LUTA POR JUSTIÇA

Filme mostra contradições policias no massacre do Paraisópolis, que completa dois anos

Análise reúne uma série de nove vídeos que desconstroem a versão da polícia de que houve resistência, pisoteamento e socorro. Data é lembrada hoje com ato de protesto e missa

REDE EMANCIPA
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O filme foi produzido pela Defensoria Pública, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e as famílias de vítimas

São Paulo – O massacre do Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, que deixou nove jovens mortos durante ação policial no baile funk do DZ7, completa dois anos nesta quarta-feira (1º). Para contestar a versão dos policiais e mostrar as contradições do caso, foi lançado hoje o filme Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas.

O material foi produzido pela Defensoria Pública, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e as famílias de vítimas. O objetivo do curta é mostrar que a ação da Polícia Militar, na favela paulistana, não é um acidente, mas um massacre.

Com apoio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Caaf/Unifesp), o filme traz conclusões sobre o caso, como o fato dos nove jovens, que morreram durante dispersão do baile funk, já chegarem mortos ao hospital. Antes, esperaram 34 minutos até que fossem resgatados.

Ainda segundo o material audiovisual, os policiais militares mentiram que vítimas pediam socorro quando já estavam desfalecidas no chão e ao dizer que estavam cercados, impedindo que os primeiros socorros fossem realizados.

Pedido por justiça

A análise reúne uma série de nove vídeos que desconstroem a versão da polícia de que houve resistência, pisoteamento e socorro. Outros pontos analisados pelo Caaf também corroboram a investigação da Polícia Civil, de que os policiais militares encurralaram as pessoas, agredindo e lançando spray de pimenta e bomba de gás, e que os laudos dos corpos indicaram que oito das nove vítimas faleceram por asfixia por sufocação indireta.

Em julho, um relatório de indiciamento da Polícia Civil de São Paulo indicou que nove dos 31 policiais militares que atuaram durante no massacre de Paraisópolis, em dezembro de 2019, foram responsáveis pelo tumulto que levou à morte de nove jovens.

A produção do filme também analisou imagens de câmeras de segurança de ruas, que desmentem a versão de que os policiais estavam sendo atacados com garrafas e por isso usaram os artefatos. “O que as vítimas sofreram foi uma emboscada, foram cercados pela polícia”, afirmou Cassia Aranha, integrante do Caaf, à jornalista Jeniffer Mendonça, da Ponte Jornalismo.

Responsabilização

Nas redes sociais, os dois anos do massacre do Paraisópolis foram lembrados, seguidos por protestos pedindo a responsabilização dos agentes de segurança sobre as mortes ocorridas na operação policial.

“Hoje faz 2 anos que a Polícia Militar assassinou nove adolescentes e jovens periféricos, quase todos negros, no baile da DZ7. O Massacre de Paraisópolis entrou pra lista das incontáveis chacinas feitas pelos governos genocidas do PSDB nas favelas de São Paulo nos últimos 26 anos”, tuitou o estudante e palestrante Thiago Torres, o Chavoso, da Universidade de São Paulo (USP).

Além da responsabilização dos policiais, os familiares exigiram que ações da corporação contra bailes funks não fossem mais instituídas. “A Operação Pancadão é uma política de Estado que matou nossos jovens”, declarou Danylo Amilcar, irmão de Denys Henrique, uma das vítima do caso. “Pessoas que trabalham e estudam e tiram um momento para o lazer, que escutam funk, foram mortas e criminalizadas, não usavam drogas e não eram bandidos e, mesmo se fossem, isso não era tratamento digno para ninguém”, acrescentou ele à Ponte.

Ato em memória das vítimas

Nesta quarta, às 13h, haverá um ato por justiça e memória para as nove vítimas do massacre de Paraisópolis. A concentração será no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista. Depois, às 18h, será celebrada missa na Catedral da Sé.

“Vou somar com aqueles que se levantam para rememorar e denunciar o massacre de Paraisópolis. Vou me somar ao luto e à luta dessas famílias. Não foi pisoteamento, foi um massacre consciente dos policiais. Não houve resistência, foi uma violência deliberada contra pessoas indefesas”, afirmou Ruy Braga, professor de Sociologia da USP.

Gessica D’Paulla, da Rede Emancida, também endossou a necessidade de participar do ato. “Vamos comparecer para apoiar as mães desse massacre, porque elas estão em busca de justiça. Seus filhos tinham uma vida inteira pela frente e foram brutalmente assassinados. Os culpados continuam soltos e, se não lutarmos, esse caso cairá no esquecimento.”


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