Água fria

Pesquisas levam ‘frustração generalizada’ à campanha de Bolsonaro, diz cientista política

Resultados para Bolsonaro estão “muito aquém do esperado”, destaca Mayra Goulart, da UFRJ, mesmo com “investimento vultoso e de caráter meramente eleitoreiro” para impulsionar campanha

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Tanto pesquisa do Ipec quanto da FSB mostram possibilidade de derrota de Bolsonaro em primeiro turno

São Paulo – As pesquisas eleitorais do Ipec e FSB divulgadas ontem (15) trouxeram resultado “muito aquém do esperado” pelo presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é da professora de ciência política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em entrevista a Rafael Garcia, do Jornal Brasil Atual, Mayra afirma haver “frustração generalizada” na campanha à reeleição do presidente. A pesquisa FSB, contratada pelo banco BTG Pactual, mostrou crescimento de Lula (PT), que com 45% pode vencer no primeiro turno. Apesar da injeção bilionária de recursos em ações eleitoreiras, o candidato do PL segue estacionado em 34%. 

Já a pesquisa eleitoral do ano feita pelo Ipec, encomendada pela TV Globo, traz Lula 12 pontos à frente de Bolsonaro, com 44% a 32%. E como tem mais intenções de votos do que a soma dos adversários, também tem chance de evitar o segundo turno. “Bolsonaro vem obtendo um baixo retorno, mesmo a partir desse investimento vultoso e de caráter meramente eleitoreiro que ele iniciou agora na campanha”, afirma a professora. Mayra Goulart atua no programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ). Além disso, é coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada das duas instituições federais.

“Se a gente estivesse em uma eleição normal, em que um dos candidatos injetasse tanto dinheiro na economia, o resultado em termos intenção de voto seria muito maior”, acredita a especialista. Ela cita o Auxílio Brasil turbinado, os vales combustíveis para taxistas, caminhoneiros e motoristas de aplicativo e queda nos preços da gasolina e da energia elétrica.

Consequências

Mas o cenário indicado pelas pesquisas não surpreende a professora, que não descarta a hipótese de a eleição se resolver em primeiro turno. Especialmente pelo fato de não ter uma terceira candidatura forte. O Ipec mostrou que o terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT) tem 6%. Em seguida, aparecem as candidatas Simone Tebet (MDB), com 2%, e Vera Lúcia (PSTU), com 1%. Os demais nomes não atingiram nem 1%.

A confirmação dessa hipótese, acredita a cientista política, evitaria mais tensões por parte de Bolsonaro, que vem ameaçando não respeitar os resultados das urnas. Isso porque, para ela, a elite política não se associará a Bolsonaro numa investida contra as urnas eletrônicas. Pois também seria prejudicada com uma ruptura institucional. “E, como nós sabemos, o nosso Congresso é acima de tudo fisiologista. (Os parlamentares) Estão preocupados com a sua renovação de mandato. Por isso que é importante que, se for possível, essa eleição se resolva em primeiro turno”, justifica.

Nesta quarta-feira (17), o instituto Quaest divulga mais uma pesquisa de abrangência nacional, contratada pelo banco Genial. Na quinta (18), sai mais um levantamento do Datafolha, a pedido da Globo e do jornal Folha de S.Paulo.

Início da campanha 

A cientista política também comentou sobre o início oficial da campanha eleitoral nesta terça (16). Como primeiro ato, Lula escolheu voltar às suas raízes sindicalistas, em visita à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo, no ABC paulista. Enquanto Bolsonaro fará ato em Juiz de Fora, Minas Gerais, no local onde foi atingido por uma facada durante a campanha de 2018. A escolha dos candidatos já revela “um descompasso entre as duas histórias”, observa Mayra.

“Lula escolhe iniciar sua campanha no lugar que ele tem uma trajetória como líder sindical. Alguém que construiu um movimento sindical importante com consequências determinantes para a vida dos trabalhadores. E Bolsonaro escolheu um lugar que obteve uma grande vantagem nas eleições. Porque esse foi o principal retorno da facada, um impulsionamento de sua campanha que tinha pouco tempo de televisão. E, com a facada, aumentou esse tempo, e também (Bolsonaro provocou) medo da esquerda. O que é tão importante para um candidato da extrema direita chegar ao poder e foi muito alimentado pela facada”, adverte. 

Saiba mais na entrevista

Redação: Clara Assunção