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VT: corte deixa passageiros a pé e reduz integrações da SPTrans em 8 milhões

Decisão da prefeitura de São Paulo de reduzir de três para duas as integrações possíveis com o Bilhete Único faz trabalhador completar trajeto casa-trabalho a pé

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Impacto do aumento da tarifa e do corte da integração no VT faz trabalhadores mudarem toda rotina de trajetos

São Paulo – O corte na integração do Bilhete Único Vale-Transporte (VT) está obrigando trabalhadores paulistanos a fazer parte do trajeto a pé ou a gastar mais tempo nos coletivos. Dados da São Paulo Transporte (SPTrans) revelam que o número de integrações dos usuários de ônibus caiu 8 milhões em março, primeiro período em que as integrações no VT foram reduzidas de três para uma.

No mesmo mês, o uso dessa modalidade de cartão subiu 5,8 milhões. Já os pagamentos em dinheiro e no bilhete comum ficaram na média. A diferença de quase 2 milhões indica que parte dos passageiros não está tendo condições de pagar mais uma tarifa e contradiz o discurso do prefeito Bruno Covas (PSDB) de que os empresários iriam bancar a mudança.

A gestão Covas reduziu as integrações do VT de três para uma e aumentou a tarifa dessa modalidade de R$ 4 para R$ 4,57, em 1º de março. Segundo os dados de passageiros transportados da SPTrans, o número de integrações de passageiros nos ônibus caiu de 58,4 milhões, em fevereiro, para 50,4 milhões, em março. Em relação aos últimos seis meses, a diferença é ainda maior. E chega a 16 milhões a menos se comparado a março do ano passado. Já a utilização do vale-transporte subiu de 35,7 milhões, em fevereiro, para 41,5 milhões em março. É o maior valor em seis meses.

“Esses dados indicam que parte das pessoas gastou algum saldo que houvesse a mais no VT no período. E quem não tinha sumiu dos dados, indicando que podem estar fazendo menos baldeações ou fazendo parte do trajeto a pé”, avaliou Rafael Calabria, pesquisador de mobilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Os dados de passageiros do mês de abril ainda não foram divulgados.

 

Estagiária de pedagogia, Ariana Costa teve de mudar todo o trajeto que fazia diariamente e passou a gastar uma hora a mais no percurso, tempo que deixa de passar com as duas filhas pequenas. Todos os dias ela percorre 25 quilômetros de Parelheiros, no extremo sul da cidade, até a Vila Mascote, na região do Jabaquara. “Para ir eu pego um ônibus para Santo Amaro, desço na Estação de Transferência Vitor Mazini e pego um pro Jabaquara. Mas na volta eu estou muito cansada e procurava chegar o mais rápido possível em casa. Era muito pesado pegar o Terminal Varginha, no Jabaquara, e depois pegar o Santa Terezinha, demorava demais”, contou.

Para reduzir o tempo gasto, Ariana passou a fazer três baldeações: Um ônibus até a Avenida Interlagos, dali pegava qualquer um até o Largo do Rio Bonito e lá pegava o Terminal Parelheiros pra ir para casa. “Estava conseguindo chegar em casa às 20h. Era um tempo a mais pra ficar com as minhas filhas que eu quase não vejo, porque saio de casa 5h30, todo dia”, relatou. Mas com a mudança na integração, a estudante não conseguiu mais manter essa rotina.

“Teve um dia que eu fiz esse trajeto e quando cheguei na Avenida Interlagos não tinha mais dinheiro no VT. Não sabia que tinha diminuído a integração, a prefeitura não informou direito”, reclamou a estudante.

Sem condições de completar a tarifa do próprio bolso e nem de conseguir um aumento na passagem paga pela empresa, Ariana mudou completamente o trajeto. “Agora eu vou do Jabaquara até o Largo Treze, em Santo Amaro, ando uma parte até o terminal e lá pego o Terminal Parelheiros. Se não tiver trânsito, chego em casa às 21h. É uma decisão muito cruel da prefeitura”, lamentou.

Quem ainda consegue pagar, tem bancado do próprio bolso. O operador de caixa Vítor da Silva Pedroso tem feito isso desde o dia 20 de março, situação que se repetiu em abril. “Com a redução da integração, o VT acaba antes do fim do mês. A empresa não vai compensar o valor que a prefeitura determinou”, afirmou.

Todos os dias, ele vai do bairro do Lauzane, na zona norte, para o Cambuci, na região central, utilizando dois ônibus e o Metrô. “Eu acho uma sacanagem da prefeitura mudar algo que ajudava tanto a população na locomoção de casa ao trabalho. Conheço pessoas que estão perto de perder o emprego. Eu sou obrigado a tirar do meu bolso, no final do mês, pra poder trabalhar”, afirmou Pedroso.

Em 26 de março, o desembargador João Carlos Saletti, do Tribunal de Justiça de São Paulo, concedeu liminar a três pessoas que ingressaram com Mandado de Segurança contra o corte nas integrações do VT. Ele acatou o pedido, argumentando que a medida da prefeitura de São Paulo era discriminatória. O magistrado determinou tanto a retomada das três integrações como a redução da tarifa de R$ 4,57 para R$ 4,30. No entanto, em 23 de abril, Saletti decidiu que essa ação contra a redução das integrações vale somente para os autores e não para toda a população.

Assim, os outros 1,2 milhão de pessoas que usam VT todo mês seguirão pagando R$ 4,57 na tarifa e tendo direito a apenas uma integração gratuita. O problema se agrava com a previsão de redução de linhas e aumento nas baldeações, conforme a nova licitação do transporte coletivo, realizada em 5 de fevereiro. Serão extintas 149 linhas e outras 186 terão seu trajeto reduzido. Isso vai levar a um aumento no número de integrações. Desde o início desse ano, as linhas noturnas também vêm sofrendo redução da oferta de ônibus.

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