Proselitismo

Mulheres evangélicas veem ‘uso político da fé’ na campanha de Michelle

Primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi escalada para ampliar a aceitação do presidente entre as mulheres evangélicas. Hoje, 39% delas dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum

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stratégia pode, no entanto, não render bons frutos. ‘Evangélicos, de modo geral, não gostam da apropriação do púlpito para fins políticos da forma com que eles estão fazendo”, diz Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

São Paulo – Coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, a jornalista Nilza Valéria avalia como “promíscua” a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) que vem utilizando de cultos evangélicos e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para ampliar sua aceitação entre as mulheres cristãs. Em entrevista a Rafael Garcia, do Jornal Brasil Atual, na edição desta quarta-feira (10), a religiosa condenou a estratégia eleitoral que classifica como “uso político da fé”. “Primeiro que essa estratégia do ponto de vista bíblico, evangélico e cristão, ela nem deveria existir”, criticou Nilza. 

Desde a convenção do PL, que oficializou a candidatura do mandatário, no final de julho, a primeira dama vem ganhando cada vez mais espaço na campanha de Bolsonaro. No último domingo (7) ela participou de um culto, em Belo Horizonte, onde voltou a comparar a disputa, que tem como principal adversário o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas como favorito à Presidência da República, como uma “guerra do bem contra o mal”. 

Acompanhada de Bolsonaro, Michelle ainda afirmou na ocasião que, antes de o casal chegar ao poder, o Palácio do Planalto era “consagrado a demônios”. E que, atualmente, é “consagrado ao Senhor Jesus”. A fala foi repudiada pela Frente Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, conforme reportou a RBA. Mas a declaração foi seguida por nova polêmica, dessa vez também racista, proferida pela primeira-dama que atacou Lula e as religiões de matrizes africanas.

Desespero de Bolsonaro

Michelle compartilhou uma publicação da vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos-SP), que diz que Lula “entregou sua alma para vencer essa eleição”. O texto é acompanhado por um vídeo que exibe um encontro do petista com duas mães de santo, em Salvador, no ano passado. Para a coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, as investidas do casal Bolsonaro revelam o “desespero” de sua campanha “por saber que, sobretudo entre as mulheres evangélicas, ele (presidente) tem um altíssimo índice de rejeição”, observou Nilza. 

De acordo a última pesquisa Datafolha, apesar de Bolsonaro superar Lula no eleitorado evangélico  – o atual presidente tem 43% dos votos contra 33% do ex-chefe do Executivo – a vantagem do candidato do PL sobre o do PT entre as mulheres evangélicas é bem menor do que a observada entre os homens evangélicos, acompanhando o movimento de mulheres, em geral, que rejeitam mais Bolsonaro do que Lula. 

Rejeição das mulheres evangélicas

Ao todo, 48% dos homens que se dizem tementes a Deus declaram voto no atual presidente no primeiro turno, enquanto 28% preferem Lula. Entre as evangélicas, contudo, 29% votam em Bolsonaro e 25% em Lula. Pelo menos 34% responderam não saber em que votar no dia 2 de outubro. E até 39%  delas também destacam que não votarão em Bolsonaro de jeito nenhum, e 45% rechaçam o voto em Lula.  

“Ele tem um altíssimo índice de rejeição entre as mulheres evangélicas”, ressalta Nilza. “E o que vimos em Minas Gerais (no domingo) é um aprofundamento dessa estratégia. Mas, tirando a igreja que o convidou, via de regra, evangélicos não aprovam o uso do púlpito por políticos. Então ele (Bolsonaro) pode até ganhar com isso por um lado, mas ele vai perder também, porque é uma estratégia muito ousada e evangélicos, de modo geral, não gostam da apropriação do púlpito para fins políticos da forma com que eles (presidente e primeira-dama) estão fazendo”, acrescenta. 

O movimento cristão, coordenado pela jornalista, avalia que Bolsonaro não contará principalmente com os votos dos fiéis das igrejas mais independentes, que não obedecem a nenhuma lógica com estrutura denominacional. São nesses templos, de acordo com Nilza, que estão a maioria do povo evangélico. 

Saiba mais na entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima