Letalidade policial

Massacre de Paraisópolis: policiais provocaram tumulto que matou nove jovens

Relatório de indiciamento da Polícia Civil contesta a versão dos policiais de legítima defesa que foi aceita pela Corregedoria da PM

Mídia Ninja
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A investigação da DHPP, contudo, também concluiu que os militares "não tiveram a intenção de matar". Tese de homicídio culposo é contestada pelas famílias e moradores de Paraisópolis

São Paulo – Relatório de indiciamento da Polícia Civil de São Paulo indica que nove dos 31 policiais militares que atuaram durante o baile funk da DZ7, na comunidade Paraisópolis, em dezembro de 2019, foram responsáveis pelo tumulto que levou à morte de nove jovens. A conclusão do delegado do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Manoel Fernandes Soares, afasta a versão dos PMs de “legítima defesa”, que foi aceita pela Corregedoria da Polícia Militar para o episódio que ficou conhecido como massacre de Paraisópolis. 

De acordo com o delegado no relatório, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, os nove agentes da Força Tática do 16º Batalhão Metropolitano da PM “deram causa à correria de multidão de pessoas para a viela do Louro e à subsequente morte das vítimas”. Na avaliação de Soares, os policias também “não observaram o necessário cuidado objetivo que lhes era exigível, sendo previsível, no contexto da ação, a ocorrência de resultado letal”. 

A investigação da DHPP, contudo, também concluiu que os militares “não tiveram a intenção de matar”. Com isso, os nove agentes acabaram indiciados por homicídio culposo no caso do massacre de Paraisópolis. A tese é contestada pelas famílias e moradores de Paraisópolis, que apontam ação dolosa da PM, ou seja, que houve intenção de matar. Em entrevista à repórter Dayane Ponte do Seu Jornal, da TVT, o líder comunitário Gilson Rodrigues afirmou que o indiciamento responsabiliza a comunidade pelas mortes. 

Penitenciando a comunidade

“Quando se tem uma polícia preparada, você tem uma polícia que necessariamente deveria saber o que está acontecendo naquele território. E que qualquer ação poderia provocar uma reação que pudesse causar uma reação de violência como aconteceu. Apresentar isso como uma culpa da comunidade é mais uma vez penitenciar e não trazer justiça, é esconder um pouco os fatos”, contestou Rodrigues. 

As vítimas tinham entre 14 a 23 anos, quatro eram adolescentes. Exames periciais confirmaram que a causa das mortes foi asfixia mecânica, provocada por sufocação indireta. A perícia dos corpos também indicou marcas de pisoteamento, com contusões e ferimentos, que levaram os jovens a óbito quando eles foram encurralados pela polícia. Ao todo, outras 12 pessoas ficaram feridas. Desde a ação, os moradores de Paraisópolis vivem um trauma permanente. Até hoje, dos 31 PMs envolvidos na ocorrência, 14 não foram afastados e as operações policiais no bairro continuam provocando medo e incerteza. 

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