Desenvolvimento em foco

Open startups e validação da inovação. Brasil é um ecossistema de ‘open innovation’ vibrante

Em 2022, ultrapassamos a marca de 7 mil corporações e 25 mil startups colaborando entre si em processos de inovação, totalizando cerca de 200 mil pessoas envolvidas com inovação no país

Pixabay
Pixabay

Na 24ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano (Uscs), recém-lançada, publiquei artigo sobre a inovação aberta, destacando a relação entre as corporações e as startups. A Carta pode ser obtida na íntegra aqui. Este artigo apresenta um resumo. A discussão sobre open innovation – ou inovação aberta, prática na qual corporações buscam parceiros externos, como startups, para colaborar em seus processos de inovação – chegou ao Brasil em 2008, quando o cunhador do termo, professor Henry Chesbrough (UC-Berkeley), foi convidado para a primeira edição da Open Innovation Week, em São Paulo.

Quase 15 anos depois, o que vemos no Brasil é um ecossistema de open innovation vibrante e ativo, com números e indicadores que servem de benchmarking internacional do tema. Em 2022, ultrapassamos a marca de 7 mil corporações e 25 mil startups colaborando entre si em processos de inovação, totalizando cerca de 200 mil pessoas envolvidas com inovação no país.

A curva para chegar aqui cresceu de forma exponencial. Segundo dados do Ranking 100 Open Startups – publicação anual que mede o volume e intensidade de open innovation com startups para premiar as corporações e startups líderes nessa prática -, apenas na edição 2022, registrou-se mais relacionamentos de open innovation com startups do que na soma de todos os anos anteriores, de 2016 a 2021. Foram 42.588 contratos registrados em apenas um ano.

Isso significa que a prática está mais forte e intensa no Brasil do que jamais esteve. Atingimos a chamada “massa crítica” e o efeito de rede – elementos que sustentam as métricas de inovação em ecossistemas maduros pelo mundo. Nos referimos à métrica da proporção 100-10-1, muito conhecida do venture capital, onde, a cada 100 startups que recebem apoio e investimento, 10 se tornam empresas relevantes e 1 se torna líder de categoria de mercado.

Confira outros artigos da série Desenvolvimento em Foco

Para a formação do Ranking 100 Open Startups, o critério de pontuação é exclusivamente o desempenho das startups no relacionamento com o mercado corporativo, ou seja, o número e a intensidade das relações de negócio estabelecidas com corporações. Além disso, o Ranking foca seu olhar em startups em fase inicial, ou seja, com faturamento e investimento menores do que US$ 2,5 milhões.

A esse critério de seleção por meio da “chancela do mercado corporativo”, ou seja, no qual as próprias corporações validam as soluções desenvolvidas e oferecidas pelas startups, chamamos de “método Open Startups”.

Olhando para o Ranking 100 Open Startups e seus resultados, o que mais impressiona não são os números atingidos pelo ecossistema, ou mesmo o crescimento exponencial da prática de open innovation ano a ano. O que de fato impressiona e merece destaque é a eficácia do método Open Startups para identificar boas startups no mercado, ainda em estágios iniciais, pré-Series A.

Para colocar em números, das 728 startups premiadas nas seis primeiras edições do Ranking 100 Open Startups, 82 já atingiram o status de scaleup, 4 captaram mais de R$500 milhões em investimento e 1 se tornou unicórnio, isso é, atingiu valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.

Somadas, essas 728 startups atraíram mais de R$ 2,3 bilhões em contratos com corporações para serem premiadas e receberam mais de R$ 9,6 bilhões em investimentos após a premiação. Historicamente, mais de 60% das startups premiadas no Ranking 100 Open Startups, selecionadas pelo método Open Startups, recebem aporte de fundos de venture capital, corporate venture capital ou M&A em até três anos após sua premiação.

Valorização

Voltando novamente o olhar para a edição mais recente do Ranking 100 Open Startups, publicada em outubro de 2022, na categoria Top Open Corps, foram premiadas corporações de 25 setores da economia. Segundo os dados levantados pelo Ranking, em um período de 12 meses – de julho de 2021 a junho de 2022 -, cada um desses setores movimentou, individualmente, volumes maiores do que a soma de todos os setores da primeira edição do Ranking, publicada em 2016.

Porém, mesmo considerando que as startups premiadas no Ranking apresentam, a cada ano, indicadores melhores do que as do ano anterior – tanto em número de negócios quanto de dinheiro movimentado -, quando olhamos para o primeiro grupo selecionado por esse método, ou seja, as TOP 100 Open Startups premiadas na primeira edição do Ranking, esse grupo atingiu uma valorização de mercado de 17 vezes – passando de R$500 milhões em 2016 para R$8,5 bilhões em 2022 -, e desse grupo saíram 13 scaleups e 1 unicórnio. Tudo isso em apenas 6 anos.

A valorização dessas 100 primeiras startups selecionadas pelo método Open Startups é o equivalente ao desempenho dos top 4% portfólios do Venture Capital norte-americano, o chamado “Quartil AA”.

Esses resultados comprovam a eficácia do método Open Startups na identificação de startups com alto potencial de crescimento, ainda em seus estágios iniciais de maturidade, resultando em uma ferramenta extremamente poderosa para investidores que buscam encontrar boas startups antes que essas atinjam valuations altos demais, e que muitas vezes não se sustentam na realidade do mercado, como se viu recentemente na crise do venture capital.

Nova economia

Mais do que isso, o crescimento significativo que as open startups têm apresentado impacta positivamente a sociedade e o mercado, movimentando recursos financeiros, impulsionando a inovação no país, atraindo talentos e gerando milhares de empregos. Ao mesmo tempo, essas soluções que emergem do ecossistema transformam e renovam os setores da economia tradicional, formando a chamada “Nova Economia”.

Para finalizar, gostaria de concluir o raciocínio apresentado lá no início desta nota técnica, sobre o momento atual do nosso ecossistema, para entendermos também o cenário que se pinta no futuro próximo.

Como vimos ao longo do texto, o ecossistema de open innovation do Brasil atingiu um grau de maturidade, massa crítica e efeito de rede, e hoje já é considerado um benchmarking internacional. Temos um cenário atual com milhares de corporações abertas ao ecossistema de startups, tornando-o extremamente dinâmico e vibrante.

Diante disso, os modelos lineares de open innovation, neste momento, não fazem mais o mesmo sentido que faziam pouco tempo atrás. Para avançar e produzir resultados, as corporações que estão liderando esses processos de inovação por meio da colaboração passaram a adotar modelos de Gestão de Ecossistemas.

Isso significa que o grande desafio no qual todas as corporações devem focar neste momento é desenvolver internamente, entre seus executivos, uma massa crítica capaz de identificar e capturar o valor que está sendo gerado pelo ecossistema e, para além disso, gerar valor junto com essas startups.

Em outras palavras, se cada uma das corporações que praticam open innovation for capaz de fazer uma boa gestão, junto ao ecossistema de startups que se formou em torno do seu setor de atuação, ela provavelmente terá excelentes resultados no próximo ano, pois o ecossistema, em si, já produz esse resultado.

A boa notícia é que o número de excelentes startups que batem às portas das corporações líderes deverá, mais uma vez, aumentar muito nos próximos 12 meses, como vem acontecendo ano após ano. A má notícia é que, caso a corporação não saiba capturar valor da inovação proposta, muitas outras saberão fazê-lo.

Bruno Rondani é fundador e CEO da 100 Open Startups. Engenheiro e mestre pela Unicamp e doutor pela FGV

Artigos desta seção não necessariamente expressam opinião da RBA