Transporte

Tatto se desculpa e admite rever cortes em linhas de ônibus, ‘se for preciso’

Secretário de Transportes também se comprometeu a não mudar nenhuma nova linha sem diálogo com a população e recebeu 'Prêmio Catraca' do Movimento Passe Livre

Secretário de Transportes, Jilmar Tatto, e representantes do Passe Livre debatem o tema em evento público

São Paulo – O secretário Municipal de Transportes da capital paulista, Jilmar Tatto, se comprometeu na noite de ontem (20) a receber comissões de moradores de regiões que tiveram alterações em linhas de ônibus, como extinção ou secção. Em resposta ao convite do Movimento Passe Livre (MPL), Tatto foi à frente do prédio da prefeitura de São Paulo, onde ouviu as reclamações de usuários de transporte. Cerca de 200 pessoas participavam do ato. “Vamos dialogar na próxima semana e ver o que é possível fazer. Se precisar voltar linha, vai voltar”, afirmou.

O secretário também assumiu o compromisso de não alterar mais nenhuma linha na cidade sem discutir com a comunidade afetada. “Eu peço desculpas por linhas que foram mudadas sem aviso”, declarou Tatto. Assessores anotaram dados dos presentes ao debate de ontem e as primeiras alterações discutidas serão as das linhas 577T Vila Gomes–Jardim Miriam, 3354 Jardim Colonial–Terminal Parque Dom Pedro e 3781 Cidade Tiradentes–Metrô Penha.

Até o momento foram alteradas cerca de 80 linhas na capital paulista. Destas, 45 foram na zona leste, afetada pelo descredenciamento da empresa Viação Itaquera Brasil, em outubro. Ela mantinha 24 linhas, com 288 ônibus.

O militante do Passe Livre Caio Martins reafirmou as críticas do movimento às alterações realizadas – de que aumentam tempo do trajeto, privilegiam empresários e deixam os coletivos mais lotados. “Esse modelo é ótimo para os empresários, porque eles ganham por giro da catraca. Se uma linha vira duas, os giros também. O que precisa mudar é a remuneração das empresas, para custo estrutural e não por passsageiro”, defendeu.

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Tatto reiterou que elas são parte de uma estratégia de longo prazo. “Estamos reordenando o que foi definido em 2002, na gestão da Marta Suplicy. Linhas que alimentem os corredores e outras que só circulem neles. A cidade é muito grande, são muitas linhas, se todos forem do bairro ao centro não há sustentação”.

O secretário criticou as gestões de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD) por não terem dado continuidade ao projeto iniciado por Marta. “Foram oito anos sem investimentos no transporte público”.

Tatto ainda anunciou que as concessões atuais devem ser prorrogadas por mais um ano e que uma auditoria das contas do sistema, pela auditora Ernst & Young, deve começar em março. “Existe dúvida sobre quanto ganham empresários e cooperativas. Além disso, o modelo de operação da nova licitação não está fechado. Tudo está em discussão”, disse, convidando os presentes ao debate e o MPL a participar das discussões do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, cuja eleição será no próximo sábado (22).

O Passe Livre já rechaçou um convite para participar do conselho em agosto do ano passado. Em nota, criticou o caráter consultivo do Conselho e a falta de condições de comportar a participação da população dos bairros mais periféricos.

Críticas

Durante mais de uma hora a população expressar sua insatisfação. A falta de comunicação sobre as mudanças incomodou tanto quanto a retirada das linhas. A professora Tabita Lopes, 30 anos, moradora de São Mateus, na zona leste, questionou o “sumiço” da linha que ia para o Terminal Parque Dom Pedro, no centro da cidade. “Porque não sentou para conversar com a população? Onde moro ninguém sabe porque foram feitas mudanças. Não houve nenhum benefício para nós”, protestou.

Ivanildo da Silva, morador da Cidade Tiradentes, na zona leste, afirmou que a demora aumentou e que está gastando mais dinheiro para ir e voltar do trabalho. “Ficou muito ruim parar no terminal Cidade Tiradentes. Demora mais. Até a integração do Bilhete Único tem vencido antes de a gente embarcar na última condução”.

A aposentada Edineia Ruivo, de 62 anos, moradora da Vila Gomes, na zona oeste, diz que o encerramento da linha que ligava o bairro ao Jardim Mirian, na zona sul, afetou bastante os muitos idosos que vivem na região. “Essa linha passava por muitos hospitais e a Vila Gomes é um bairro de pessoas idosas. Ficou um caos sem a linha. Tudo que fazemos tem de ser com duas conduções”, afirmou.

“Homenagem”

Ao final do evento, os militantes do MPL entregaram a Jilmar Tatto uma catraca de verdade, pintada de dourado, com a inscrição “1º Prêmio Catraca – Pelos excelentes serviços prestados aos empresários”. Sem conseguir esconder o constrangimento – minutos antes Tatto havia falado das dificuldades em organizar o transporte em 2002, quando ele e a prefeita Marta Suplicy teriam sofrido ameaças – o secretário foi embora sem levar a catraca.

Mayara Vivian, encarregada da homenagem, pressionou o secretário a atender os pedidos da população. “Devolva as linhas, secretário. Não faça ‘a louca’. Porque senão as pessoas vão fazer movimentos, queimar coisas e não vai ser legal”, afirmou.