crise

Trabalhadores do Samu em São Paulo entram em greve na próxima segunda-feira

Socorristas prometem manter atendimento de casos graves e ressaltam que objetivo é impedir que o programa seja desmontado pela gestão do prefeito Bruno Covas

Sindsep

Trabalhadores do Samu denunciam que reorganização da gestão Covas vai piorar o atendimento à população

São Paulo – Os trabalhadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital paulista decidiram entrar em greve a partir do meio-dia da próxima segunda-feira (1º). Sem conseguir negociar a reorganização do serviço com a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), que não recebe os trabalhadores e não compareceu à reunião para discutir a medida na Comissão de Saúde da Câmara Municipal, na última quarta-feira (27), os socorristas dizem não ter mais alternativas. “O que está sendo imposto nesse novo modelo é um aumento de postos com redução de equipes. Toda base tinha de duas a três equipes. Hoje temos de uma a duas equipes por local. Se faltar um membro, a ambulância não roda. E isso vai prejudicar a população”, explicou a socorrista Glaucia Fernandes.

A decisão foi tomada em assembleia organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep) e realizada em frente à prefeitura, na quarta-feira (27). “Com esse desmonte, a prefeitura e a administração do Samu estão assumindo o risco de aumentar o tempo resposta das ocorrências e, com isso, também assumem o risco de aumentar as contaminações e mortes nos atendimentos realizados. De forma alguma os trabalhadores querem causar problemas à população. Os atendimentos de emergência vão continuar durante a paralisação, mas focados nos casos de maior complexidade, de mais urgência”, explicou Glaucia.

A principal preocupação dos trabalhadores é que a reorganização leve a um aumento no número de mortes. “A cada minuto nós perdemos 10% de chance de salvar uma vida em uma ocorrência grave. Após 10 minutos, a chance de salvar uma pessoa infartada é zero. A prefeitura chama de reorganização, mas é um desmonte”, disse o diretor de comunicação do Sindicato dos Médicos do Estado, Gerson Salvador, na reunião da Comissão de Saúde. Convidados, o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, e o diretor do Samu, Marcelo Takano, não compareceram.

Representante dos trabalhadores do Samu na reunião, Alexandre Yague ressaltou que a redistribuição das equipes vai impedir que os socorristas atuem no atendimento ao paciente antes de chegar ao hospital. “Hoje a equipe de suporte básico é composta por enfermeiro, auxiliar de enfermagem e motorista. O enfermeiro pode prescrever medicamentos conforme os protocolos de saúde. Mas a reorganização deixa equipes só com auxiliar de enfermagem. Isso acaba com o cuidado no caminho. Aí não precisa de Samu. Qualquer um põe em um carro e leva pro hospital”, criticou.

A gestão Covas (PSDB) determinou o fechamento de 31 bases do Samu e transferiu as equipes para unidades de saúde municipais. A proposta da gestão é ampliar de 55 para 71 os pontos de assistência do serviço. Porém, 26 dos novos locais só funcionam em dias úteis, durante o dia, o que pode limitar o período de atuação das equipes médicas. São Unidades Básicas de Saúde (UBS), de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e Centros de Atenção Psicossocial (Caps) que funcionam das 7h às 19h. A medida visa economizar R$ 5 milhões por ano com o aluguel das bases modelares.

A nova escala de atuação do Samu revela que a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) não está colocando todas as ambulâncias à disposição da população 24 horas por dia. Algumas bases operam com um veículo durante o dia e outro veículo durante a noite, reduzindo o número de carros em operação de 122 para aproximadamente 80 por turno, segundo os trabalhadores. Os profissionais também reclamam que o processo de reorganização os retirou das bases descentralizadas e colocou em locais que não têm condições de trabalho adequado. Faltam banheiros para higienização de equipamentos e dos próprios socorristas, que nas ocorrências muitas vezes lidam com sangue, vômito e fezes.

A nova distribuição geográfica das unidades não muda muito a área de cobertura das ambulâncias, mas deixará algumas áreas mais descobertas. Haverá mais veículos ao longo do trajeto da avenida Marginal Pinheiros (aumentando de seis para 11) e na subprefeitura da Sé (de quatro para oito). A região de Marsilac, no extremo sul da cidade, deixará de ter uma base, e, no extremo norte da cidade, em Perus, Anhanguera, Jaçanã, Brasilândia e Cachoeirinha, nada muda. O Grajaú passa a contar com três bases, mas todas relativamente próximas da base atual. A região do Jabaquara passa a ter três bases, e o Sacomã fica vazio.

 

Leia também

Últimas notícias