São Paulo – A prefeitura de Sorocaba (SP) e empresários bolsonaristas pressionaram, e dois outdoors com as frases “A fome voltou” e “O Brasil piorou” foram retirados ontem (14) das laterais de um supermercado na rodoviária principal da cidade. Sem menção ao governo federal, nome ou foto do presidente Jair Bolsonaro (PL), os painéis foram colocados em uma unidade do supermercado Paulistão na segunda-feira (11). E deveriam ficar no local por duas semanas, conforme contrato assinado com a agência de publicidade. Porém, permaneceram por apenas dois dias.

“A administração da rodoviária alegou que os painéis estavam causando tumultos e que poderiam ser depredados. Mas houve pressão política, nós sabemos, e o mercado tirou os outdoors. E sabíamos também que teríamos de tirar, sem ser ressarcidos, por se tratar de mensagem com conteúdo político, disse à RBA Erick Santos, porta voz do movimento Fora Bolsonaro SP.

Para ouvir a versão oficial, a reportagem procurou a Secretaria de Mobilidade e Acessibilidade da Prefeitura de Sorocaba, que junto com a Urbes Trânsito e Transportes administra a rodoviária. Porém, até a conclusão da reportagem, o órgão não havia se manifestado. O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Maganhato, é filiado ao Republicanos, partido aliado de Bolsonaro. Nas redes sociais, Maganhato, mais conhecido como Manga, é todo elogios com Bolsonaro.

Prefeito apoiador de Bolsonaro

O prefeito, quando vereador, expunha nas redes encontros com Bolsonaro em eventos como a Marcha para Jesus, por exemplo. Sempre com muitos comentarios de aprovação e admiração da amizade. Em 2018, Sorocaba deu a Bolsonaro 257 mil votos. Isso significa que 73% do total de eleitores sorocabanos votaram no atual presidente.

De acordo com o movimento, esta é uma das razões de Sorocaba ter sido incluída na campanha para estimular o debate em torno da atual situação econômica e política do país. A outra é o fato de ser polo regional e a quarta maior cidade do interior paulista.

“A parede do supermercado foi escolhida estrategicamente para que as pessoas, ao pagar R$ 770 na cesta básica em meio a uma inflação de 12%, não tenha dúvida de que o Brasil piorou’, disse o porta do movimento Fora Bolsonaro SP. “Com o aumento dos preços, a fome e a piora na qualidade de vida, eles precisam lembrar lembrar quem é o culpado”, disse Erick.

Volta da fome em debate

Outros outdoors com os dizeres sobre a volta da fome no Brasil e que o pais piorou foram instalados às margens da Rodovia dos Bandeirantes, na altura de Jundiaí, na Rodovia dos Imigrantes, altura de Diadema, no ABC paulista, e no Guarujá, litoral sul. Assim como em Sorocaba, Bolsonaro teve votação expressiva em Jundiaí, com 173 mil votos, 78% dos votos, e Guarujá. Na cidade praiana, recebeu quase 88 mil votos, ficando com 55%.

O objetivo da colocação é estimular o debate e a reflexão sobre a atual situação, segundo o movimento. “A estética dos outdoors, com a presença do verde e amarelo, busca dialogar justamente com o eleitor que foi enganado em 2018, e agora percebe que a situação piorou também para ele,” disse o porta-voz. 

Campanha semelhante foi realizada três vezes em 2021. E até então nenhum outdoor havia sido retirado. Para Erick, pode ter pesado na decisão dos gestores sorocabanos o momento atual, de acirramento da violência política nos meses que antecedem as eleições. E citou o caso do assassinato de Marcelo Arruda, liderança do PT em Foz do iguaçu no último fim de semana, por disparos de um apoiador de Bolsonaro.

Brasil de fome e outras mazelas

Marco Martins, outro porta-voz do movimento, lembra a escalada da fome no Brasil. O número de pessoas em situação de insegurança alimentar subiu 74% no período de dezembro de 2020 e abril de 2022, conforme apontou a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). 

E também o aumento no preço dos combustíveis, os cortes no Ministério da Educação em meio a denúncias de corrupção, que sofreu uma redução orçamentária de mais de R$ 3 bilhões em 2021. Fora outras mazelas, como o crescimento do desmatamento da Amazônia, que segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) somente nos últimos três anos aumentou 56,6%, atingindo quase 4 mil quilômetros de área desmatada. O acumulado é 80% maior que a média do período em 2018, pior índice desde o início da série histórica do Instituto. 

“Muitos eleitores foram enganados pelas falsas promessas de Bolsonaro, que aproveitou de um desejo genuíno de mudança da população. Esperavam um governo sem corrupção e  uma vida melhor. Mas o que receberam foi exatamente o contrário: o pior governo da história, milhares de escândalos e a volta da inflação e da fome”, diz Martins.

Confira a campanha ‘Fora Bolsonaro’ em outras localidades