Italianos aguardam definição de novo primeiro-ministro
Após renúncia de Berlusconi, presidente realiza consultas para formar novo gabinete, que deve ser anunciado ainda neste domingo
Publicado 13/11/2011 - 16h10
Após queda de Berlusconi, presidente italiano tenta acelerar escolha do novo premier para aplacar tensão de especuladores (Foto: © Max Rossi/Reuters)
São Paulo – Diante da crise e cansados do governo de Silvio Berlusconi, os italianos mostram-se favoráveis à indicação do economista Mario Monti ao cargo de primeiro-ministro do país. Um dia depois da renúncia de “Il Cavaliere”, como Berlusconi é apelidado, 50% dos entrevistados em uma pesquisa de opinião divulgada neste domingo (13) apoiam a indicação do ex-comissário da União Europeia ao cargo.
O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, promove consultas formais aos líderes dos partidos do Parlamento. O processo é necessário para confirmar se o nome indicado terá apoio da maioria da Câmara dos Deputados. A expectativa é de que a etapa se cumpra ainda neste domingo, antes da abertura das bolsas de valores asiáticas, como a de Tóquio, no Japão, e de Hong Kong nesta segunda-feira (14).
A costura para levar Monti ao cargo começou com a nomeação como senador vitalício feita às pressas, na quarta-feira (9). Tudo para evitar a convocação de novas eleições e levar mais tensões ao mercado – o que significaria mais motivos a especuladores investirem contra títulos da dívida italiana e produzirem instabilidades sobre o futuro. Ainda de acordo com a pesquisa de opinião do Instituto Piepoli, 22% dos entrevitados defendem essa alternativa. O estudo foi realizado por telefone com 500 participantes. Apenas 24% dos ouvidos apoiavam Berlusconi.
Se confirmado, o economista de perfil ortodoxo irá optar por um governo com menos lideranças políticas como forma de ganhar a confiança de bancos e investidores em bolsas de valores europeias. A escolha de tecnocratas seria uma forma de mostrar a “austeridade” que dá nome à lei aprovada no sábado (12) e que abriu as portas para a saída de Berlusconi.
A aprovação do pacote de corte de despesas – 59,8 bilhões de euros até 2014 – de aumento de imposto, congelamento de salários e prorrogação da idade mínima para aposentadorias era a condição colocada pelo ex-primeiro-ministro para deixar o cargo. Isso porque, na semana passada, na votação do orçamento do próximo ano, o governo não conseguiu maioria dos votos na Câmara dos Deputados.
Mesmo algumas lideranças de centro-esquerda, opositores ao conservador Berlusconi, defendem Monti e o programa de contenção do déficit público – que provavelmente vai agravar a incapacidade da economia do país de alcançar taxas de crescimento importantes. Nos últimos 15 anos, a média de evolução do Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pela terceira maior economia da zona do euro, foi de 0,75% ao ano.
É o caso do ex-premiê italiano Romani Prodi. Ele comandou um governo de dois anos entre duas gestões de Berlusconi. Segundo Prodi, Monti é “o homem certo” para o cargo por ser “moderado” e conhecer o sistema financeiro internacional. Sobraram críticas ao adversário político: “Esse ataque especulativo contra os títulos da dívida italiana são em parte por causa de Berlusconi, não por causa da realidade”.
A Liga do Norte, partido de direita aliado do Povo da Liberdade (PdL), de Berlusconi, ameaçou abandonar o governo. As confirmações são esperadas para as próximas horas.
Se confirmado, seria o segundo país europeu em crise a conduzir ao poder figuras com passagens por órgãos da União Europeia. Na Grécia, depois de negociar um pacote de ajuda de outros países da zona do euro e o perdão de metade da dívida, o socialista George Papandreou deu lugar a Lucas Papademos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu.
Monti represenatou a Itália na Comissão Europeia por dois períodos, de 1995 a 2004, mas em setores diferentes. O primeiro mandato foi na área de combate a monopólios e concorrência desleal e o segundo em comércio e serviços. No período, foi apelidado de “Super Mário” por ter ganhado projeção em embates contra interesses de bancos alemães.
Além de significar uma opção por uma saída conservadora e liberal do ponto de vista econômico (menos intervenção na economia e prioridade no combate ao déficit fiscal), a aposta é de que o bom trânsito do senador vitalício com outros países da zona do euro ajudam a enfrentar a crise.
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