Crise Hídrica

‘Alckmin merecia o prêmio Pinóquio’, defende trabalhador da Sabesp

Em protesto na capital paulista, manifestantes ironizaram prêmio de gestão de recursos hídricos de Alckmin, a quem consideram responsável pela crise e não pela solução

Folhapress

Alckmin sempre negou que falte água na Região Metropolitana de São Paulo, apesar das reclamações

São Paulo – O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema), René Vicente, afirmou hoje (13) que o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), não merece uma congratulação pela gestão dos recursos hídricos, mas sim um “prêmio Pinóquio”. “Ele está mentindo para a população, não expõe a verdadeira situação e o risco de colapso dos reservatórios”, afirmou. Alckmin foi indicado ao Prêmio Lúcio Costa, da Câmara Federal, na categoria gestão de recursos hídricos. E considerou o prêmio “modéstia à parte, merecido”.

A congratulação será feita hoje, às 20h, mas o governador não irá. Temendo constrangimentos, mandou seu secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga. Para Vicente, o prêmio “é forjado”, já que a indicação a ele foi feita pelo deputado federal tucano João Paulo Papa, nomeado para a direção da Sabesp em 2013, pelo próprio Alckmin. “O que temos assistido, na verdade, é a absoluta falta de investimentos e planejamento, que nos levou a essa crise”, disse o presidente do Sintaema, em protesto contra a premiação, realizado na tarde de hoje, na capital paulista.

O governador sempre negou que falte água na Região Metropolitana de São Paulo, apesar do número de reclamações por esse motivo, na própria Sabesp, ter aumentado. Vicente reafirmou a denúncia de que os trabalhadores da empresa têm sido orientados a realizar o fechamento da rede. “Alckmin fala de redução de pressão, mas não é só isso. É corte no fornecimento”, disse.

“Eu queria saber quantas vezes o governador teve de pegar água de chuva para lavar roupa, limpar casa. Ou estocar mais de 200 garrafinhas para poder cozinhar e beber, porque a gente percebe a água ir embora, mas não sabe quando ela volta. Lá isso é todo dia”, afirmou Fernanda Kelly de Oliveira, moradora de Guaianases, extremo leste da capital, exemplificando a denúncia de Vicente.

Para o coordenador do Coletivo de Luta pela Água, Edson Aparecido da Silva, o prêmio é uma falta de respeito à população paulista. “A população da periferia tem sofrido muito com a falta de água e tem feito esforço imenso para sobreviver a isso”, afirmou.

Silva ressaltou que Alckmin é responsável pela crise e não pela solução. “Havia muitas medidas indicadas para não passar por isso. Reduzir demanda do Sistema Cantareira, investir em tratamento de esgoto, reduzir perdas. Sabe-se disso há anos, mas nada foi feito”, afirmou.

Hoje, o coletivo, em parceria com a Aliança pela Água, o Greenpeace e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), divulgou um relatório sobre a violação de direitos humanos e as responsabilidades governamentais pela falta de água na Região Metropolitana de São Paulo. O relatório será entregue à Organização das Nações Unidas (ONU), acompanhado de um pedido para que o órgão adote as providências cabíveis e solicite explicações oficiais dos governos e agências reguladoras.

Para as entidades, Alckmin “demonstra indiferença e desprezo à legislação e ao planejamento capaz de assegurar segurança hídrica” e a crise é “resultante da falta de planejamento e descumprimento de dispositivos previstos na legislação”.

Segredos

O site IG revelou hoje que o governador decidiu impor sigilo sobre informações relativas a rodízio e manutenção do abastecimento ininterrupto de água, sob alegação de temer “ações terroristas”. Segundo a Sabesp, informar os locais em que não pode faltar água, como hospitais, “poderia ensejar ações com potencial para absoluto descontrole social, colocando inclusive em risco a vida dos pacientes”. A medida vai na contramão daquilo que as entidades mais reclamam, que é a falta de transparência sobre a gestão da crise.

Dentre informações definidas como secretas poderão ser inseridos os motivos de corte no abastecimento que ocorre todos os dias em vários bairros da capital paulista, além de informações sobre a qualidade da água e sobre obras para enfrentamento da crise. A população não poderá ter acesso a esses documentos pelos próximos 15 anos.

“O dano ou a sua ameaça ao sistema de abastecimento público de água traria enorme prejuízo à sociedade, podendo ensejar inclusive depredações e violência contra os órgãos do estado. O uso de tais informações para planejamento de ações terroristas é uma hipótese remota, porém, não pode ser descartada”, justificou a Sabesp.

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