Manifestações contrárias assombram Obama no Rio

Rio de Janeiro – Programada para ser uma festa, a passagem de Barack Obama pelo Rio de Janeiro, antes mesmo de acontecer, já está marcada pelo enfrentamento entre as autoridades […]

Rio de Janeiro – Programada para ser uma festa, a passagem de Barack Obama pelo Rio de Janeiro, antes mesmo de acontecer, já está marcada pelo enfrentamento entre as autoridades públicas e os setores da sociedade que manifestam posição política contrária à visita do presidente dos Estados Unidos. 

Na noite de sexta-feira (18), esse enfrentamento chegou às ruas, durante um ato na porta do consulado dos Estados Unidos que terminou com um guarda ferido pelas chamas de um coquetel molotov e treze manifestantes presos. As reações contrárias a Obama também seriam a razão, segundo diversas fontes, do cancelamento do pronunciamento aberto ao público que ele faria domingo (20) na Cinelândia.

Não foi apresentada de forma oficial uma razão para o cancelamento do pronunciamento, mas pessoas da comitiva norte-americana que chegaram com antecedência ao Rio diziam em conversas reservadas que a desistência ocorreu simplesmente porque o evento na Cinelândia estaria “dando trabalho demais”. Outra versão dava conta de que agentes da CIA, o serviço de inteligência daquele país, haviam informado à Casa Branca sobre a impossibilidade de se garantir que não ocorreriam manifestações contrárias ao presidente.

Seja no primeiro ou no segundo caso, a falta de uma colaboração mais efetiva do governo brasileiro para a viabilização do evento na Cinelândia também não deixou de ser notada. “Em Brasília, o cancelamento do discurso aberto do Obama certamente não provocou uma única lágrima. Há quem ache que a agenda do presidente dos EUA tem muito espaço reservado para eventos de marketing pessoal e quase nenhum para reuniões de trabalho com o governo brasileiro”, disse um parlamentar carioca da base governista, que prefere manter seu nome em sigilo.

No consulado norte-americano, durante toda a sexta-feira circularam extraoficialmente diversas explicações para o cancelamento do ato público, passando por razões políticas (o iminente conflito na Líbia), sentimentais (respeito às vítimas no Japão) e até mesmo pouco plausíveis (estourou o orçamento previsto para a viagem presidencial). Em nota, a diplomacia dos EUA limitou-se a dizer que “devido a uma série de preocupações quanto à realização do evento ao ar-livre, decidimos que a melhor opção é realizar o discurso em um local fechado”. O lugar escolhido foi o Teatro Municipal, também localizado na Cinelândia.

Logo no começo do dia, o ex-prefeito Cesar Maia divulgou em seu ex-blog o conteúdo de um e-mail que recebera de “um delegado da área de inteligência” dando conta de que o ato público fora cancelado por temor das manifestações contrárias a Obama que estão sendo organizadas por algumas organizações dos movimentos sociais e partidos políticos. “Um grupo significativo de militantes foi sendo identificado por infiltração de quatro agentes. Levariam panos vermelhos, como lenços, ou mesmo camisetas vermelhas que seriam retiradas na hora, e outros sinalizadores de protesto. Distribuídos em grupos, ficariam como pólos espalhados no comício”, diz o delegado, identificado por Cesar pelas iniciais PRM.

O delegado, segundo o ex-prefeito, continua seu relato: “Num certo momento, ao meio do discurso, seria dado o sinal para que todos desfraldassem os panos e camisetas e cantassem, em uníssono, palavras de ordem contra o ‘imperialismo norte-americano’, ‘pró-palestinos’, ‘pró-Líbia’, e por aí vai. Tudo bem treinado como as torcidas de futebol. Simultaneamente, os celulares, smartphones e afins estariam gravando e transmitindo, ao vivo, para as redes sociais que multiplicariam as imagens e sons. Com isso, conseguiriam que a imprensa internacional multiplicasse com matérias do tipo: protestos contra Obama no Rio. Como a viagem de Obama ao Brasil tem como objetivo principal destacar a sua própria imagem, o comício aberto conspiraria no sentido contrário”.

 Enfrentamento

 Em todo caso, se a intenção do governo dos EUA era não chamar atenção sobre os descontentes com a visita de Obama, o tiro já começa a sair pela culatra, com a ajuda da polícia do Rio de Janeiro. Um ato convocado para o final da tarde de sexta-feira na Candelária e que contou com cerca de 250 militantes de sindicatos e partidos como PSTU, PSOL, PCB, PCdoB, PDT e PT descambou para o enfrentamento e a violência quando os manifestantes chegaram em frente ao consulado norte-americano.

Enquanto os manifestantes tentavam se aproximar do portão do consulado e eram contidos com mais veemência pelos policiais do 13º Batalhão da Polícia Militar, dois artefatos incendiários foram lançados. Um deles explodiu no asfalto, mas o segundo atingiu o vigilante do consulado Rodolfo Gomes Pereira, que sofreu queimaduras no braço e na barriga. Logo em seguida, os policiais partiram pra cima dos manifestantes com spray de pimenta, cassetetes e bombas de efeito moral, além de dispararem balas de borracha.

Ao final do confronto, treze manifestantes, um deles menor de idade, foram presos e levados à 5ª DP (Centro), onde passaram a noite. Na manhã deste sábado (19), o menor foi encaminhado à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, e os presos maiores foram transferidos para os presídios de Água Santa (homens) e Bangu (mulheres). Todos prestaram depoimento durante a madrugada e poderão ser indiciados por incêndio criminoso e lesão corporal.

A transferência dos manifestantes detidos para presídios pode acirrar ainda mais os ânimos dos militantes que pretendem realizar um ato contra a presença de Obama no Rio às 10h de domingo (20), com concentração no metrô da Glória. A intenção inicial da manifestação seria se deslocar até a Cinelândia. Com a mudança do discurso público de Obama para um discurso fechado no Teatro Municipal, os organizadores ainda estudam a melhor estratégia para o ato, de forma a evitar eventuais novos confrontos com a polícia.