É dada a largada

Campanha eleitoral começa nesta terça e pode levar Lula a vencer no primeiro turno, avalia especialista

Para Paulo Niccoli Ramirez, o petista é o que mais deve se beneficiar da propaganda eleitoral, iniciando o período com “pé direito” em meio à divulgação de manifestos pela democracia

José Cruz/ABr
José Cruz/ABr
Campanha eleitoral prevê propaganda na internet, em carros de som e comícios, além de caminhadas, carreatas, passeatas e a distribuição de material gráfico

São Paulo – Entre os candidatos que concorrem ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o que mais pode se beneficiar com o início oficial do período eleitoral, nesta terça-feira (16). Na avaliação do cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a campanha eleitoral – que prevê propaganda na internet, em carros de som e comícios, além de caminhadas, carreatas, passeatas e a distribuição de material gráfico – tem tudo para ser “um ponto determinante para a ascensão de Lula e da campanha do PT”, avalia. 

A propaganda eleitoral começa nesta terça após o prazo para registro das candidaturas para os cargos no Executivo e no Legislativo, que se encerra nesta segunda (15). Pela lei, a partir do dia 26 de agosto, terá início também o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão que vai até 29 de setembro. Lula também é o candidato que terá mais espaço nos meios de comunicação. O petista contará com cerca de 3 minutos e 21 segundos duas vezes por dia, às terças, quintas e sábados. E de sete a oito inserções publicitárias diárias de 30 segundos em meio à programação de cada emissora. 

O tempo dos candidatos é calculado levando em consideração a quantidade de deputados federais que têm os partidos de cada candidatura. O atual presidente vem na sequência, com o segundo maior tempo de campanha no rádio e na TV. Bolsonaro terá 2 minutos e 42 segundos para as propagandas fixas e seis peças de 30 segundos na grade geral de intervalos. 

O que esperar das campanhas

Para Niccoli, a campanha bolsonarista já mostra temor com a maior presença de Lula na campanha eleitoral. Em entrevista a Rafael Garcia do Jornal Brasil Atual, o cientista avalia que Bolsonaro já alcançou seu pico de votos mesmo detendo, até o momento, a máquina pública e atenção da mídia. De acordo com a pesquisa FSB, divulgada nesta segunda, o ex-presidente se mantém na liderança e obteve quatro pontos a mais na última semana, voltando ao patamar de 45% das intenções de voto. Enquanto o atual mandatário ficou estacionado nos 34%. 

“Essa apresentação do Lula mais pela mídia e pela campanha eleitoral obrigatória poderá alavancar uma eventual vitória em primeiro turno. Tudo dependerá dos marqueteiros, porque o que vamos ver nessa campanha é uma verdadeira batalha de rejeições. Os bolsonaristas ainda usando teses antigas, envolvendo o PT e o Lula em corrupção. Tese essa que o Lula consegue se defender muito bem, uma vez que os processos de Sergio Moro (ex-juiz da Lava Jato) evaporaram literalmente da mídia”, aponta Nicolli. 

“O Lula por sua vez, nessa batalha de narrativas, tem condições de aumentar a rejeição de Bolsonaro. Já que o Brasil passa por situações tenebrosas de fome, miséria, desemprego, fora a questão da pandemia e do desmatamento. O Bolsonaro é um presidente com um combo de catástrofes”, prossegue. 

Leia mais: Quatro em cada 10 bolsonaristas veem corrupção no governo Bolsonaro, e votam nele mesmo assim

Lula e a democracia

Essa eleição, segundo o cientista político, tem ainda um caráter plebiscitário, em que pela primeira vez na história do Brasil há dois presidentes concorrendo. Muito mais do que o elemento moral, deve pesar sobretudo o aspecto econômico, garante Niccoli. E Bolsonaro tende a se enfraquecer também nesse campo. O professor observa ainda que o candidato do PT também leva um bônus com a mobilização da sociedade civil em defesa da democracia e do sistema eleitoral. 

Na último dia 11 de agosto foram lançados dois manifestos, um na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e outro pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), considerados respostas às ameaças golpistas de Bolsonaro que fala em não aceitar o resultado das urnas, em caso de derrota. Os documentos marcaram ainda o desembarque de vários segmentos sociais, como os empresários, que antes apoiavam massivamente o atual presidente. 

Leia mais: Coletivo da USP lança manifesto sobre risco à democracia, em aula aberta com Lula e Haddad

“O Lula conseguiu com essa trama das cartas não ser apenas um representante da centro-esquerda, mas também dos progressistas, de parte do empresariado, de uma certa direita menos conservadora. Esse é o cenário que torna o Lula favorito, não exatamente por ser o candidato da esquerda, mas sim o representante da democracia. Essa semana começa para valer a campanha. Vamos ver argumentos de todos os lados contra e a favor dos dois favoritos, que são Lula e Bolsonaro”, conclui Paulo Niccoli Ramirez. 

Confira mais detalhes na entrevista


Leia também


Últimas notícias