ONU quer apoio do Brasil para pesquisa sobre novas Metas do Milênio

Diretora da Campanha do Milênio pede ajuda ao governo para que o país tenha participação expressiva na enquete que orientará adoção de novos objetivos em 2015

Corinne Woods, que esteve no Senado, espera que Dilma possa usar a abertura da Assembleia Geral da ONU para falar sobre as Metas do Milênio (Foto: Marcos Oliveira /Agência Senado)

Rio de Janeiro – A diretora da Campanha do Milênio da ONU, Corinne Woods, encerrou hoje (5) sua visita ao Brasil após passar quatro dias conversando com representantes de diversos segmentos da juventude brasileira e com integrantes do governo. A inglesa faz um balanço positivo dos encontros com jovens realizados em uma escola pública da favela do Borel, no Rio de Janeiro, e na Comissão de Direitos Humanos do Senado, em Brasília, e avisa que o Brasil – com doze mil votos – já é o segundo país em número de pessoas que responderam à enquete “Meu Mundo”. O resultado da consulta servirá de base às discussões sobre a segunda etapa de elaboração das Metas do Milênio, prevista para 2015. 

Corinne, que teve um longo encontro com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, decidiu cancelar a última etapa prevista em sua passagem pelo Brasil – uma conversa com jovens indígenas em Dourados (MS) – para intensificar os contatos com o governo brasileiro. Em Brasília, ela se encontrou também com o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, e com um representante enviado pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

“Eu preferi ficar em Brasília mais um dia e reforçar essa agenda junto ao governo brasileiro. Quis escutar a possibilidade de o governo brasileiro assumir e embarcar nessa ideia da pesquisa”, diz, em conversa por telefone, a caminho do aeroporto, no Rio, onde embarcaria para Nova York.

Segundo a enviada da ONU, são boas as perspectivas em relação à ajuda do governo brasileiro. “A ministra Maria do Rosário se mostrou muito interessada pela pesquisa e o Marcelo Neri também teve um posicionamento muito favorável, pensando em como utilizar essa pesquisa dentro das ações que eles já realizam no Ipea. A expectativa é estreitar a cooperação com o governo brasileiro para que tenhamos um número significativo de brasileiros participando da pesquisa”, diz Corinne.

“O que eu mais quero é que a presidente Dilma possa falar na abertura da Assembleia Geral da ONU com base em um número significativo de votos dos jovens brasileiros sobre as Metas do Milênio. Que ela possa dizer que as prioridades para o Brasil são esses e esses temas, mas que isso tenha o suporte de um número significativo de votos dos brasileiros”.

Educação e saúde

Segundo a ONU, a educação aparece como prioridade para todos os segmentos da juventude brasileira consultados na pesquisa até aqui. Entre as sugestões apresentadas para melhorar a qualidade do setor se incluem: fiscalização orçamentária; valorização da educação básica; capacitação de professores, aliada ao aumento de salário e redução de carga horária; escola em período integral e gratuita para todos; campanhas de incentivo à leitura; preservação da diversidade linguística e de identidades culturais no currículo escolar; implementação de ações de segurança e defesa civil nas escolas; e fortalecimento da gestão participativa.

Outro assunto que aparece com frequência entre os jovens brasileiros consultados na pesquisa é saúde. Segundo a ONU, os diversos grupos entrevistados sugerem que se trabalhe mais a área de saúde preventiva e que sejam realizadas melhorias na saúde pública (incluindo a saúde mental) e no saneamento básico. Foi também destacada a importância da promoção da transparência na gestão e o incentivo aos investimentos públicos no setor de saúde.

Borel e Brasília

A agenda de Corinne Woods no Brasil teve início na terça-feira (2), quando entrevistou jovens de diversas favelas cariocas em uma escola pública da comunidade do Borel, na zona norte do Rio de Janeiro. No dia seguinte, a diretora da Campanha do Milênio da ONU conversou com jovens mulheres durante o evento Empoderamento Meninas, que reuniu em um hotel do Rio cerca de 80 meninas entre 13 e 17 anos vindas de diversos estados brasileiros e de países como Chile, Uruguai e México.

Ontem (4), Corinne conversou com 42 adolescentes que estudam nas escolas públicas do Distrito Federal durante uma sessão especial da Comissão de Direitos Humanos do Senado: “Chegar ao Brasil e ver que o Senado está realizando audiências públicas para discutir essas questões é sinal de uma grande democracia, um sinal de que a democracia não vive apenas no dia em que se vota, mas em todos os dias”, disse, durante a sessão que contou com a presença de diversos senadores e deputados federais.