Desenvolvimento em foco

Pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica: desafios paulistas

É preciso articular instituições, sociedade e parlamentares em uma uma frente para debater e promover melhores políticas e ações, públicas e privadas, nesta área.

Pixabay
Pixabay

Neste artigo, síntese de nota técnica a ser publicada na Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Uscs) no início de 2023, tratamos da importância do aprofundamento das políticas para o fortalecimento da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) tecnológica no estado. Este é tema central para atores e instituições da economia do Estado. Mas também é de interesse da classe trabalhadora e dos segmentos de menor renda da população paulista.

De acordo com o IBGE, o estado de São Paulo representou 31,2% do PIB em 2020. Esta pujança é resultado histórico da capacidade do estado em posicionar-se no centro da dinâmica econômica em diferentes momentos da história.

  • Entre o final do século 19 e início do século 20 com a economia cafeeira;
  • De 1930 a 1980, com a indústria de transformação;
  • E de lá para cá com a economia de serviços, com destaque para o setor financeiro, TI e Comunicação.

Mas, com a globalização e o conjunto de mudanças estruturais que vieram juntas, São Paulo vem perdendo peso na economia nacional.

Neste sentido, o estado vive a necessidade de dar resposta a grandes desafios. Entre eles, revitalizar e modernizar seu parque industrial, combatendo a desindustrialização e incrementando a competitividade deste segmento. O ainda ampliar um agronegócio já de peso. E também estar na fronteira tecnológica das atividades de serviços. Especialmente os que envolvem elevados volumes de recursos e largas cadeias de negócios como são os casos da saúde, educação, finanças, marketing entre outros.

E tudo isto conectado com os desafios da geração de empregos, inclusão social e combate à pobreza. Neste ponto, vale registrar que um dos debates importantes é: em que medida as transformações tecnológicas podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento social. Tome-se o caso, por exemplo, do sistema financeiro.

Da desconstrução ao novo: recuperar o que foi destruído

As fintechs – que são as atuais empresas inovadoras do setor – podem propiciar de fato maior acesso das pessoas à abertura de contas, pagamentos, crédito, investimentos, entre outros itens? 

Para diversos estudiosos, além de incrementar a produtividade e a eficiencia dos serviços, a digitalização traz a possibilidade do aumento da inclusão social, mas isso requer que, em especial nos países emergentes, sejam enfrentados vários outros desafios, como a macroeconomia, a volatilidade política,  a informalidade e as situações de fraude e violência.

Posta esta breve digressão específica do setor financeiro, retomemos para notar que uma solução que perpassa estes desafios econômicos do Estado reside na construção de um grande programa de articulação de atores e instituições da área da P,D&I, reunindo governos, setor produtivo, universidades, startups, laboratórios, centros de pesquisa, parques tecnológicos, sindicatos patronais e de trabalhadores entre outros.

A maior densidade e articulação das instituições que compõem o ecossistema de inovação no Estado permitirá que os desafios da indústria, do agronegócio e dos serviços possam ter respostas inovadoras advindas da área de PD&I. 

Desafios da aproximação entre empresas e universidades no Grande ABC

Outro resultado dessa articulação, que deve ser posto até como meta, é a inclusão social, pois vários dos desafios sociais (habitação, alimentação, educação entre outros) podem ser objeto de soluções inovadoras sugeridas por estas instituições e empresas, sobretudo as startups.

Essas empresas, que utilizam intensamente as novas tecnologias digitais, representam, nos dias de hoje, uma fonte potencial de inovações. Isso porque desenvolvem soluções novas para produtos, processos e modelos de negócios. Além disso, as grandes empresas, ao implementarem inovação aberta, visando reduzir custos, veem as startups como um fator promotor de inovações.

O caso da Califórnia mostra a importância desta relação de parceria entre as grandes empresas e as startups para o encontro de novas soluções, redução de custos e incremento da competitividade.

O estado agrega mais de dois terços dos investimentos em PD&I no país. E aglutina um quarto das instituições de educação superior do Brasil, com várias universidades públicas e privadas de ponta, bem como diversas escolas técnicas.

No Brasil, mais de 30% das startups encontram-se no estado de São Paulo. Pesquisa da Fapesp/Seade mostrou a preponderância do estado em termos de inovação.

O Sistema Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) é composto por 64 instituições de pesquisa (40 públicas e 24 privadas sem fins lucrativos). Além disso, possui 73 instituições do ensino superior (19 públicas e 54 privadas). E também 12.831 empresas com atividades internas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).

São dezenas de parques tecnológicos e institutos de pesquisa nas áreas das Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências Exatas, Ciências Humanas, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, entre outras.

Retomada da indústria no país é um desafio que se junta à inclusão e integração regional

Apesar da enorme infraestrutura na área de PD&I do estado, bem como da existência de um grande contingente de recursos humanos qualificados, ainda há muito a avançar no campo das políticas públicas e privadas do estado. Existe, há décadas, uma quase completa desarticulação desta imensa infraestrutura e recursos humanos do Estado.

A articulação da PD&I permitirá:

  • Incrementar a competitividade regional e, assim, interromper a queda de participação do Estado de SP no PIB; atrair investimentos para o Estado de SP;
  • Integrar os diversos setores da economia do Estado (indústria; educação; saúde; finanças; agronegócios; comércio; construção civil, entre outras);
  • Combinar as ações do Estado de SP com as do Governo do Presidente Lula na área da P,D&I, que certamente será uma das prioridades do Governo;
  • Gerar empregos de qualidade.

É nossa intenção contribuir para esta articulação de instituições, atores e parlamentares, especialmente por meio da constituição de uma frente, reunindo sociedade civil e órgãos públicos, para promover o debate referente às melhores políticas e ações públicas e privadas nesta área.

A ação conjunta e coordenada possibilitará:

  • a) a interação com diversos setores da economia e da sociedade paulista, entre os quais: educação, saúde, finanças, comércio, indústria, agronegócios, construção civil, TI (tecnologia da informação) entre outros;
  • b) o diálogo com os interesses e vocações de todas as regiões e cidades do Estado de São Paulo;
  • c) a construção de políticas de apoio jovens empreendedores de base tecnológica, do tipo startups;
  • d)  encontro de soluções e políticas inovadoras na área da inclusão social, com o apoio da área de PD&I, favorecendo bairros e comunidades periféricas do Estado de São Paulo.

Ana Carolina Davanço é economista e mestra em Administração.
Luiz Cláudio Marcolino é economista, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e deputado estadual eleito em São Paulo.