Atos por justiça

Jovens ocupam quiosque Tropicália por justiça para Moïse e todas as vítimas do racismo

Protesto marcou a madrugada desta quinta, na praia da Barra, no Rio. Com cartazes “fogo nos racistas”, integrantes do Levante Popular da Juventude denunciaram a brutalidade do crime contra a vida do jovem congolês

Matheus Alves/Levante Popular da Juventude
Matheus Alves/Levante Popular da Juventude
Vestidos de preto, os ativistas ocuparam uma faixa da via onde levantaram cartazes e faixas por justiça também a outras vítimas do racismo no Brasil.

São Paulo – Na madrugada desta quinta-feira (3) houve protesto no Rio de Janeiro por justiça ao congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos. Cerca de 50 ativistas do Levante Popular da Juventude foram até o quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense, onde o jovem foi espancado até a morte, e cobraram justiça por Moïse e a responsabilização dos culpados pelo crime. 

Vestidos de preto, os ativistas ocuparam uma faixa da via onde levantaram cartazes e faixas por justiça também a outras vítimas do racismo no Brasil. Desde as 8h, o Levante também promove protestos virtuais com um tuitaço com a hashtag #FogoNosRacistas. Em comunicado nas redes sociais, o movimento destacou a morte de Moïse como “inaceitável”. Assim como “é o silêncio das autoridades sobre o ocorrido, comportamento institucional que não se restringe ao Moïse, mas a tantos outros que tiveram suas vidas ceifadas pelo racismo: Marielle Franco, João Pedro, Miguel”, contestam. 

Moïse trabalhava servindo mesas no quiosque Tropicália, no Posto 8 da praia da Barra. Mas, de acordo com familiares e amigos, ele acabou sendo assassinado, no dia 24 de janeiro, depois de cobrar remuneração atrasada referente a dois dias de trabalho, no valor total de R$ 200. Imagens da câmera de segurança do local, enviadas à imprensa pela Polícia Civil na terça (1º), mostram que três homens espancaram até a morte o trabalhador por pelo menos 20 minutos com pauladas e um taco de beisebol. O crime ocorreu enquanto o quiosque operava normalmente, com um atendente no balcão. 

Bolsonaro e sua ingerência

Moïse foi encontrado pela polícia amarrado e sem vida em uma escada no local. A perícia indicou que Moïse tinha várias “áreas hemorrágicas de contusão” e vestígios de broncoaspiração de sangue. No atestado de óbito foi registrada como causa da morte traumatismo do tórax com contusão pulmonar provocada por ação contundente. Oito dias após o crime, a Justiça do Rio decretou a prisão temporária de três homens apontados como agressores: Aleson Cristiano Fonseca, Fábio Silva e Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como ‘Tota’. 

O congolês chegou ao Brasil em 2011, com a mãe e os irmãos. Todos refugiados dos conflitos armados na República Democrática do Congo. Como tantos de seus conterrâneos, a família de Moïse fugia da guerra e da fome em seu país. Mas jovem veio a terminar como vítima da violência no Brasil.

Para o Levante Popular da Juventude, o assassinato de Moïse “escancara a veia xenofóbica e racista da construção social brasileira que se expressa no cotidiano de extermínio da juventude negra nas periferias brasileiras”. Mas ele também é uma “consequência da gestão de Jair Bolsonaro”, destacam. “(O presidente da República) vem destruindo as políticas de direitos humanos, prega o discurso de ódio e a marginalização da juventude negra e periférica”. A manifestação na madrugada desta quinta também marcou os 10 anos de nacionalização do movimento.

Atos em São Paulo e no Rio

A família de Moïse, a comunidade congolesa no Brasil e entidades organizadas do Movimento Negro irão realizar no Rio de Janeiro e em São Paulo atos neste sábado (5), às 10h, por justiça para o jovem. Na capital fluminense, a manifestação será em frente ao quiosque, na praia da Barra. Já na capital paulista, o protesto ocorrerá no Masp, na Avenida Paulista.

“A morte de Moïse é inaceitável e, tão inaceitável quanto, é o silêncio das autoridades sobre o ocorrido”, repudia o Levante POpular da Juventude em ato na madrugada desta quinta (3) / Foto: Matheus Alves

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima