“Interação não pode ficar restrita aos alfabetizados digitais”, diz pesquisadora

Núcleo da Unicamp trabalha em desenvolvimento de rede social que facilite acesso dos menos familiarizados à navegação na internet

Usuários de telecentro em Itapoã (DF). Discussão sobre inclusão digital (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Nos últimos três anos, um grupo de professores e alunos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no interior de São Paulo, reflete sobre como criar uma rede social online (RSO) para todos.

Fruto dessa pesquisa, vem sendo elaborado o VilaNaRede, projeto do e-cidadania. Tudo começou quando, em 2006, a professora Maria Cecília Baranauskas, titular do Instituto de Computação da Unicamp, respondeu à indagação da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) sobre os desafios do setor para os próximos dez anos no Brasil. A reflexão sobre a interface de usuário foi considerada importante e, desde então, a pesquisa começou a ser trabalhada.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, a pesquisadora destaca que se trata de uma questão culturalmente muito importante. “Uma solução que a Índia adote, por exemplo, provavelmente não seria interessante para a gente. Nada mais importante que pesquisadores do Brasil tomem para si essa responsabilidade”, pondera.

Rede nas redes

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A pesquisa leva em conta não apenas os aspectos técnicos, mas também o comportamento do usuário. Detectou-se que nenhuma das redes sociais existentes é satisfatoriamente inclusiva – ou universal. O grupo do e-cidadania analisou ao longo do tempo algumas redes genéricas ou de caráter lúdico, como Orkut e Facebook, e outras mais restritas.

A conclusão é de que toda a interatividade não pode ficar restrita apenas aos “culturalmente alfabetizados” na tecnologia digital. “As redes são desenhadas para alguém que já faz parte dessa estrutura, e o que a gente quer fazer é trazer aqueles que ainda não fazem parte”, afirma a professora.

Diretrizes

Para garantir um alcance maior, foram estabelecidas diretrizes que devem ser levadas em conta na hora de construir uma rede social voltada a todos os brasileiros que acessam a internet – desde os mais familiarizados até aqueles que não têm um convívio tão grande com a rede mundial de computadores.

Levar em conta as limitações e as habilidades da população deveria guiar o processo de composição dos projetos, na opinião dos integrantes do e-cidadania. Com isso, as sugestões contemplam, por exemplo, criar recursos alternativos de autenticação para pessoas com nível mais baixo de alfabetização. No lugar de letras e números, figuras poderiam ser utilizadas.

Outro fator a ser tomado em consideração é a entrada na rede social independentemente de se ter ou não uma conta de email – uma alternativa na hora de realizar o cadastro poderia ser o fornecimento do número de telefone celular, ao qual uma parcela muito maior da população tem acesso. Há também a sugestão de que as comunidades funcionem de maneira descentralizada, sem uma moderação, diferentemente do Orkut.

O uso de diferentes mídias é importante, desde que haja integração e nenhuma delas limite, por exemplo, o acesso de deficientes visuais ou auditivos a determinados recursos.

Orkut, Facebook, Twitter: como explicar que tantas redes surjam, uma após a outra, e uma assumindo o lugar da outra como a mania da vez no relacionamento via internet? Para Maria Cecília Baranauskas, a efemeridade diz respeito à impossibilidade de “desenhar um sistema que não contemple a participação do usuário na composição desse sistema. O que precisa mudar é a maneira como as pessoas desenvolvem esse software”.

Daí a importância de conseguir um design universal, “que não discrimine”, nas palavras da pesquisadora.