Em dia decisivo, trabalhadores da Ford do ABC fazem assembleia
Na manhã desta terça, metalúrgicos farão relato da reunião realizada na semana passada nos Estados Unidos
Publicado 11/03/2019 - 16h54
Passeata pelo centro de São Bernardo, na semana passada: metalúrgicos aguardam relato sobre reunião nos EUA
São Paulo – Os trabalhadores na Ford de São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, fazem assembleia nesta terça-feira (12) a partir das 7h, na entrada do turno, e saberão detalhes da reunião realizada na semana passada nos Estados Unidos, que discutiu o futuro da fábrica, ameaçada de fechamento ainda este ano. Representantes dos metalúrgicos conversaram com a direção mundial da montadora, que comanda um processo de reestruturação global e deve priorizar a produção de SUVs e picapes. A portaria onde será realizada a assembleia teve de ser alterada em função da chuva.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Ford não divulgaram detalhes do encontro realizado na última quinta-feira (7) em Dearborn, onde fica a sede da empresa. Desde que o anúncio do fechamento foi feito, os trabalhadores vêm realizando manifestações, como passeatas por São Bernardo, além de reuniões com autoridades – o prefeito Orlando Morando, o governador João Doria e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
Na semana passada, o governo paulista lançou um programa de incentivos para a indústria automobilística, que prevê desconto de até 25% no ICMS para empresas que anunciarem planos de investimento, com valores mínimos – pelo menos R$ 1 bilhão –, inclusive de criação de postos de trabalho (400, no mínimo). “É uma iniciativa importante”, disse à Rádio Brasil Atual o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, com a ponderação que qualquer política governamental nesse sentido deve ser acompanhada de estratégias de desenvolvimento produtivo e social.
Com a crise da Ford – e também, recentemente, da General Motors –, Clemente observa a retomada de um debate sobre políticas industriais. Ele destaca os “impactos severos” que um eventual fechamento pode ter em toda a economia e na sociedade. E lembra que várias empresas recebem incentivos fiscais, “que muitas vezes não são considerados num momento como este”.
Com 4.330 funcionários, entre diretos e terceirizados, a fábrica de São Bernardo é a mais antiga da Ford em atividade no país. Começou a funcionar em 1967, comprada da Willys-Overland. Produz um modelo de automóvel (New Fiesta Hatch) e caminhões, cuja produção foi transferida do Ipiranga, em São Paulo, em 2001. Ali já foram fabricados modelos como Corcel, Maverick, Del Rey, Escort e Ka. Hoje, os operários trabalham nas duas linhas de produção.
A notícia sobre a Ford provoca impacto em uma ampla rede de fornecedores, que se preocupam com o futuro de suas próprias atividades. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, no interior paulista, a empresa Dana já informou que reduzirá a produção, em até 30%, conforme o setor. A indústria pode, inclusive pedir ressarcimento à montadora pelo investimento feito na fábrica para atender à demanda. Outras empresas da base, como Metalac e Bosch, apontaram efeitos diretos com a decisão da Ford. Mas, no segundo caso, a empresa diz ver “oportunidades de intensificação do relacionamento com outros clientes”.
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