Transporte coletivo

Pacote de mobilidade de Doria e Nunes requenta obras antigas e não apresenta metas claras

Maior parte dos anúncios feito no pacote de obras urbanas, como o BRT Radial Leste, são ações prometidas há anos e que foram abandonadas. Poucos detalhes foram apresentados sobre prazos de início e término das obras

Governo do Estado de São Paulo
Governo do Estado de São Paulo
Segundo Doria, o principal objetivo do BRT Radial Leste é desafogar a Linha 3 Vermelha do Metrô e a Linha 11 Coral da CPTM. Na prática, o efeito pode ser contrário, alerta especialista

São Paulo – A maior parte das obras de mobilidade urbana, anunciadas na sexta-feira (5) pelo governador e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) e Ricardo Nunes (MDB), são ações prometidas há anos e que foram abandonadas. O pacote também não detalha parte dos prazos de início e término das obras.

Às vésperas do ano eleitoral de 2022, em que Doria pretende concorrer à presidência da República, governador e prefeito chamaram toda a imprensa para lançar o “Plano de Mobilidade Urbana”. O projeto prevê 27 obras, orçadas em R$ 5,5 bilhões, para aprimorar o transporte coletivo da capital. Entre eles, estão a construção de 11 novos corredores de ônibus, a requalificação de 30 quilômetros de corredores já existentes e a construção de quatro novos terminais de ônibus.

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A primeira fase do plano prevê a construção do corredor BRT Radial Leste, trechos 1 e 2 na zona Leste, e do Corredor Chucri Zaidan, na zona Sul. O trecho 1 do BRT Radial Leste vai do Parque Dom Pedro, no centro, até o cruzamento com a Avenida Aricanduva, na zona Leste. Já o segundo trecho ligará a Avenida Aricanduva à estação Itaquera, da Linha 3 Vermelha do Metrô. A expectativa é que essa obra custe pouco mais de R$ 700 milhões e beneficie cerca de 250 mil pessoas que usam o trecho diariamente. Segundo Doria, o principal objetivo do BRT Radial Leste é desafogar a Linha 3 Vermelha do Metrô e a Linha 11 Coral da CPTM.

Efeito contrário

O pesquisador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Rafael Calabria, avalia que a realidade demonstra que não há, contudo, a possiblidade de desafogar o metrô e os trens, mas sim de lotar o BRT. 

“Não dá para dizer completamente isso que eles estão afirmando porque o sistema de trilhos não é completamente integrado com os ônibus. Você paga dois terços de uma passagem quando você pega ônibus e metrô em São Paulo, são mais de R$ 7 nessa integração. Então a pessoa não tem uma opção perfeita entre um e outro. Uma pessoa que usa mais ônibus, se ela conseguir fechar com o BRT, ela vai usar mais ele. Na verdade pode ser que tenha um problema contrário e o BRT ficar superlotado. Porque os passageiros vão usar o BRT para economizar a integração do metrô”, adverte Calabria.

“Há indícios de que não vai desafogar o metrô. O trem, por exemplo, vai até Mogi e o metrô é um atendimento claro para quem precisa fazer integração para a zona Sul, a linha Azul e Amarela (do metrô). Então há evidências de que vai ficar o BRT e o Metrô lotados. Só vai desafogar quando liberar a Linha 6, que vai até o Aricanduva também. Tem que fazer também o monotrilho funcionar direito, lançar as conexões com a Linha 12. Quando tiver uma rede de trilhos e de BRTs na zona Leste, aí vamos ter um serviço de qualidade desafogado e menos lotados”. 

Sem prazos

A primeira fase das obras inclui a requalificação dos corredores de ônibus Norte e Sul, Santo Amaro e João Dias, Itapecerica, na zona sul da cidade, além do Imirim na zona norte. O que deve custar R$ 278 milhões.

Mas, embora o plano tenha sido lançado como alarde, a maior parte dessas obras já haviam sido anunciadas e abandonadas em um passado recente. É o caso do BRT Radial Leste, citado pela primeira vez na gestão de Gilberto Kassab (PSD) na prefeitura, em 2011. O projeto foi relançado como obra da Copa do Mundo de 2014 e novamente anunciado em 2018.

Além disso, nenhuma obra tem previsão para ser iniciada já que ainda estão em projeto e as licitações só devem ser lançadas no segundo semestre de 2022. 

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