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Reorganização do Samu em São Paulo pode levar a mais mortes, dizem trabalhadores

Socorristas ressaltam que não houve estudo para definir novos locais de bases do serviço e que tempo de resposta a chamados tende a aumentar

rba

Reunião na Câmara: ‘Prefeitura chama de reorganização, mas é um desmonte’, disse o representante dos médicos

São Paulo – Trabalhadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e representantes sindicais relataram nesta quarta-feira (27), aos vereadores paulistanos, a preocupação de que a reorganização do serviço na capital paulista, proposta pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), leve a um aumento no número de mortes em decorrência da elevação do tempo de resposta a chamados. “A cada minuto nós perdemos 10% de chance de salvar uma vida em uma ocorrência grave. Após 10 minutos, a chance de salvar uma pessoa infartada é zero. A prefeitura chama de reorganização, mas é um desmonte”, disse o diretor de comunicação do Sindicato dos Médicos do Estado, Gerson Salvador.

O médico lembrou que, em 2016, o Ministério Público Estadual cobrou que a prefeitura contratasse mais servidores para atuar no serviço e que o governo estadual fizesse o repasse de verbas destinadas ao Samu. Passados três anos, nada foi feito. “E agora a gestão quer aumentar o número de bases, sem contratar mais trabalhadores. Colocando as equipes em espaços de dois metros quadrados, sem condições adequadas de higiene, em locais insalubres”, afirmou Salvador. Os relatos foram feitos em reunião da Comissão de Saúde.

Representante dos trabalhadores do Samu, Alexandre Yague ressaltou que somente a prefeitura diz que a reorganização será boa para a população. E não apresentou um único estudo que comprove a afirmação. “Temos aqui os trabalhadores do Samu, o sindicato dos médicos, o sindicato dos servidores municipais, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), todos dizendo não à reorganização. Alguma coisa está errada. Não existe estudo para reorganização. Avaliamos que o tempo de resposta vai aumentar e o atendimento vai ficar ineficaz”, afirmou.

Yague disse que a redistribuição das equipes vai impedir que os socorristas atuem no atendimento ao paciente antes de chegar ao hospital. “Hoje a equipe de suporte básico é composta por enfermeiro, auxiliar de enfermagem e motorista. O enfermeiro pode prescrever medicamentos conforme os protocolos de saúde. Mas a reorganização deixa equipes só com auxiliar de enfermagem. Isso acaba com o cuidado no caminho. Aí não precisa de Samu. Qualquer um põe em um carro e leva pro hospital”, criticou.

Para a reunião de hoje na comissão haviam sido convidados o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, e o diretor do Samu, Marcelo Takano. Porém, após confirmar presença, ambos alegaram compromissos de última hora e não foram à reunião. A vereadora Juliana Cardoso (PT) lamentou a postura da gestão Covas. “Havia um compromisso de vir discutir a reorganização. É muito estranha essa postura de quem diz que está fazendo o melhor para a população.”

“Isso só mostra o descompromisso dessa gestão com os trabalhadores. E quem não tem compromisso com aqueles que atendem e salvam vidas, também não tem com a população”, declarou a diretora do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep) Lourdes Estevão.

Ela lembrou que nenhum trabalhador ou entidade representativa foi chamada a participar da reorganização do Samu. E que os locais onde os socorristas serão alocados são desumanos. “Visitamos a base do Hospital Municipal do Campo Limpo. Não tem condições. É um espaço minúsculo, dividido com outra equipe da unidade, não tem chuveiro, nem um banheiro adequado. O trabalhador da emergência volta cheio de sangue, de vômito, de urina. E não vai poder se limpar para manter a própria saúde e a saúde do próximo paciente”, disse Lourdes.

A gestão Covas (PSDB) determinou o fechamento de 31 bases do Samu e transferiu as equipes para unidades de saúde municipais. A proposta da gestão é ampliar de 55 para 71 os pontos de assistência do serviço. Porém, 26 dos novos locais só funcionam em dias úteis, durante o dia, o que pode limitar o período de atuação das equipes médicas. São Unidades Básicas de Saúde (UBS), de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e Centros de Atenção Psicossocial (Caps) que funcionam das 7h às 19h. A medida visa economizar R$ 5 milhões por ano com o aluguel das bases modelares.

A nova distribuição geográfica das unidades não muda muito a área de cobertura das ambulâncias, mas deixará algumas áreas mais descobertas. Haverá mais veículos ao longo do trajeto da avenida Marginal Pinheiros (aumentando de seis para onze) e na subprefeitura da Sé (de quatro para oito). A região de Marsilac, no extremo sul da cidade, deixará de ter uma base, e, no extremo norte da cidade, em Perus, Anhanguera, Jaçanã, Brasilândia e Cachoeirinha, nada muda. O Grajaú passa a contar com três bases, mas todas relativamente próximas da base atual. A região do Jabaquara passa a ter três bases, e o Sacomã fica vazio.

 

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