Angela Merkel: engolindo o xuxu…

François Hollande, o candidato socialista à presidência da França, podia bem ser apelidado de “picolé de xuxu”, embora de uma variante diversa da do governador de S. Paulo, Geraldo Alckmin. […]

François Hollande, o candidato socialista à presidência da França, podia bem ser apelidado de “picolé de xuxu”, embora de uma variante diversa da do governador de S. Paulo, Geraldo Alckmin.

É que Hollande tem fama de tímido, timorato mesmo em matéria de decisões, apagado em matéria de carisma. Se o segundo turno da eleição francesa fosse hoje, no entanto, ele seria eleito, batendo o atual presidente Nicolás Sarkozy por cerca de 10 pontos percentuais, segundo todos os institutos de pesquisa.

É que uma boa parte dos eleitores rejeita Sarkozy, seu estilo espalhafatoso, sua verve meio falastrã, de tudo querer fazer e dizer por conta própria. O eleitorado também olha com muito maus olhos os escândalos em que ele se envolveu, as medidas que tomou para, como muitos de seus colegas europeus, pulverizar direitos dos trabalhadores, aposentados e investimentos sociais.

Por seu turno, Hollande deu uma tímida guinada à esquerda, anunciando desejar controlar mais de perto o mundo financeiro e rever o pacto fiscal europeu que vai levando o poder aquisitivo de várias populações à ruína.

Por esse motivo, a chanceler Angela Merkel, campeã desse pacto, decidiu tempos atrás promover uma rejeição continental ao candidato socialista. Convenceu vários líderes conservadores a não recebê-lo, e ela mesma deu o exemplo, rejeitando um pedido de Hollande para uma entrevista tempos atrás. O primeiro ministro inglês, David Cameron, e o espanhol, Mariano Rajoy, aderiram a esse pacto de rejeição. Isso não impediu que Hollande fosse recebido, por exemplo, pelo presidente italiano.

Entretanto as algumas pedras se puseram no caminho de Merkel. A primeira delas foi o próprio Sarkozy. O apoio explícito de Merkel não lhe rendeu o crescimento desejado em montante de votos. por isso, enquanto apelava para o nacionalismo xenófobo francês para colher mais votos à direita, ele passou a rejeitar o apoio da chanceler, ou pelo menos a po-lo na geladeira.

Agora a segunda pedra veio das pesquisas: se Sarkozy cresceu um pouco nas intenções de voto no primeiro turno (a ser realizado em 22 de abril), continua perdendo fragorosamente no segundo (em 6 de maio). No atual quadro, a eleição de Hollande está deixando de ser uma possibilidade para ser uma probabilidade.

Por baixo do pano, segundo informações divulgadas na mídia (Der Spiegel), arautos da chanceler estão já fazendo contatos com emissários de Hollande. Ainda haverá muita milhagem a percorrer, porque um mês é muito tempo, e Sarkozy é um lutador obstinado. Mas a necessidade, se faz sapo pular, faz também palatáveis os xuxus. De todo e qualquer modo, o governo alemão terá de chegar a uma concertação com o da França, com Sarkozy (que tampouco é fácil) reeleito ou Hollande estreando seu mandato.

Mas o xuxu não está para ser engolido apenas pela direita. Este é um desafio também para a esquerda, aglutinada em torno da candidatura de Jean-Luc Mélenchon. Este comprometeu-se com um programa mais ousado, e de 6% chegou a quase 15% das intenções de voto. Mas está longe de ameraçar um segundo turno entre Sarkozy e Hollande.

Como os demais candidatos de direita, à exceção da empedernida Marine Le Pen, estão abrindo mão de suas candidaturas em favor da de Sarkozy, a atitude de Mélenchon num segundo turno poderá ser decisiva.  Uma parte de seu eleitorado certamente preferirá votar nulo. Sem uma disposição clara sua de apoiar Hollande, essa parte poderá inchar.

Isso sim poderia ameaçar a candidatura de Hollande, favorecendo o incansável presidente francês.