‘Cidades Digitais’ de São Paulo patinam na falta de infraestrutura e de recursos

Programa do governo do estado alcança apenas 3% dos municípios paulistas. Nestes, só 2% tem acesso a sinal aberto da internet

São Paulo – O livre acesso à internet de qualidade ainda encontra muitos obstáculos para se firmar como alternativa real à democratização das comunicações no estado de São Paulo. Apenas 14 dos 645 municípios paulistas, ou 2%, integram o programa “Cidades Digitais”, do governo Geraldo Alckmin (PSDB), cujo objetivo é levar sinal aberto, com tecnologia Wi-Fi, à população.

Dez deles entraram para o programa na semana passada. Os outros quatro (Iacanga, São João da Boa Vista, Parapuã e Tapiratiba), embora ofereçam o serviço desde 2009, não conseguem ir além do atendimento localizado nem investir em sinal de alta velocidade.

Os quatro, juntos, somam 113 mil habitantes, mas o sinal livre chega a apenas 2.550 pessoas.

A Rede Brasil Atual entrevistou responsáveis pelos programas nas primeiras cidades contempladas. Eles foram unânimes em afirmar que ainda existem muitos entraves para a expansão do serviço. O principal deles é o custo de equipamentos e do próprio sinal oferecido pelas operadoras privadas, que, principalmente em cidades pequenas, costumam monopolizar a oferta.

Estes custos têm de ser cobertos majoritariamente pelas cidades. Elas recebem do governo do estado, a partir do convênio, apenas uma verba para a instalação do projeto. No caso das primeiras cidades, essa ajuda variou de R$ 65 mil a R$ 250 mil. As que entraram recentemente no programa, receberão R$ 100 mil cada. As informações são da Secretaria de Gestão Pública do governo do estado, que coordena o programa.

Além dos custos de manutenção com links e equipamentos, os municípios enfrentam também a falta de infraestrutura adequada às novas tecnologias.

É o que diz Rodrigo Atanásio, coordenador da área de Tecnologia da Informação de Iacanga. “Precisa melhorar a infraestrutura no estado de São Paulo como um todo. As pequenas cidades são as que mais precisam disso. Aqui, por exemplo, não foram feitos investimentos para novas tecnologias, como a 3G, a fibra óptica e o WiMax, fundamentais para uma oferta de qualidade.”

Atanásio diz existir também obstáculos na oferta de serviços na região. “Não podemos licitar preços porque somente uma empresa, a Vivo, nos atende no município. Isso restringe qualquer plano de expansão, visto que ela, sozinha, controla o setor em nosso município”, diz.

Luiz Carlos Zambon, gerente de Tecnologia da Informação da prefeitura de São João da Boa Vista, reclama do número limitado de empresas que fornecem equipamentos para o recebimento da internet gratuita. “Os que vendem esses materiais acabam cobrando caro por serem os únicos”, acrescenta.

De acordo com o diretor de Administração do município de Parapuã, Cléber Marengoni Bononi, os limites precisam ser reavaliados. Para ele, o principal problema está na velocidade do link.

“O estado de São Paulo poderia possibilitar uma conexão mais rápida e repensar o investimento porque o gasto com os links das concessionárias de telefonia são muito altos para as cidades pequenas”. Para ele, o intuito do programa, de dar opção ao cidadão de ingressar na era digital, acaba resultando em efeitos negativos. “Nossa conexão é de 200 Kbps por usuário, sendo que o ideal seriam pelo menos 1.000 Kbps, o equivalente a um mega”, afirma.

Para José Oswaldo Pedrosa, coordenador de comunicações de Tapiratiba, ainda que se considere as vantagens da internet via Wi-Fi, muitos cuidados precisam ser tomados antes de se estruturar qualquer ação nesse sentido.

“É preciso garantir um serviço de qualidade aos munícipes, avaliando as limitações que o programa tem e até onde o governo pode de  fato nos apoiar. Ainda, é importante criar uma maneira de integrar ao programa a formação da população local, que, em sua maioria, ainda não domina a linguagem digital, mesmo nos dias atuais.”