Crises

Paulistanos usam menos transporte público e carro e andam mais a pé

Pesquisa da Rede Nossa São Paulo mostra que o aumento contínuo dos preços dos combustíveis, aliado à crise econômica e ao alto desemprego, está levando mais paulistanos a alterar forma de deslocamento

Rovena Rosa/EBC
Rovena Rosa/EBC
Pelo menos 20% dos paulistanos dizem que fazer trajetos a pé é o seu principal meio de transporte. Em 2017, esse número era de 8%

São Paulo – O número de pessoas que passaram a fazer trajetos a pé na cidade de São Paulo aumentou nos últimos cinco anos. Se em 2017, 45% dos paulistanos diziam se deslocar a pé em alguma parte do trajeto na maioria dos dias, hoje já são 57%. Além disso, 20% dos paulistanos dizem que fazer trajetos a pé é o seu principal meio de transporte. Em 2017, esse número era de 8%. Os dados são da pesquisa Viver em São Paulo – Mobilidade Urbana, divulgada pela Rede Nossa São Paulo nesta terça-feira (21). O levantamento também mostra que, por outro lado, o uso cotidiano dos transportes coletivos para deslocamentos na cidade caiu de 52% para 36%. Assim como o uso da bicicleta que sofreu uma queda de 6% para 3%. O uso do carro particular também diminuiu de 36% para 30%.

Entre quem reduziu o uso do automóvel, 35% apontaram o custo dos combustíveis como principal motivo. Outros 11% apontaram a necessidade de economizar dinheiro. No entanto, na faixa de entrevistados das classes A e B – com ganhos acima de cinco salários mínimos –, o uso do carro próprio, táxi ou aplicativo cresceu no mesmo período: de 34% para 54%, sendo a principal justificativa o medo da pandemia do novo coronavírus.

Influência da crise e do desemprego

O coordenador geral da organização, Jorge Abrahão, avalia que a redução do uso do carro e dos transportes coletivos é reflexo da crise econômica e do alto desemprego.

“Os números têm relação com a economia porque há uma quantidade de desempregados muito grande, a questão da renda é um problema sério na pandemia. E quem está deixando de usar o carro argumenta que o custo do combustível está muito elevado. Então o fator econômico tem influência grande na questão da mobilidade na cidade. E é importante também dizer que essa é uma oportunidade de olhar também as calçadas da cidade. Se as pessoas estão andando mais a pé, há um risco nas calçadas. Elas têm uma qualidade muito ruim na cidade de São Paulo, que é a cidade mais rica do país”, observa o coordenador.

Alertas sociais

O pesquisador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria, aponta ainda outros elementos que podem ter levado ao aumento dos deslocamentos a pé na cidade.

“Na visão do Idec, apesar de ser positivo ter pessoas caminhando na cidade, – é um modo de deslocamento sustentável e saudável, – ele deve ligar um alerta na prefeitura e na secretaria municipal de Transportes. Porque as pessoas podem estar ou com medo do transporte coletivo por causa da pandemia, ou expulsas pelo custo da tarifa, que continua aumentando, e as perdas de gratuidade e outros benefícios que aconteceram no período”, adverte o pesquisador.

“Então a prefeitura tem que tomar cuidado e garantir que as pessoas se sintam confortáveis e seguras para usar o transporte coletivo. E, por outro lado, atender melhor e ter um plano de atendimento a todas as pessoas que queiram se deslocar a pé na cidade”, completa.

Plano de deslocamento

Como destacado por Abrahão e Calabria, há uma necessidade de melhoria de calçadas e do viário em geral para garantir que os trajetos a pé sejam feitos em segurança. Segundo a pesquisa, 81% dos que estão se deslocando dessa forma pretendem continuar. Mas eles apontam grande preocupação com a situação das calçadas, em atravessar por faixas de pedestres e passar por cima ou por baixo de pontes e viadutos.

Outros achados da pesquisa mostram que a lotação do transporte coletivo é a principal reclamação dos usuários, seguida pelo preço da tarifa. Ao apontar uma significativa redução do uso da bicicleta como transporte cotidiano na capital paulista, o levantamento destaca o medo dos usuários de serem assaltados.  A insegurança em compartilhar as vias com os demais veículos e a falta de integração das ciclovias, cuja expansão foi paralisada ainda na gestão do ex-prefeito e atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB) também contribuíram no recuo do uso de bicicletas.

Um aspecto positivo encontrado pela pesquisa é que o tempo médio de deslocamento na cidade caiu de duas horas, em 2017, para 1 hora e 24 minutos em 2021, mesmo com a retomada das atividades econômicas.

Confira a reportagem

Colaborou: Clara Assunção