Pesquisa inédita vai medir preocupação de compradores de carros com condições de trabalho

Metalúrgicos da CUT e dos Estados Unidos desejam aproveitar Salão do Automóvel para aproximar consumidores e trabalhadores responsáveis pela produção

São Paulo – A Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT) e o United Auto Workers (UAW), sindicato dos trabalhadores no setor automobilístico norte-americano, começaram hoje (24), no Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, uma pesquisa para saber se os compradores de carros se preocupam com as condições de trabalho nas montadoras. De acordo com Ginny Coughlin, representante da UAW, esta deve ser a primeira pesquisa com esta amplitude em torno do tema no mundo. “Nos não temos conhecimento de nenhum trabalho com este enfoque no segmento de automóveis no mundo todo. Há 20 anos foi realizada uma pesquisa semelhante nos Estados Unidos pela Universidade MaryMount, no setor têxtil, por conta de péssimas condições de trabalho neste segmento no país na época”, afirma. 

A CNM-CUT congrega 76 sindicatos e quatro federações, que representam cerca de 800 mil trabalhadores. O UAW é formado por mais 750 sindicatos que representam 390 mil trabalhadores da ativa e mais de 600 mil membros inativos nos Estados Unidos, Porto Rico e Canadá, e estabeleceu uma base no Brasil recentemente.

O levantamento será feito por trabalhadores das empresas Ford, Scania, Mercedes-Benz e Volkswagen durante a realização do Salão Internacional do Automóvel, que começou hoje e vai até 4 de novembro no Pavilhão de Exposição do Anhembi, na capital paulista. Com o lema “por trás de toda grande empresa existe um grande trabalhador” a realização da pesquisa faz parte de uma campanha conjunta da CNM-CUT e UAW no estande no evento. 

Segundo o secretário-geral e de Relações Internacionais da CNM-CUT, João Cayres, a intenção, além de estimular nos consumidores a importância de conhecer e acompanhar o processo produtivo no setor automotivo brasileiro, é colocar o público do salão, que é formado, na maioria, por aficcionados por carros, em contato com os trabalhadores que fazem os veículos. “Para os trabalhadores também é interessante, já que muitos deles nunca visitaram o salão antes”, afirma. Segundo ele, entre os objetivos da pesquisa está o levantamento de dados por parte da CNM-CUT e o UAW sobre a influência das condições de trabalho nas montadoras na decisão dos consumidores em escolher um modelo de carro nas concessionárias.

O questionário será aplicado pelos próprios trabalhadores durante o evento em São Paulo (Arte: Júlia Lima)

Para Cayres, o crescimento da indústria automobilística brasileira nos últimos dez anos tem sido muito positivo para as empresas, mas para os trabalhadores os novos polos produtivos oferecem pisos salariais cada vez menores e piores condições de trabalho. “A pesquisa pode servir como um indicativo para campanhas de conscientização dos consumidores de carros sobre as condições de trabalho nas fábricas”, afirma. 

Para Cayres, a preocupação dos consumidores com os processos produtivos da indústria está cada vez mais aguçada, principalmente em aspectos como uso de recursos naturais, danos ao meio ambiente, responsabilidade social, trabalho infantil e trabalho escravo. “Os casos de crimes e abusos a este respeito por parte da indústria ganham cada vez mais visibilidade na imprensa, principalmente nas novas mídias na internet e em redes sociais e causam grandes reflexos para as empresas”, afirma. Segundo ele, as empresas, por seu lado, procuram cada vez mais diminuir custos de produção, aumentar os lucros e expandir suas unidades produtivas de acordo com os custos de mão de obra e recursos naturais, e isso tem reflexo direto na piora das condições de trabalho.

Quarto maior mercado consumidor de veículos no mundo e sétimo maior produtor de automóveis, segundo levantamentos de 2011, o Brasil é apontado pela representante da UAW como uma das maiores referências para a indústria automobilística mundial e a realização desta pesquisa inédita reflete os rumos do setor e suas implicações nas condições de trabalho nos fábricas de carros.

“Não há como não considerar o Brasil no cenário futuro da indústria automobilística mundial”, diz Ginny. Para ela, esse crescimento tem reflexo direto nas condições de trabalho. Nos Estados Unidos, que é o segundo maior produtor mundial de veículos, o índice de sindicalização dos trabalhadores na indústria automobilística tem diminuído desde a década de 1950 por conta de pressões cada vez maiores das empresas. Segundo Ginny, os índices de sindicalizados era de 35% a 40% nos anos 1950 e atualmente não passa de 11%. De acordo com Cayres, o resultado da pesquisa será divulgado para a imprensa e também será apresentado em dezembro em Genebra durante encontro do IndustriAll Global Union, sindicato global criado este ano.