana perceber principalmente das mulheres essa boa recepção”, descreveu Maria Fernanda. 

O movimento de mulheres defende como centralidade a vida humana, o trabalho, o direito à renda e faz oposição à miséria que prejudica sobretudo as mulheres, principalmente as negras. Elas também cobram o fim da violência contra essa população e o direito ao aborto. Além de defenderem a derrota de Bolsonaro diante do candidato do PT. A avaliação é que o atual governo é responsável pela violência que tira a vida dessa população feminina, tanto pela falta de políticas públicas como pela liberação da posse de armas de fogo. 

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que o feminicídio aumentou quase 50% de 2016 para cá. Bolsonaro também aplicou neste ano o menor recurso dos últimos quatro para as políticas de combate à violência contra a mulher. “Queremos um país que tenha mais livros e menos armas. E temos um presidente que desonera a indústria armamentista e que usa da religião e da fé das pessoas para manipular em torno de pautas morais que são na verdade mentirosas. A gente sempre sabe que por trás do uso da religião temos aí interesses econômicos. E são esses interesses econômicos que alimentam esse governo, que dão sustentação a ele”, critica a ativista. 

Mulheres evangélicas

O objetivo dos movimentos feministas é também conquistar o apoio de pelo menos parte das mulheres evangélicas. Apesar de ser um dos únicos segmentos em que Bolsonaro supera Lula, o voto feminino também é um obstáculo para o candidato à reeleição. Diante de sua rejeição nesse eleitorado, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi escalada para tentar angariar o apoio das mulheres evangélicas. Michelle assumiu o protagonismo da campanha neste sábado ao participar das Marcha para Jesus, no Rio de Janeiro. 

No evento, ela voltou a atacar os governo anteriores, chamando de “demônios”, apelando para a questão moral e religiosa. “Vamos declarar que essa nação pertence ao Senhor. As portas do inferno não prevalecerão contra a nossa família, contra a Igreja Brasileira e contra o nosso Brasil”, declarou Michelle.

Maria Fernanda acredita, contudo, que as mulheres evangélicas são um eleitorado em disputa. “Claro que entre as mulheres evangélicas, ele (Bolsonaro) tem uma adesão. Mas ela não é 100%. A gente vê, por exemplo, grupos de mulheres evangélicas fazendo um contradiscurso, desnaturalizando e desconstruindo que o governo Bolsonaro atuou em prol das mulheres”, contesta. “Nós acreditamos na sanidade dessas mulheres de enxergar o quanto a nossa vida piorou, como é mais perigoso ser mulher hoje neste governo do que em outros. E as mulheres evangélicas têm essa capacidade de olhar para a realidade concreta do que elas viveram nesse governo”. 

Confira a entrevista